Em Santiago do Chile, o inferno dos transportes
Depois do fogo, às vezes é difícil identificar a faísca que incendiou o campo. No Chile, porém, a brasa tem a cara de um bilhete de metrô da capital, Santiago: aquele cujo preço subiu bruscamente em 2019, causando uma enorme onda de protestos que desembocaram em transformações políticas inimagináveis alguns anos antes
As entranhas de Santiago do Chile ressoam com um gemido selvagem, como se marcassem um ritmo. É o metrô. A 32 metros de profundidade, sob uma luz branca e um cheiro de borracha queimada, sapatos envernizados, tênis de marca e sandálias coloridas marcham sobre os ladrilhos cinzentos da estação Baquedano, ziguezagueando entre as colunas de concreto armado. É hora do rush. Todos seguem na direção do distrito financeiro, que fica na zona nordeste da Grande Santiago. Na superfície, sob o zumbido dos motores, ciclistas e pedestres passam, indiferentes, em frente à saída principal do metrô condenada desde o levante de outubro de 2019.1 6h45. Comuna de Cerro Navia, na zona oeste da área metropolitana de Santiago. Erika Molina, de 54 anos, espera um hipotético ônibus. Ela não vai pegar o metrô. “Vou para muito longe. Além disso, eu nem sei se ia conseguir sentar lá”, explica. Como toda manhã, seu…