Entre trolls, robôs e ativadores: as eleições na internet
A força do poder econômico que havia sido atenuada nas redes digitais está se recompondo na verticalidade e nos controles das redes sociais. Nestas eleições, veremos embates entre diversas redes de opinião, e a principal disputa pelo voto do eleitor se dará nas redes sociais controladas por grupos privadosSérgio Amadeu da Silveira
Entre as principais mudanças dos últimos dois anos na internet, certamente duas tendem a ter um grande impacto nas eleições de 2014: o crescente acesso à rede por meio de aparelhos móveis e o peso decisivo adquirido pelo Facebook como plataforma maciça de debates públicos. A explosão do acesso às redes digitais pelos celulares aumenta a relevância e o uso político de aplicativos de comunicação como WhatsApp e Instagram, bem como amplia a instantaneidade da comunicação. O fato de 77% dos brasileiros conectados utilizarem frequentemente as redes sociais, das quais a mais acessada é o Facebook, traz novos desafios para as campanhas eleitorais.
A elevação da renda da população mais pobre, o barateamento do custo dos computadores e dos aparelhos celulares multimídia e a ampliação de locais de acesso gratuito à internet contribuíram para aumentar a presença dos brasileiros nas redes digitais. Apesar do elevado custo da conexão no Brasil, a pesquisa TIC Domicílios e Usuários 2013, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostra que 58% dos brasileiros já acessaram pelo menos uma vez a internet. Levando em conta somente o ambiente urbano, o número de conectados sobe para 63% da população. Nas áreas rurais, somente 30% já navegaram pela rede mundial de computadores.
Nas camadas mais jovens da sociedade, o uso da internet aumenta expressivamente. Na faixa de brasileiros com idade entre 16 e 24 anos, já atingimos 87% de pessoas que acessaram as redes pelo menos uma vez. Entre 25 e 34 anos, os que já se conectaram somam 75% da população. Somente após a faixa de pessoas entre 45 e 59 anos o percentual daqueles que tiveram acesso (38%) é inferior aos que nunca acessaram as redes (62%). Apesar do crescimento dos conectados, a barreira da inclusão digital existe e é nitidamente socioeconômica. Apenas 32% dos brasileiros com rendimentos de até um salário mínimo já utilizaram a internet, contra 92% no segmento com renda superior a dez mínimos. Todavia, as políticas distributivas do governo Lula e as ações de barateamento dos computadores resultaram no acesso à internet de 62% das pessoas que ganham entre dois e três salários mínimos.
O mais curioso é perceber que os indicadores de uso da internet pelos mais jovens são muito semelhantes aos dos mais pobres. No segmento dos conectados de 10 a 15 anos, 78% utilizam redes sociais e somente 49% possuem e-mail. Observe que, entre os brasileiros com acesso a internet que recebem até um salário mínimo, 74% estão nas redes sociais e apenas 47% usam e-mails. Os percentuais se assemelham muito. Fenômenos como o funk ostentação, os rolezinhos e as páginas das comunidades de periferia podem ser analisados pela crescente presença dos jovens de periferia nas redes sociais. As barreiras de entrada para produzir e disseminar conteúdos caíram com o crescimento da internet.
Mais da metade dos brasileiros conectados (56%) tem o costume de assistir a vídeos on-line, em sites como YouTube e Vimeo. Jogos on-line são praticados por 43% das pessoas, sendo 56% destas do segmento com rendimento até um salário mínimo e apenas 36% daquelas que possuem renda superior a dez salários mínimos. Um dado expressivo que poderá gerar novas implicações nas disputas eleitorais é o fato de 21% dos brasileiros que estão na internet afirmarem acompanhar transmissões de áudio ou vídeo em tempo real (streaming). Esse percentual já é maior do que o número de conectados que afirmam utilizar microblogs, como o Twitter (18%). O segmento que mais acompanha streaming nas redes é o dos jovens de 16 a 24 anos: 25% – ou um em cada quatro jovens conectados – têm essa prática. Na divisão de renda, enquanto apenas 13% dos que recebem até um salário mínimo têm o costume de ver transmissões em tempo real, 42% dos que recebem mais de dez salários assistem a vídeos on-line, em tempo real.
