Escolasticídio: silenciamento da dissidência e apagamento da memória na guerra contra a educação e a cultura palestina
O genocídio se manifesta não apenas na criação de ‘zonas de matança’, onde soldados atiram indiscriminadamente em palestinos, mas também na destruição sistemática de toda a infraestrutura intelectual, cultural e cívica de Gaza
O que confirma o terrorismo de Estado na guerra de Israel em Gaza não é só o violento conflito armado das operações militares – marcadas pelo uso da força bélica matando de forma indiscriminada civis, idosos, mulheres e crianças – mas também o implacável genocídio do povo Palestino, com extermínio de toda dissidência crítica e oposição. Ao nível internacional, o Estado de Israel já foi condenado em Tribunal Internacional no ano de 2024 por violação de direitos humanos e crimes de guerra. Os crimes de Israel, ainda em andamento, envolvem não só as brutais campanhas militares, mas também “políticas de extrema desumanidade contra as pessoas na palestina”. [1]
Podemos considerar que há um esforço do Estado terrorista para legitimar e normalizar as suas ações em Gaza. Uma guerra ideológica que inclui censura, difamação e destruição – o que Kenneth Roth, da Organização Internacional Human Rights Watch, denomina “Sistema de Apartheid de Israel” [2] e que Arieh Neier, sobrevivente do Holocausto e cofundador da ONG, chama de “Genocídio contra o Povo Palestino em Gaza.” [3]
A escala de destruição em Gaza é devastadora e eticamente inimaginável. Desde o início desta guerra, em outubro de 2023, Israel já disparou mais de 25.000 toneladas de explosivos contra a Faixa de Gaza, o que é uma força equivalente a duas bombas nucleares de Hiroshima. Está no Estatuto do Tribunal Penal Internacional que o uso de bombas com esse potencial destrutivo em áreas residenciais se constitui sim em um “Crime de Guerra”. [4]
Uma demonstração de que esta tragédia continua acontecendo ocorreu recentemente, em 10 de agosto de 2024, quando Israel bombardeou a Escola Tab’een em Gaza. A escola oferecia abrigo para quase 2.500 refugiados das áreas demolidas e a grande maioria eram crianças, uma situação lamentavelmente muito comum e naturalizada nesta guerra. De acordo com uma investigação realizada pela ONG EMHRM Euro-Med Human Rights Monitor “mais de 100 palestinos foram mortos, incluindo famílias inteiras”. As bombas tinham como alvo uma sala de orações, onde centenas de pessoas estavam reunidas ao amanhecer. O poder destrutivo do ataque foi tão imenso que além das pessoas mortas, numerosas outras tiveram lesões graves, ficando com queimaduras em amplas partes do corpo e membros superiores ou inferiores mutilados.[5] Nesse episódio, a CNN também publicou que o diretor do serviço de Emergência, que controla o setor de ambulâncias no norte de Gaza, havia confirmado em relato à emissora que todas as vítimas, alvos do ataque israelense, “eram civis desarmados. A maioria crianças, mulheres e idosos.” [6] A investigação independente realizada pela EMHRM “não encontrou evidência nenhuma de que a escola era usada para objetivos militares.” [7]
Embora haja ampla documentação, com inúmeras evidências de que o Estado de Israel está levando a cabo uma operação militar catastrófica, cometendo diariamente crimes de assassinato, sequestro, deslocamento forçado, fome e tortura contra os palestinos – incluindo até mesmo crianças [8] – Netanyahu e seus Ministros surpreendentemente reivindicam com toda desfaçatez que “Israel tem o exército mais ético do mundo.” [9]
Israel já exterminou mais de 40.000 palestinos desde o início desta guerra. Existem relatórios da Organização Internacional SOS Childrens Villages comprovando que “mais de 15.000 crianças foram mortas e o número de crianças desaparecidas passa de 21.000.” [10] Sabemos também que este número total de mortes está muito subestimado. Rasha Khatib , Martin McKee e Salim Yusuf, três funcionários do setor de saúde pública em Gaza, publicaram no The Lancet, prestigiado periódico científico britânico, que o número real já pode chegar a mais de 186.000 palestinos mortos.[11]
Israel está travando uma guerra de extermínio contra o povo palestino e seu objetivo não é apenas “massacrar dezenas de milhares de vidas, mas também destruir a infraestrutura e todos os traços da civilização em Gaza, contribuindo com o aumento das mortes por desnutrição, doenças e falta das condições mínimas para manter a saúde.”[12] O horror flagrante dessa violência é potencializado pelos atos de profunda brutalidade exemplificado com bombardeio de escolas, tortura de prisioneiros, uso da fome como arma de guerra, destruição de hospitais, unidades de saúde e ataques frequentes à instalações civis que abrigam refugiados. Estas e outras muitas políticas de extermínio estão documentadas em inúmeros relatórios das Nações Unidas que documentam toda essa barbárie.[13]
Esse conjunto de ações criminosas do Estado de Israel tem sido insistentemente denunciado às autoridades internacionais como uma verdadeira política de genocídio. Além das organizações não-governamentais, diversos grupos jurídicos e agências internacionais, já se somam a esta denúncia mais de 50 Estados que compõem as Nações Unidas, incluindo África do Sul e Brasil.[14] O Tribunal Penal Internacional está julgando a acusação de genocídio e analisando a possibilidade de emitir mandados de prisão contra os dois principais líderes de Israel – o Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o Ministro da Defesa Yoav Gallant – condenando-lhes por “crimes de guerra contra a humanidade na Faixa de Gaza.”[15] Importante registrar que o Tribunal também solicitou mandados de prisão semelhantes para certos líderes do grupo Hamas.
