Discursos políticos e disputa hegemônica
Mais que uma análise objetiva das propostas, queremos dar destaque aos componentes estratégicos e emocionais que as candidaturas promovem em sua prática discursiva. A imprecisão e o apelo emocional ou moral das práticas discursivas, que poderiam ser criticados do ponto de vista racional dos programas, passam a ter sentido como mecanismos estratégicos de interpretação da sociedade e seus sujeitos
A dimensão do “político” procura reconstruir tanto a sociedade na qual vivemos quanto seus próprios sujeitos. No olhar de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe,1 a luta política é sempre uma confrontação entre diferentes práticas e projetos hegemônicos antagônicos. O antagonismo é inerente ao político, e as questões políticas sempre envolvem escolhas entre alternativas muitas vezes opostas sobre a sociedade. Ao mesmo tempo, no mundo de hoje há uma pluralidade de posições ocupadas pelos sujeitos. Suas identidades sociais são múltiplas, descentradas e deslocadas: estão em processo de reconstrução e abertas a diferentes articulações, sempre parciais e não definitivas. O discurso político tem a virtude, e o poder, de articular essas identidades múltiplas e contingentes dos sujeitos. O discurso político entendido como um conjunto articulado de marcos de interpretação da realidade funciona estruturando pensamento, fala e ações individuais e coletivas. Assim, a prática discursiva política – que inclui falas, textos, performances e…