Esses números conformam uma tendência de importância crescente da internet como ambiente de grandes embates político-eleitorais. Os candidatos irão aonde estão seus possíveis eleitores. Estes cada vez mais podem ser encontrados nas redes sociais, na navegação entre os portais e nos sites de entretenimento, enfim, no ciberespaço. Seria um equívoco desconsiderar as redes, mesmo que os marketeiros, criados e crescidos na escola do broadcasting, não saibam bem como utilizá-las. A maior dificuldade daqueles que pensam a rede para a publicidade política é tentar medir e isolar seu impacto na decisão dos eleitores. Há uma série de certezas sobre a TV, entre elas, de que boas inserções podem mudar o rumo de uma campanha. No caso da internet, ninguém sabe efetivamente quais são as implicações no voto do eleitor de centenas de memes, cada um deles com milhares de compartilhamentos.
O problema das métricas de ação e das métricas de opinião
As redes digitais permitem saber exatamente quantas pessoas visitaram uma página, o horário de cada visita, quanto tempo cada visitante permaneceu em cada canal de um site, entre outras informações. Essas características cibernéticas, simultaneamente de comunicação e de controle, permitem captar com precisão como se formam as audiências na internet, que é uma rede distribuída. Entretanto, ao contrário de uma pesquisa de opinião, na qual o pesquisador faz perguntas ao entrevistado, em uma rede social só conseguimos captar e medir a ação da pessoa conectada, e não sua intenção. Por exemplo, se o cidadão escrever um post no Facebook, o analista de redes sociais poderá ler e classificar aquela postagem como negativa, neutra ou positiva, em relação ao seu candidato. O analista até poderá saber quantas pessoas provavelmente visualizaram o post, mas somente conseguirá medir o efeito observando aqueles que deixaram um comentário, compartilharam a mensagem ou curtiram aquilo. Repare que a minoria dos eleitores presentes nas redes sociais deixa seus cliques na forma de curtir ou compartilhar. Um número menor ainda realiza comentários.
Aranhas e robôs, ou seja, softwares de rastreamento das redes, podem capturar palavras publicadas, hashtags e seguir as publicações de milhares de perfis. Novamente, será obtido e analisado algum movimento feito na rede, e não a opinião de quem tem a prática de ver e não comentar nada sobre produtos ou sobre a política. Consciente do problema das métricas, o Facebook criou mecanismos que encantaram os publicitários: o like, ou as curtidas, o compartilhamento e o chamado engajamento em torno das páginas criadas na rede social. Muitos medem o sucesso de uma campanha peloslikesque um meme ou uma página obtiveram. Obviamente, o compartilhamento de um post é um ato mais forte do que o de curtir. Quem compartilha traz a postagem para sua própria página, ficando nítida para seus amigos e seguidores a adesão àquela mensagem. O problema está na constatação de que uma minoria da rede social curte ou compartilha.
A métrica da internet, a métrica daquele que se movimenta, daquele que age, confunde os analistas que dizem que o que ocorre nas redes é diferente do que ocorre nas eleições. Aqui vale lembrar Karl Marx: se a essência e a aparência fossem idênticas, não haveria necessidade da ciência. O que ocorre nas redes influencia o que ocorre nas eleições e, por enquanto, pode ser mais bem captado por pesquisas de opinião feitas com amostras aleatórias. Os memes, os posts e os vídeos fazem parte da mobilização pelo convencimento dos eleitores. Não há mágica, há um processo de construção simbólica que é bem antigo e que adquiriu uma dinâmica distinta e novas possibilidades com a internet.
Poder da grana na compra de likes
O Facebook é uma rede privada onde estão ocorrendo os debates públicos. Isso não acarretaria problemas se os gestores da rede não interferissem no processo de formação da opinião pública interconectada. Ao contrário do Twitter, o Facebook restringe a visualização das publicações pelos amigos e seguidores do perfil ou página. Segundo o estudo realizado pela agência de publicidade Ogilvy, em 2012, o Facebook limitou o alcance de uma publicação em 16% do número de fãs de uma página. Em dezembro de 2013, apenas 6% dos amigos de um perfil ou página receberam as postagens. Páginas com mais de 500 mil likessomente são visualizadas por 2%. O Facebook alega que isso é necessário para que as pessoas possam ler os posts, mas o resultado é que, se você quer atingir todos os seus seguidores, agora terá de pagar.