A intelectual judaica Judith Butler também considera que essas ações em Gaza se configuram como política de extermínio característica de uma necroplítica. Ela destaca ainda que o objetivo militar de Israel após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023 passou a ser a eliminação do povo Palestino. Essa política tem sido sistematicamente implementada com “destruição das formas de sustento, saúde, bem-estar e a capacidade dos Palestinos em persistir e resistir” frente ao vingativo e desproporcional ataque de Israel. [16] Cabe lembrar que logo após o ataque do Hamas, o Ministro da Defesa de Israel anunciou um cerco completo à Gaza, declarando que “não haverá eletricidade, comida e nem combustível. Será tudo fechado, estamos lutando contra animais, e vamos reagir de acordo.” [17] Naquela ocasião, alguns Ministros israelenses ameaçaram inclusive realizar um ataque com bomba atômica contra a Palestina.[18]
Em uma declaração que desafiou os limites morais e legais, o Ministro da Economia de Israel, Bezalel Smotrich, foi condenado judicialmente pela afirmação de que “ninguém no mundo vai permitir matarmos 2 milhões de pessoas de fome em troca da liberdade dos reféns, mesmo que isso possa ser justificado moralmente.” [19] Essa afirmação não apenas banaliza o sofrimento com a fome que afeta milhões de palestinos, mas também ignora o fato de que causar deliberadamente a fome de civis é inequivocamente um crime de guerra. Essa é a linguagem de políticos fascistas que falam com o peso de cadáveres em suas bocas e sangue nas mãos. Essa retórica de desumanização não abrange apenas os combatentes do Hamas, ela se estende para toda a população de Gaza. Efetivamente rotula no imaginário social da população de Israel que todos os Palestinos são terroristas e animais bárbaros sub-humanos. Ao desumanizar todo um grupo social, a retórica de linguagem facilita e legitima a opressão de Israel contra todos os palestinos no geral e acaba por naturalizar os crimes de guerra e justificar a negação de necessidades básicas do Ser Humano como o acesso à água e alimentação.
O objetivo de Israel parece realmente ser a erradicação de qualquer possibilidade da constituição de um Estado Palestino com a expulsão completa da população daquele território. Esse é o “cerco completo” anunciado por Netanyahu e deixa explícito a estratégia de inviabilizar um futuro Estado. Sharon Zhang destaca este aspecto lembrando que Netanyahu explicitamente afirmou a intenção “de anular qualquer esperança da existência de um Estado palestino unificado.” [20] Segundo a autora, “defensores dos direitos da Palestina afirmam que existe uma estratégia organizada pelas forças israelenses em Gaza de, simultaneamente ao massacre em Gaza, trabalhar no sentido de apagar a evidência de que que os Palestinos sempre ocuparam aquela região. Esta intenção fica evidente com as declarações do próprio Netanyahu sugerindo a confiança de que será capaz de alcançar seus objetivos com a ajuda de poderosos aliados no ocidente, principalmente os Estados Unidos da América.” [21]
Em inúmeros artigos, Kenneth Roth tem demonstrado as violações de Leis internacionais cometidas por parte de Israel. Ele argumenta que nenhuma ação do Hamas, por mais horrível que seja, justifica que Israel viole as Leis de guerra, e afirma ainda que “o governo israelense tem repetidamente violado o Direito internacional e os Direitos Humanos de inúmeras maneiras que se constituem em crimes de guerra.” Exemplos claros disso são os ataques israelenses a estruturas civis, incluindo escolas, museus e bibliotecas. Ele alega ainda que “Israel tem criado zonas de morte onde soldados atiram em qualquer um quem entra nelas, esteja armado ou não.” Denuncia também a destruição de hospitais, a tortura dos Palestinos detidos pelos militares de Israel e aponta que “muitos detidos morrem sob a custódia israelense e vários inclusive tiveram que ter as mãos amputadas devido às lesões sofridas pelo prolongado tempo algemado”. Roth continua afirmando que o governo israelense tem “imposto enormes obstáculos para a entrega da ajuda humanitária à Gaza – especialmente alimentos – uma política que está usando a fome como arma de guerra.” [23] O que ele deixa claro em suas intervenções, e o que muitas nações ocidentais têm ignorado, é que Israel tem sido um Estado desonesto. Repetidamente na história, tem violado as leis internacionais com a ocupação de territórios palestinos e a manutenção de assentamentos ilegais. Além de pouco honesto, agora Israel também será culpado pelos horríveis crimes de guerra que está cometendo em Gaza.
