Errar: o primeiro passo para aprender
Errar é inevitável. Todos já experimentamos a dor de um erro, mas poucos reconhecem o poder transformador que ele pode ter. Este texto explora como nossos erros são grandes professores, analisando a sabedoria de pensadores, da neurobiologia e de filósofos ao longo da história
A frase “Your best teacher is your last mistake” (Seu melhor professor é seu último erro) é frequentemente atribuída a Ralph Nader, um ativista e advogado norte-americano conhecido por seu trabalho em defesa dos direitos do consumidor. No entanto, como ocorre com muitas citações populares, sua origem exata não é totalmente clara, e a ideia expressa nela também pode ser encontrada em ensinamentos e ditados de várias culturas.

O filósofo e educador norte-americano John Dewey destacou a importância do aprendizado por meio da experiência, incluindo os erros. Ele afirmou que “A falha é instrutiva. A pessoa que realmente pensa aprende tanto com seus fracassos quanto com seus sucessos”. Confúcio também tem uma reflexão aplicável: “O homem que comete um erro e não o corrige está cometendo outro erro”. Isso sugere que a capacidade de aprender e crescer a partir dos erros é essencial. E o filósofo estoico Sêneca escreveu: “Errar é humano, perseverar no erro é tolice”. Embora isso foque mais na responsabilidade de corrigir os erros, a ideia de aprender com eles está implícita.
A vida é um caminho de tentativas, erros e aprendizados. Cada passo, mesmo os que nos parecem equivocados no momento, nos ensina algo valioso. O erro pode ser a chave para o crescimento, nos ajudando a refinar nossa visão, a ajustar nossas escolhas e a continuar em frente mais sábios e preparados. Nesse sentido, o erro é o nosso professor, desde que a gente esteja atento a ele e disposto a mudar!
O aprendizado realmente acontece quando refletimos sobre os erros, extraímos lições e fazemos ajustes. A neurociência também nos revela que o cérebro é extremamente plástico, ou seja, ele tem a capacidade de se adaptar e reorganizar sempre que tomamos novas decisões.
Quando reconhecemos o valor das nossas falhas, elas deixam de ser apenas obstáculos e se tornam os maiores aliados da nossa evolução. O importante é evitarmos repetir o erro. Isso sim é sinal de que estamos doentes, como explica a neurociência.
Repetir o mesmo erro sem aprender com ele é, de fato, uma indicação de que não estamos evoluindo. Isso pode ser um sinal de que algo não está sendo processado corretamente em nosso comportamento ou pensamento. O cérebro cria, quando bem treinado para aprender com as falhas, novos padrões de ação que nos ajudam a evitar as armadilhas do passado. A chave está na conscientização e no esforço contínuo para melhorar.
A persistência no erro, quando associada a uma incapacidade ou recusa consciente de aprender ou mudar, não é propriamente uma doença no sentido médico, mas pode estar relacionada a traços psicológicos ou comportamentais. Comumente chamada de teimosia, essa atitude é caracterizada pela insistência em um comportamento ou crença, mesmo diante de evidências claras de que estão errados.
Se essa persistência ocorre de forma acentuada, pode estar ligada a condições psicológicas ou traços de personalidade específicos. Por exemplo, a rigidez cognitiva, que é a dificuldade de se adaptar a novas informações ou situações, pode levar à repetição de erros. Isso é observado em transtornos como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou em condições do espectro autista. Em outros casos, transtornos de personalidade, como o narcisismo, podem explicar tal comportamento, já que pessoas com esse traço frequentemente têm dificuldade em admitir falhas ou aceitar críticas. Da mesma forma, o Transtorno de Personalidade Antissocial pode levar à repetição de comportamentos problemáticos, ignorando consequências ou normas sociais.
Outro fator relevante é a dissonância cognitiva, um mecanismo psicológico em que a pessoa justifica ou racionaliza os erros para evitar o desconforto emocional de admitir que estava errada, muito encontrado no ambiente corporativo e político-social. Além disso, a impulsividade, frequentemente associada ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), pode fazer com que decisões sejam tomadas sem a devida reflexão, resultando em erros repetidos.
Se a persistência no erro causar sofrimento significativo ou prejuízo à vida da pessoa ou ao ambiente em que está inserida, é recomendável buscar orientação psicológica. Profissionais, médicos e psicólogos podem ajudar a compreender as causas subjacentes do comportamento e oferecer estratégias para promover maior flexibilidade cognitiva e mudanças saudáveis.
Crescer é um processo, exige paciência consigo mesmo e compreensão de que até os momentos mais difíceis e dolorosos têm um papel importante na nossa evolução. O aprendizado é contínuo, e cada falha pode se transformar em uma peça essencial no quebra-cabeça do nosso desenvolvimento pessoal.
Estamos realmente aprendendo com nossos erros ou apenas repetindo padrões que nos impedem de evoluir?
Essa reflexão nos convida a olhar mais profundamente para nossas escolhas, para os caminhos que temos trilhado, e para o real significado das falhas em nossa jornada.
Errar faz parte do caminho, mas aprender com os erros é o que nos transforma. Permita-se crescer, mudar e evoluir com cada falha. Afinal, o erro é o primeiro rascunho do sucesso.
Rubens Bollos é médico, mentor e palestrante. Mestre e doutor (Ph.D) em Ciências da Saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pós-doutorado em Biologia do Desenvolvimento (USP/ICB). Pesquisador nas áreas de imunologia, epigenética, salutogênese e cultura de paz com foco no estudo de indicadores de êxito em saúde. É presidente-fundador da Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão (ABMPP.org).