Os candidatos presidenciais nestas eleições já gastaram muito no Facebook. A maior rede social vende não somente visualizações para públicos segmentados; ela vendeu também os likes para as páginas dos candidatos. Recentemente, os advogados de Paulo Skaf, candidato ao governo paulista, entraram com uma representação contra o governador Geraldo Alckmin alegando que ele realizou postagens pagas. O tesoureiro do PSDB confirmou o pagamento. A alegação dos advogados foi baseada na evolução do número de seguidores de Alckmin. Em dezembro de 2013, o governador tinha 100 mil seguidores e em seis meses atingiu 320 mil. Observando o grau de crescimento do número de seguidores das respectivas páginas, é possível afirmar que todos os candidatos à Presidência da República patrocinaram suas páginas e pagaram para disseminar algumas postagens.
A maior rede social cobra entre R$ 0,20 e R$ 2,50 por like. A Justiça Eleitoral proíbe a propaganda paga na internet. Mas é fácil perceber que ela ocorreu e ocorre. Com as restrições impostas pelo Facebook, quem não tinha muitos fãs e seguidores antes de 2013 só podia crescer pagando. E por que os organizadores das campanhas acreditam que é importante ter muitos likesna página do candidato? Primeiro, para mostrar aos visitantes que a candidatura é forte. Segundo, para que as diversas postagens sejam visualizadas por um número maior de pessoas sem a necessidade de pagamento. A lógica é a seguinte: 2% de 1 milhão (20 mil) é mais do que 5% de 100 mil (5 mil). Nesse sentido, o modelo de negócios do Facebook agigantou a verticalização das campanhas, recolocando o enorme poder do dinheiro e da publicidade paga na comunicação política em rede.
É possível fazer crescer o número de fãs no Facebook rapidamente sem comprar likesou visualizações. A obtenção de muitos seguidores em curto espaço de tempo se dá pela adesão a uma causa capaz de gerar muito engajamento, a uma grande novidade ou diante de uma grande comoção. Após a trágica morte de Eduardo Campos, a página de Marina Silva ganhou 249.261 novos fãs em cinco dias, entre 13 e 17 de agosto, o que dá uma adesão média diária de 49.852,2 pessoas. Até 12 de agosto, um dia antes do desastre que matou Campos e sua jovem equipe, Marina tinha 768.127 fãs. No dia 17 de agosto, contava com 1.017.388 curtidas. Analisando a evolução da página de Marina Silva de 1o de julho último a 12 de agosto, captamos um crescimento médio de 1.039 fãs por dia, durante 43 dias. O período de comoção e de definição da candidatura de Marina para a disputa presidencial gerou uma explosão de likesque em situação normal só poderia ser obtida mediante pagamento.
Para ficar mais clara a dinâmica das redes sociais, é importante observar os números da presidente Dilma e do senador Aécio. No dia 1o de julho, Dilma tinha 653.171 fãs em sua página oficial; Aécio, 892.858. No dia 12 de agosto, Dilma havia atingido 878.168 fãs, e Aécio, 1.061.404. Após a queda do avião de Eduardo Campos, entre os dias 13 e 17 de agosto, Dilma cresceu para 908.863 fãs, e Aécio, para 1.126.361. Visto de outro modo, nos cinco dias após o acidente, Dilma cresceu à média de 6.139 novos fãs, e Aécio obteve a média diária de 12.991,4. Agora, compare o crescimento de fãs entre 1o de julho e 12 de agosto: Dilma angariou 259.571 (39,98%), e Aécio, 249.851 (28,51%). O crescimento médio diário de Dilma nesses 43 dias foi de aproximadamente 6.036,53 curtidas, enquanto o de Aécio foi de 5.810,48.