Os crimes de guerra fazem mais do que destruir corpos; eles corroem a moralidade, as memórias e os hábitos públicos profundamente enraizados na consciência. A brutalidade das ações militares em Gaza é dolorosamente evidente nas imagens de corpos infantis despedaçados no meio do bombardeio a mesquitas, hospitais e escolas. Essas atrocidades são frequentemente justificadas por um discurso de desumanização e autodefesa – uma narrativa sancionada pelo Estado que legitima causar um sofrimento terrível à maioria da população vulnerável. O que é frequentemente esquecido, especialmente pela mídia de massa, é que a violência extrema na guerra em Gaza não é apenas um ato físico de destruição, mas também um ataque sobre a história, a memória e as instituições culturais do povo palestino. Esse apagamento é um esforço muito bem calculado para encobrir os crimes de guerra, a violência brutal e a história de colonialismo, tudo muito bem camuflado “com o discurso da segurança e sob o manto da amnésia histórica.” [24]
Escolasticídio como Guerra Estrutural e Ideológica
O genocídio se manifesta não apenas na criação de “zonas de matança”, onde soldados atiram indiscriminadamente em palestinos, com uso de força letal contra alvos não militares como hospitais e escolas, mas também na destruição sistemática de toda a infraestrutura intelectual, cultural e cívica de Gaza. [25] Essa erosão calculada da cultura palestina busca eliminar o próprio tecido da sociedade de Gaza, estendendo-se além da violência física para a obliteração de sua própria identidade histórica e cultural.[26]
A documentação contínua e cada vez mais meticulosa dos crimes de guerra de Israel não só expõe as horríveis realidades no território, mas também lança luz sobre as implicações mais amplas dessas violações. A crise em andamento vai além da brutalidade imediata e da destruição física em Gaza, revelando uma forma mais profunda e insidiosa de violência, que transcende o campo de batalha. Essa violência está enraizada em uma agenda ideológica que legitima tal barbárie, atacando sistematicamente qualquer forma de educação ou capacidade crítica que busque expô-la.
Esse ataque às escolas de Gaza se manifesta tanto como uma guerra concreta quanto uma guerra ideológica contra a educação, a história, a investigação crítica e qualquer movimento viável de dissidência. Karma Nabulsi, da Universidade de Oxford, conceituou essa “guerra concreta e ideológica contra a educação e a cultura em Gaza” como uma forma de “escolasticídio” e argumentou que ela afetaria diversas gerações de crianças palestinas.[27]
No foco dessa guerra contra a dissidência, a cultura e a própria educação do Povo Palestino estão as repetidas tentativas do governo de extrema direita de Israel em desqualificar todas as críticas à guerra em Gaza como uma forma de antissemitismo. Por exemplo, quando a guerra em Gaza é ocasionalmente contextualizada e historicizada em relatórios internacionais, o governo israelense e seus defensores rapidamente usam a acusação de antissemitismo contra seus críticos, especialmente quando palestinos, mas também os próprios judeus. O historiador Ilan Pappe destaca como essa técnica é usada por Israel para silenciar não apenas os críticos dessa guerra atual, mas qualquer narrativa que exponha a sua campanha colonialista que já dura mais de cinco décadas e atua com “forças de ocupação que infligem punição coletiva persistente aos palestinos, que ficam frequentemente expostos tanto ao assédio dos colonos israelenses que ocupam esses territórios como às forças de segurança israelenses que já prenderam centenas de milhares de pessoas.” [28]
A violência expansiva, indiscriminada e impressionante desencadeada contra as escolas em Gaza exige não apenas um novo vocabulário, mas também uma compreensão mais profunda da política de educação e da educação como política. Também requer uma redefinição do que se constitui um crime de guerra, juntamente com um movimento internacional de massa resistindo aos ataques deliberados e brutais do governo de extrema direita de Israel ao povo palestino na sua busca por liberdade e soberania. Além disso, é crucial reconhecer que essa violência, em suas múltiplas formas, inclui uma forma menos visível de violência que muitas vezes é negligenciada. Esta forma de violência, frequentemente ofuscada pelo massacre genocida, é a violência do esquecimento organizado – a eliminação sistemática de memórias, histórias e lembranças coletivas que são consideradas perigosas. É exatamente isso que estamos chamando de “escolasticídio”.
É esse o tipo de violência que tenta apagar fatos históricos como a Nakba – considerada pelos países árabes uma catástrofe humana que levou mais de 700.000 palestinos à remoção forçada de suas terras. Destruir instituições que preservam essa memória e impor a amnésia histórica é um meio de impedir que gerações futuras aprendam sobre a resistência palestina contra a violência do colonialismo israelense que tem persistido por décadas e é caracterizado pelo despojamento de terras, mas também pela eliminação da cultura. Isabella Hammad, uma autora britânica de origem palestina, expressa sua indignação sobre o modo como os incubadores pedagógicos do escolasticídio ideológico trabalham para condenar os manifestantes palestinos e encobrir o crime de genocídio, vale a pena aqui manter sua reflexão na íntegra:
“A guerra de Israel em Gaza mira não apenas a memória, o conhecimento e a crítica, mas também se estende à destruição de instituições educacionais onde a história expõe crimes do passado e os movimentos de libertação e resistência. Esta é uma guerra travada não apenas contra os corpos, mas também contra a própria história — contra memórias, escolas, museus, instituições religiosas, sede de organizações internacionais e quaisquer outros espaços onde a memória e a identidade coletiva de um povo são preservadas e transmitidas às gerações presentes e futuras. Este ataque à consciência histórica, à lembrança, às ideias críticas e à história duradoura do colonialismo de Israel se constitui numa forma de violência ideológica que estrategicamente sustenta a guerra tangível e sangrenta que destrói não só as vidas palestinas, mas também as instituições que salvaguardam suas memórias e cultura. É neste contexto que surge o conceito de “escolasticídio” como um dispositivo de linguagem que significa a destruição deliberada de espaços educacionais que transmitem conhecimentos, memórias e valores essenciais, tornando-se um elemento central na guerra mais ampla de Israel contra o povo palestino.”[29]
Assim, como uma forma de amnésia histórica, política e social, o escolasticídio passa a operar por meio do que Rob Nixon chama de “violência lenta”, com um dano gradual, incremental e muitas vezes menos visível. Nesse contexto, o dispositivo se manifesta por meio de contorções verbais marcadas por desvios de sentido, mentiras, medo, desinformação, ameaças e intimidação. A linguagem de ódio, amalgamada com imagens sensacionalistas em várias mídias, plataformas e redes sociais é utilizada como técnica para distrair a atenção da opinião pública daqueles crimes que estão ocorrendo em Gaza. Como resultado, o escolasticídio acaba permitindo a naturalização de uma guerra sangrenta e do ataque à liberdade de expressão em Gaza. Entretanto, é crucial reconhecer que o escolasticídio também assume a expressão mais brutal e imediata de uma violência estrutural selvagem com o bombardeio intencional de escolas, universidades e museus. Isso ao mesmo tempo que reprime sistematicamente os dissidentes, sejam eles acadêmicos, professores ou estudantes. Envolve, portanto, armas reais de destruição em massa, e ataca não apenas corpos e mentes dos indivíduos, mas atinge fortemente também as instituições coletivas que sustentam o debate intelectual e a vida pública.
