É possível perdoar 1973?
A celebração do quinquagésimo aniversário do golpe de 1973 no Chile traz novamente à discussão a ideia do perdão enquanto categoria moral que, quando aplicada à política, carrega conotações e efeitos que vão muito além do âmbito interpessoal e voluntário
Perdoar em seu sentido político está relacionado a anistiar, esquecer, desculpar, e até mesmo legitimar e reintegrar à vida pública. A virtude moral do perdão adquire efeitos complexos quando ultrapassa o âmbito das relações recíprocas entre quem executa um ato de perdão e quem recebe o extraordinário dom do perdão. O que vale no âmbito inteiramente privado do mundo da vida não é equivalente no âmbito das instituições, marcado pelo imperativo legal e seus efeitos sistêmicos, intergeracionais e coercitivos. Perdoar 1973 implica esclarecer o que perdoar, a quem e por quê. Essa é a exploração proposta por este artigo. O que perdoar? O golpismo é a primeira dimensão do que aconteceu há cinquenta anos, e o que deve ser analisado é se é possível perdoar de maneira cívica e democrática. O golpe de 1973 não é só um acontecimento de um dia. Não se trata apenas do 11 de…