A entrada de Marina na disputa pela Presidência redesenha o cenário político e também a comunicação em rede. Em um vídeo em sua página, postado em julho, a então candidata a vice-presidente falava sobre como apoiar a “casa de Marina e Eduardo Campos”. A “casa de Marina” foi uma articulação em rede lançada pela candidata em 2010. Aproveitando o ativismo nas redes que sua campanha angariava, Marina disseminou comitês de campanha em cidades, bairros e comunidades onde não havia um partido nem políticos tradicionais a apoiá-la. Tentando retomar o mesmo processo, Marina disse que nestas eleições “não são as grandes estruturas que decidirão, mas as novas posturas”. Será que Marina conseguirá aglutinar os ativistas de rede e transformá-los em ativistas políticos, mesmo com seu compromisso religioso e com sua adesão a temas conservadores?
Trolls e a estratégia das páginas aliadas
Sem dúvida alguma, as campanhas proporcionais podem se beneficiar muito da ação em rede, desde que tenham uma causa que desperte os interesses de segmentos sociais conectados, principalmente os mais jovens. O custo de tornar-se um comunicador caiu para todos na rede. Mas quem centrar a campanha apenas ou principalmente no Facebook enfrentará as limitações impostas pela política de monetização da rede social. Uma candidatura que despertar os ativistas da rede e os diversos grupos que normalmente habitam o ciberespaço, o Instagram, o WhatsApp, o Twitter e mesmo o Facebook pode levar as vantagens da comunicação distribuída. Todavia, a novidade e a grande criatividade necessárias para atrair e empolgar estão cada vez mais difíceis de serem produzidas nas redes. A atenção e os afetos parecem durar pouco tempo nesses meios.
Frequentemente, temas políticos entram nas conversas das famílias, dos jovens e das pessoas em seu cotidiano. Na internet, a conversação política também ocorre, principalmente em comentários nas redes sociais e nos blogs. Entretanto, a conversa em rede tem características específicas. A polidez é menor do que no contexto face a face, e a sátira e o humor tendem a ser preferidos e compartilhados mais vezes que uma postagem somente argumentativa. O ambiente digital também é repleto de trolls, pessoas que têm paixão pela provocação e pelo embate utilizando todo tipo de recursos expressivos, incluindo o xingamento. Em momentos eleitorais, os debates tendem a ser interrompidos rapidamente pelas trollagens. Assim, a busca pela atenção dos cidadãos passa a ser realizada por meio da criação e distribuição de memes. Alguns deles se tornam virais, ou seja, são replicados por milhares de pessoas.
A grande questão é que as forças de direita brasileira, embaladas pela onda conservadora promovida pelas elites endinheiradas que não suportam o convívio com a diversidade e com a melhoria econômica dos mais pobres, trabalharam elementos simbólicos fundamentais contra os valores básicos da justiça como equidade. A maior parte das esquerdas abandonou o trabalho de conscientização política e o substituiu pela crença no marketing de campanha. Ocorre que o marketing reforça o senso comum, e aí está a armadilha – no momento eleitoral, o pensamento das camadas médias é contrário às esquerdas. Por isso, a campanha eleitoral nas redes não será feita somente por meio das postagens e replicações nos canais oficiais dos candidatos, mas também pela ação das páginas de apoio aos candidatos.
Boa parte da classe média alta, altamente conectada, tem prazer em compartilhar posts e tweetscontra o Bolsa Família, contra a diversidade cultural e sexual, contra o imposto progressivo, contra o ensino gratuito nas universidades federais, contra a política de cotas, contra o programa Mais Médicos, contra tudo que permite reduzir a concentração de renda promovida pelo capital. Incentivadas por facções conservadoras articuladas pelos interesses de grandes corporações transnacionais, essas camadas médias produziram um perfil de ação em rede baseado no ódio, no preconceito e na disseminação de inverdades notórias.