Na sequência, se analisará a brutal violência estrutural do escolasticídio que está ocorrendo em Gaza, onde instituições educacionais e culturais têm sido sistematicamente alvejadas e destruídas. Em seguida, examinaremos a violência ideológica do escolasticídio contra a população Palestina, caracterizada pela supressão da liberdade de expressão e da liberdade acadêmica, cada vez mais controladas por mecanismos estatais de vigilância, a perda de empregos e outras medidas punitivas, incluindo a detenção e o controle rígido dos deslocamentos. Essas duas vertentes do escolasticídio não são descoladas; elas se reforçam mutuamente, servindo de base para um projeto militar mais amplo que prevê a imposição de um estado repressivo por parte de Israel. Essas duas formas de escolasticídio – ideológica e estrutural – estão profundamente interconectadas.
A análise também revelará como essas práticas sinalizam uma tendência mais ampla e insidiosa no Ocidente – onde censura, repressão e várias formas de terrorismo pedagógico são agressivamente aplicadas para suprimir a dissidência e o pensamento crítico – levando a uma trajetória internacional de opressão intelectual e acadêmica. O ataque ideológico à liberdade de expressão e à liberdade acadêmica prepara o terreno para a destruição física das instituições essenciais para a educação crítica como prática de liberdade e libertação. Dessa forma, as forças ideológicas do escolasticídio atuam como precursoras e criam as pré-condições para a aniquilação dos próprios fundamentos da educação emancipatória.
O Escolasticídio em Gaza
A brutal guerra de Israel em Gaza não visa apenas corpos, mas também ataca a preservação da história, do conhecimento e do pensamento crítico. Ao destruir instituições educacionais, busca apagar narrativas de crimes passados e movimentos palestinos de libertação. Esta é uma guerra contra a própria história – contra memórias, legados de resistência e as instituições que salvaguardam a identidade coletiva de um povo para as gerações futuras. A repressão da consciência histórica e da história do colonialismo de Israel na Palestina é uma forma de violência ideológica que alimenta o conflito em curso, devastando vidas e apagando memórias.
A ação de destruição deliberada de instituições educacionais, espaços e história, conhecida como “escolasticídio” e é central para compreender o motivo pelo qual Israel é acusado de genocídio contra o povo palestino. Chandni Desai, escrevendo no jornal britânico The Guardian, descreve essa ação como um ato de selvageria ética e repressão pedagógica: “destruir e obliterar os meios pelos quais um grupo étnico – neste caso, os palestinos – pode sustentar e transmitir sua cultura, conhecimento, história, memória, identidade e valores ao longo do tempo e espaço é uma característica chave do genocídio.”[30]
A violência do escolasticídio em Gaza é inegável e praticamente impensável antes do início desta fase da guerra. Desde o final de 2023, o mundo tem testemunhado o ataque deliberado das forças militares de Israel contra escolas, universidades e espaços culturais em Gaza. Como Sharon Zhang observa: “É fortemente consolidado e reconhecido no cenário geopolítico mundial que alvejar intencionalmente infraestrutura civil é um crime de guerra. Entretanto, é preciso também lembrar que Israel tem uma longa história de impunidade ao violar flagrantemente o direito internacional.”[31]
De acordo com relatórios oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 90% das escolas de Gaza já foram destruídas, e todas as 12 universidades da região foram intensamente bombardeadas, muitas ficando gravemente danificadas e outras sendo reduzidas a escombros. Chandni Desai calcula que “aproximadamente 90.000 estudantes universitários palestinos tiveram suas aulas suspensas e muitos foram obrigados a viver o cotidiano de deslocamentos forçados à medida que Gaza foi se tornando inabitável.” [32]
E ainda piora mais. Funcionários da ONU e o Ministério da Educação do governo palestino relatam que as operações militares israelenses em Gaza já mataram pelo menos 5.479 estudantes, cerca de 261 professores da educação básica e mais de 95 professores universitários, incluindo reitores, presidentes de universidades, pesquisadores premiados, poetas, artistas e ativistas proeminentes da sociedade árabe na Palestina. [33]
Mesmo antes da guerra, as escolas em Gaza já enfrentavam desafios significativos como a superlotação de salas de aula, a divisão do horário em turnos reduzidos, a escassez de edifícios e o acesso restrito a materiais de construção ou suprimentos escolares. Em junho de 2022, a ONG Save the Children já relatava que “80% das crianças em Gaza estão vivendo em uma situação perpétua de medo, preocupação, tristeza e luto.”[34] A guerra atual exacerbou os problemas, forçando a juventude de Gaza ter que lidar com traumas repetidos, crises de saúde mental e a constante ameaça à segurança e à integridade física, com ferimentos graves, amputações e mortes. Essas dificuldades se agravam com a situação de extrema pobreza, violência contínua, deslocamento forçado, insegurança alimentar e a impossibilidade de receber cuidados de saúde e tratamentos adequados.
A realidade brutal se estende para além do campo de batalha. É bem documentado que muitas crianças presas em centros de detenção israelenses – mesmo sem acusação nenhuma – são submetidas a abuso físico, sexual e mental. Essa mesma organização humanitária coletou diversos testemunhos das crianças detidas. Os relatos são assustadores e revelam níveis crescentes de violência desde outubro de 2023, quando regras mais rígidas foram implementadas bloqueando inclusive visitas de pais, familiares ou advogados. “Algumas crianças relataram que tiveram seus ossos quebrados e confirmaram que os espancamentos são frequentes, evidenciando o grave abuso de poder que ocorre nesses centros de detenção.” [35]
Em meio a essa grave crise humanitária, para as crianças palestinas e seus familiares fica uma escolha agonizante: “morrer de doenças, bombas, fome, sede e outras violências ou partir de sua terra abandonando o seu povo.” [36] Essa realidade sombria evidencia que a destruição do sistema social, educacional e cultural de Gaza faz parte de uma campanha mais ampla de Israel para tornar a região inabitável. O bombardeio e a destruição de inúmeras bibliotecas, arquivos, editoras, centros culturais, salões de atividades, museus, livrarias, cemitérios, monumentos e materiais arquivísticos comprovam o esforço sistemático para apagar a tradição e a herança palestina. [37] Além disso, vários meios de comunicação e mídias sociais forneceram histórias e imagens confirmando que soldados israelenses não estão apenas destruindo, mas também roubando artefatos arqueológicos. Em um caso particularmente grave relatado nas redes sociais, artefatos roubados da Faixa de Gaza foram exibidos publicamente em uma vitrine do parlamento israelense.[38]
A política de escolasticídio de Israel, voltada para a destruição da educação palestina, especialmente em seus métodos violentos menos explícitos, não se limita a Gaza. Eles também se estendem a estudantes, professores e outros críticos da guerra que vivem na Cisjordânia ou dentro do próprio território de Israel. A estudiosa israelense, professora Maya Wind, argumenta que as universidades em Israel se tornaram centros de repressão ao pensamento crítico, com forte propaganda militar e direcionamento das pesquisas para o setor bélico.[39] Disciplinas acadêmicas, programas de graduação, infraestrutura de campus e laboratórios de pesquisa estão servindo ao método de ocupação irregular e à política de Apartheid israelense. A professora afirma que “a Universidade Hebraica, entre outras, está treinando soldados e membros da inteligência israelense para definir os alvos em Gaza a partir do uso de bancos de dados. Está produzindo conhecimento para alimentar a propaganda estatal, inclusive usando o conhecimento científico jurídico para desresponsabilizar Israel por seus crimes de guerra, como no caso levado ao tribunal internacional pela África do Sul. Além disso, o governo está concedendo crédito universitário para os soldados reservistas que retornam da guerra em Gaza. As universidades israelenses são profundamente cúmplices nesse genocídio.” [40]
Neve Gordon e Penny Green denunciaram no The New York Review of Books que inclusive uma reconhecida cidadã de Israel com origem palestina, Shalhoub-Kevorkian, Professora titular da Cátedra Lawrence D. Biele, em Direito, na Universidade Hebraica de Jerusalém, foi presa por assinar uma petição intitulada “Pesquisadores e estudantes na área de estudos da Infância pedem imediato cessar-fogo em Gaza.” [41] Ela foi somente mais um exemplo entre muitos intelectuais de origem palestina que, ao criticarem a guerra, têm sido intimidados, ameaçados ou privados de liberdade pelo governo de extrema direita de Netanyahu. O alcance da censura com extensão da vigilância e punição estatal israelense também inclui os membros da própria comunidade judaica como a renomada Professora Peled-Elhanan, que foi submetida a um processo disciplinar somente porque enviou mensagens consideradas favoráveis ao Hamas em um grupo de WhatsApp dos professores. [42]
Neste mesmo sentido, Gordon e Green também registraram que nas três semanas após o ataque do Hamas em outubro de 2023, mais de cem estudantes palestinos que viviam em Israel – quase 80% deles mulheres – enfrentaram ações disciplinares em universidades israelenses devido a postagens, privadas, em mídias sociais que apoiavam o fim do cerco a Gaza. Seja porque simplesmente expressaram empatia com os palestinos, e simplesmente por postarem memes ou imagens de crianças palestinas sofrendo.” [43]
Assim, vai ficando cada vez mais explícito que os esforços do Estado israelense fazem parte de um projeto mais amplo para destruir qualquer vestígio de um movimento que lute pela libertação da Palestina. Toda essa repressão não se aplica somente aos críticos palestinos em Gaza ou Israel, mas também àqueles que vivem na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Ocidental. As universidades palestinas tem sido rotineiramente invadidas pelas forças de defesa de Israel. Wind acrescenta ainda a informação de que estudantes e organizadores de cerca de 411 grupos e associações estudantis palestinas foram declarados ilegais pelo Estado israelense. Os ativistas são rotineiramente sequestrados de seus campi ou mesmo de suas casas no meio da noite. De acordo com ela, “os estudantes são submetidos a tortura, e ficam mantidos em detenção administrativa, sem acusação ou julgamento, por meses. Isso comprova que realmente estamos vendo um ataque sistêmico organizado pelo exército e o governo militar israelense como estratégia de guerra contra as universidades palestinas, principalmente nos locais com capacidade de organização para fazer uma crítica mais contundente à guerra em favor da libertação da palestina.” [44]
Conclusão
O que se destaca na política de escolasticídio de Israel não é apenas o massacre visceral, o sofrimento e o terror infligidos ao povo palestino em Gaza, mas também o esforço calculado para obliterar as instituições que preservam a história palestina, educam as gerações atuais e futuras, e estabelecem vínculos entre o passado e um futuro de liberdade e justiça. Não se trata apenas de um ataque à memória; é um ataque à própria essência da educação como força libertadora – indispensável para uma sociedade onde o julgamento informado, a coragem cívica e a capacidade crítica são essenciais para sustentar os ideais de liberdade, democracia e justiça.