Essa base social dá força a uma série de páginas de apoio da direita, tais como a TV Revolta, que contava no início de agosto de 2014 com 3.675.912 curtidas. Apesar de se afirmar independente, ela participa claramente de uma operação anti-Dilma. O mesmo ocorre com o MCC (Movimento Contra a Corrupção), com 1.359.700 curtidas, contrário à corrupção ocorrida nas gestões do PT, mas que pouco postou sobre a corrupção nas gestões do PSDB e do PMDB, muito menos sobre a promovida pelas grandes corporações. Utilizando o mesmo mote genérico, a OCC (Organização contra a Corrupção), curtida por 181.393, simpatiza com o deputado Jair Bolsonaro e, aparentemente, com o regime militar. A operação eleitoral da direita incorpora ainda páginas que cresceram muito a partir das mobilizações de junho, tais como a Anonymous Brasil, com 1.391.444 curtidas, rejeitada e denunciada por diversos coletivos Anons autênticos, e outras como a Fora PT, com 274.892 curtidas, que apesar do nome atacava com vigor também a candidatura de Eduardo Campos.
As forças de esquerda possuem uma blogosfera articulada, que conta com algumas páginas de relevância nas redes sociais, chamadas pelo tucano José Serra de “blogueiros sujos”. Essas páginas podem tentar construir um pequeno contraponto à campanha aberta que a revista Veja, os humoristas conservadores e o sistema Globo tentam fazer pela vitória eleitoral de Aécio. No Facebook, a Dilma Bolada é certamente a maior expressão pró-Dilma e conta com 1.052.863 curtidas. Não é por menos que um publicitário ligado ao PSDB ofereceu R$ 500 mil para Jeferson Monteiro, o autor do perfil fakeda presidente, apoiar a candidatura tucana. Apesar de contar ainda com Lula, detentor de uma página com 1.053.696 curtidas, a esquerda inicia a campanha em nítida desvantagem no Facebook quando se faz o balanço das páginas aliadas. O mesmo ocorre no Twitter.
A grande incógnita dessas eleições gira em torno do ativismo e do pensamento ambientalista e de causas sem contraposição econômica evidente, como a dos cicloativistas urbanos e inúmeros movimentos culturais. Eles se colocam fora do embate entre esquerda e direita e consideram que suascausas são renovadoras da política. A defesa da sustentabilidade, de uma política efetiva de uso de energias alternativas, a reorganização da mobilidade urbana com políticas mais agressivas de restrição dos automóveis, de governos mais transparentes, a defesa da diversidade cultural, entre outras, não são diretamente relacionadas à esquerda ou à direita. Com o trágico falecimento de Eduardo Campos, ainda não é evidente se o retorno da candidatura de Marina poderá reativar esses segmentos, dispersos e sonolentos, ou reduzir os que iriam votar nulo e trazê-los para o embate eleitoral.
O glamour da primeira eleição de Obama e o sucesso da campanha em rede, com a novidade dos memes, podem não se repetir em 2014. Robôs estão sendo utilizados para inflar candidaturas proporcionais, links patrocinados e curtidas compradas, páginas e aplicativos que enviam cookies para identificar visitantes e usuários – tudo isso mostra que a campanha na internet promete consolidar o que o pesquisador Alexander Galloway havia dito: veremos cada vez mais redes enfrentando redes. Sem dúvida, a internet é uma rede de redes distribuídas; ela permite organizar processos transparentes e participativos que dificilmente ocorreriam sem sua existência. Entretanto, a ambivalência das tecnologias está sendo capturada mais pelo processo do marketing do que pelo potencial de interação social. O grande poder horizontal da internet e das tecnologias P2P (peer-to-peer) está sendo alterado por corporações que dominam as principais redes sociais. O Facebook reestabeleceu a comunicação broadcastingno interior das redes distribuídas, ou melhor, as formas de controle vertical baseadas no dinheiro. Isso significa que a força do poder econômico que havia sido atenuada nas redes digitais está se recompondo na verticalidade e nos controles das redes sociais. Nestas eleições, veremos embates entre diversas redes de opinião, e a principal disputa pelo voto do eleitor se dará nas redes sociais controladas por grupos privados. Como procurei mostrar em diversas passagens do texto, apesar do peso da verticalidade, há possibilidade de que ideias fortes e articulações criativas mobilizem e superem os arranjos do capital, organizando os afetos e articulando as perspectivas de mudança real.
Sérgio Amadeu da Silveira é Sóciólogo, professor da Universidade Federal do ABC, integra o grupo de pesquisa em Cultura Digital e Redes de Compartilhamento da UFABC.