É crucial que educadores e ativistas pela paz reconheçam que essa guerra contra a educação em Gaza expõe um alinhamento global perturbador das forças de extrema direita no ataque à liberdade intelectual e à verdade histórica já que temos percebido o avanço rápido da censura em diversas partes do mundo. A estratégia de escolasticídio é, portanto, um projeto estrutural violento com um esforço ideológico e pedagógico calculado no sentido de silenciar a dissidência, particularmente aqueles que responsabilizam Israel pelo Genocídio em Gaza e expõem seus aparatos de doutrinação ideológica, controle e repressão.
Os horrores que vemos acontecer na Palestina representam o ponto extremo de uma campanha insidiosa mais ampla das forças autoritárias neoliberais destinada a esmagar o pensamento crítico nas universidades de todo o mundo. Não só nos Estados Unidos, mas também na Europa (incluindo países como Hungria, Grécia e Turquia) e na América Latina, temos notado que, embora as escolas e instituições culturais não sejam literalmente bombardeadas como em Gaza, elas são sistematicamente ameaçadas, controladas e transformadas em fortalezas de repressão acadêmica. Nesta lógica de vigilância ideológica e ataque ao pensamento crítico, muitos livros são banidos, manifestações estudantis enfrentam brutalidade policial, professores são perseguidos e a própria história é colocada em xeque. Enquanto isso, elites bilionárias e agentes administrativos do capital internacional trabalham impiedosamente na engenharia capaz de levar ao empobrecimento intelectual, social e financeiro do setor educacional, principalmente no setor público, tentando silenciar qualquer um que ouse desafiar sua normatividade ideológica.[45]
O escolasticídio é uma forma contemporânea de manipulação política que tem se intensificado com o crescimento da extrema direita ao redor do mundo. Além do silenciamento à crítica e da censura das forças de oposição, o objetivo agora passou a ser a destruição total de instituições acadêmicas e culturais que permitem tanto a resistência individual quanto coletiva. O método começa com as campanhas de desinformação, passa pelo ataque a memória histórica e chega na aniquilação da dissidência. A dominação ideológica se intensifica visando obliterar e impedir o funcionamento de infraestruturas cívicas como escolas, universidades, centros culturais e museus. Em seu caminho, vai deixando um rastro de derramamento de sangue, ossos quebrados, inúmeras vítimas civis feridas, desabrigas e famintas. Um legado arrepiante de violência, mortes em massa e vazio ético. O escolasticídio é como um alarme na mina de carvão, sinaliza uma ameaça iminente e grave. Neste caso, ameaça à liberdade de pensamento, à liberdade de expressão, à liberdade de Cátedra e impõe desafios concretos não só para a área da educação e a pedagogia crítica, mas para a própria Democracia.
Henry Armand Giroux é Pesquisador no Departamento de Estudos Culturais e Professor Titular da Cátedra Paulo Freire de Pedagogia Crítica na McMaster University, Canadá.
Texto traduzido e adaptado do original em inglês por Gustavo de Oliveira Figueiredo, pesquisador visitante na McMaster University e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.
Esta iniciativa recebeu financiamento do Programa Institucional de Internacionalização da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Ministério da Educação.
Referências
[1] Gerald Sussman, “The US-Israeli Regime of Despair,” Counter Punch (July 21, 2024). Online: https://www.counterpunch.org/2024/07/21/the-us-israeli-regime-of-despair/
[2] Kenneth Roth, “Crimes of War in Gaza” The New York Review of Books [July 18, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/articles/2024/07/18/crimes-of-war-in-gaza-kenneth-roth/
[3] Aryeh Neier, “Is Israel Committing Genocide?” The New York Review of Books[June 6, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/articles/2024/06/06/is-israel-committing-genocide-aryeh-neier/
[4] HuMedia, “Israel hits Gaza Strip with the equivalent of two nuclear bombs,” Euro-Med Human Rights Monitor (November 2, 2023). Online: https://euromedmonitor.org/en/article/5908/Israel-hits-Gaza-Strip-with-the-equivalent-of-two-nuclear-bombs#:~:text=Geneva%20%2D%20Israel%20has%20dropped%20more,a%20press%20release%20issued%20today
[5] Editorial, “Initial Euro-Med Monitor investigation finds no evidence of military presence at site of Tab’een School massacre in Gaza,” Countercurrents.org (August 24, 2024). Online: https://countercurrents.org/2024/08/initial-euro-med-monitor-investigation-finds-no-evidence-of-military-presence-at-site-of-tabeen-school-massacre-in-gaza/
[6] Irene Nasser, Abeer Salman, Ibrahim Dahman, Mohammed Tawfeeq, Lex Harvey and Allegra Goodwin, “Israeli strike on mosque and school in Gaza kills scores, sparking international outrage,” CNN World (August 11, 2024). Online: https://www.cnn.com/2024/08/10/middleeast/israeli-school-strike-gaza-intl-hnk/index.html
[7] HuMedia, “Initial Euro-Med Monitor investigation finds no evidence of military presence at site of Tab’een School massacre in Gaza,” Euro-Med Human Rights Monitor (August 11, 2024). Online: https://euromedmonitor.org/en/article/6432/Initial-Euro-Med-Monitor-investigation-finds-no-evidence-of-military-presence-at-site-of-Tab%E2%80%99een-School-massacre-in-Gaza
[8] Miranda Cleland, “Why Israel can torture detained Palestinian children with impunity,” Middle East Eye (December 1, 2023). Online: https://www.middleeasteye.net/opinion/israel-palestine-war-torture-detained-palestinian-children-impunity
[9] Greg Shupak, “Israel may have the least ‘moral army’ in the world: The rate of civilian death during Israel’s assault on Gaza has few precedents this century,” Canadian Dimension (February 17, 2024). Online: https://canadiandimension.com/articles/view/israel-may-have-the-least-moral-army-in-the-world
[10] Arwa Mahdawi, “Nearly 21,000 children are missing in Gaza. And there’s no end to this nightmare” The Guardian [June 27, 2024]. Online: https://www.theguardian.com/global/commentisfree/article/2024/jun/27/gaza-missing-children
[11] Rasha Khatib, Martin McKee, Salim Yusuf, “Counting the dead in Gaza: difficult but essential” The Lancet [July 5, 2024]. Online: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)01169-3/fulltext
[12] Andre Damon, “Lancet warns Gaza death toll could be over 186,000,” World Socialist Web Site (July 7, 2024). Online: https://www.wsws.org/en/articles/2024/07/08/xgqe-j08.html
[13] Press Release, “UN report: Palestinian detainees held arbitrarily and secretly, subjected to torture and mistreatment,” United Nations Human Rights (July 31, 2024). Online: https://www.ohchr.org/en/press-releases/2024/07/un-report-palestinian-detainees-held-arbitrarily-and-secretly-subjected
[14] Gerald Imray, “Genocide case against Israel: Where does the rest of the world stand on the momentous allegations?,” Associated Press (January 14, 2024). Online: https://apnews.com/article/genocide-israel-palestinians-gaza-court-fbd7fe4af10b542a1a4e2c7563029bfb;
[15] Mike Corder, “International Criminal Court judges mulling arrest warrants consider legal arguments on jurisdiction,” Associated Press (August 9, 2024). Online: https://apnews.com/article/israel-palestinians-icc-court-warrants-jurisdiction-12df89805cf654df030a56264ad38bb8#:~:text=THE%20HAGUE%2C%20Netherlands%20(AP),attacks%20by%20Hamas%20in%20Israel.
[16] Amy Goodman, “Palestinian Lives Matter Too: Jewish Scholar Judith Butler Condemns Israel’s “Genocide” in Gaza.” Democracy Now[October 26, 2023]. Online: https://www.democracynow.org/2023/10/26/judith_butler_ceasefire_gaza_israel
[17] Sanjana Karanth, “Israeli Defense Minister Announces Siege On Gaza To Fight ‘Human Animals’,” The Huff Post (October 9, 2023). Online: https://www.huffpost.com/entry/israel-defense-minister-human-animals-gaza-palestine_n_6524220ae4b09f4b8d412e0a
[18] Patrick Kingsley, “Top U.N. Court Decision Adds to Israel’s Growing Isolation” New York Times [May 24, 2024]. Online: https://www.nytimes.com/2024/05/24/world/middleeast/icj-israel-rafah-isolation.html
[19] Guardian Staff and Agencies, “Israel minister condemned for saying starvation of millions in Gaza might be ‘justified and moral’,” The Guardian (August 8, 2024). Online: https://www.theguardian.com/world/article/2024/aug/08/israel-finance-minister-bezalel-smotrich-gaza-starve-2m-people-comments
[20] Sharon Zhang, “Netanyahu Says Israel’s Goal Is to Wipe Out All Possibility of Palestinian State,” Truthout (January 18, 2024). Online: https://truthout.org/articles/netanyahu-says-israels-goal-is-to-wipe-out-all-possibility-of-palestinian-state/#:~:text=War%20%26%20Peace-,Netanyahu%20Says%20Israel’s%20Goal%20Is%20to%20Wipe%20Out%20All%20Possibility,amid%20Israel’s%20genocide%20in%20Gaza.&text=Honest%2C%20paywall%2Dfree%20news%20is,a%20donation%20of%20any%20size.
[21] Idem.
[22] Kenneth Roth, “Crimes of War in Gaza” The New York Review of Books [July 18, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/articles/2024/07/18/crimes-of-war-in-gaza-kenneth-roth/; See also, an interview with Roth in Carolyn Neugarten, “The Right Fight” The New York Review [July 27, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/online/2024/07/27/the-right-fight-kenneth-roth/
[23] All of the quotes in this paragraph are from Kenneth Roth, “Crimes of War in Gaza” The New York Review of Books [July 18, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/articles/2024/07/18/crimes-of-war-in-gaza-kenneth-roth/
[24] Donalyn White, Anthony Ballas, “Settler Colonialism and the Engineering of Historical Amnesia” Counter Punch [July 11, 2024]. Online: https://www.counterpunch.org/2024/07/11/settler-colonialism-and-the-engineering-of-historical-amnesia/
[25] See, Kenneth Roth, “Crimes of War in Gaza” The New York Review of Books [July 18, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/articles/2024/07/18/crimes-of-war-in-gaza-kenneth-roth/. A brilliant, critical, and encompassing analysis of Israel’s war crimes can be found in Jeffrey St. Clair’s Gaza Dairy Archives published in CounterPunch.
[26] Gaza Academics and Administrators, “Open letter by Gaza academics and university administrators to the world.” Al Jazeera [May 29, 2024]. Online: https://www.aljazeera.com/opinions/2024/5/29/open-letter-by-gaza-academics-and-university-administrators-to-the-world
[27] Faisal Bhabha, Heidi Matthews, Stephen Rosenbaum, “OPEN LETTER FROM NORTH AMERICAN ACADEMICS CONDEMNING SCHOLASTICIDE IN GAZA” Google Docs [April 2024]. Online: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSc7_K7qybzbeiBAg7sYTxbp1VOyYBrYPaxRf8jvHuBa0kQHlg/viewform?pli=1
[28] Ilan Pappe, “Why Israel wants to erase context and history in the war on Gaza.” Al Jazeera [November 5, 2023]. Online: https://www.aljazeera.com/opinions/2023/11/5/why-israel-wants-to-erase-context-and-history-in-the-war-on-gaza
[29] Isabella Hammad, “Acts of Language” The New York Review of Books [June 13, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/online/2024/06/13/acts-of-language-isabella-hammad/
[30] Chandni Desai, “Israel has destroyed or damaged 80% of schools in Gaza. This is scholasticide” The Guardian [June 8, 2024]. Online: https://www.theguardian.com/commentisfree/article/2024/jun/08/israel-destroying-schools-scholasticide
[31] Sharon Zhang, “Israel Bombs Girls’ School in Gaza, Killing 30 and Wounding Over 100,” Truthout (July 29, 2024). Online: https://truthout.org/articles/israel-bombs-girls-school-in-gaza-killing-30-and-wounding-over-100/
[32] Ibid. Chandni Desai.
[33] Chris Hedges, “Israel destroyed my university. Where is the outrage?” The Real News [February 9, 2024]. Online: https://therealnews.com/israel-destroyed-my-university-where-is-the-outrage
[34] Stephen McCloskey, “Israel’s War on Education in Gaza” Z Network [January 8, 2024]. Online: https://znetwork.org/znetarticle/israels-war-on-education-in-gaza/
[35] News Release, “Palestinian children in Israeli military detention report increasingly violent conditions,” Save the Children (February 29, 2024). Online: https://www.savethechildren.net/news/palestinian-children-israeli-military-detention-report-increasingly-violent-conditions
[36] Chris Hedges, “Israel destroyed my university. Where is the outrage?” The Real News [February 9, 2024]. Online: https://therealnews.com/israel-destroyed-my-university-where-is-the-outrage
[37] Ibid. Chandni Desai.
[38] Palestine Chronicle Staff, “Israeli Forces Display Stolen Gaza Artifacts in Knesset,” The Palestine Chronicle (August 14, 2024). Online: https://www.palestinechronicle.com/israeli-forces-display-stolen-gaza-artifacts-in-knesset-reports/
[39] Maya Wind, Towers of Ivory and Steel: How Israeli Universities Deny Palestinian Freedom (New York: Verso, 2024).
[40] Amy Goodman, “”Towers of Ivory and Steel”: Jewish Scholar Says Israeli Universities Deny Palestinian Freedom” Democracy Now[March 15, 2024]. Online: https://www.democracynow.org/2024/3/15/maya_wind_towers_of_ivory_and
[41] Neve Gordon and Penny Green, “Israel’s Universities: The Crackdown” The New York Review of Books [June 5, 2024]. Online: https://www.nybooks.com/online/2024/06/05/israel-universities-the-crackdown/
[42] Ibid. Maya Wind.
[43] Ibid. Neve Gordon and Penny Green.
[44] Amy Goodman, “Maya Wind: Destruction of Gaza’s Universities Part of Broader Israeli Project to Destroy Palestinian Liberation” Part 2. Democracy Now [March 15, 2024]. Online: https://www.democracynow.org/2024/3/15/maya_wind_part_2
[45] Ruth Ben-Ghiat, “How Authoritarians Target Universities,” Lucid (July 11, 2023). Online: https://lucid.substack.com/p/from-fascism-to-hungary-and-the-us