Evento brasileiro teve produção legal de haxixe em parceria com associação fitoterápica
Ação executada em dois workshops e realizada pela especialista hash maker Alice Reis, que atua há mais de dez anos com extrações da planta da cannabis. A segunda edição da ExpoCannabis Brasil, foi em parceria com a Club Brasileiro de Fitoterapia Cannabica – CBFC, associação fitoterápica autorizada não apenas ao cultivo, mas a manipulação da planta em solo nacional
Na segunda semana de novembro, na cidade de São Paulo, durante a segunda edição da ExpoCannabis Brasil, foi realizada pela primeira vez em um evento nacional uma ação de produção legal de haxixe, um tipo de extração feita da planta da cannabis, por meio da Club Brasileiro de Fitoterapia Cannabica, CBFC, uma associação autorizada, não apenas a cultivar a planta, mas realizar o manuseio direto, o que possibilita a realização de extrações, como aconteceu na capital paulista. A CBFC é uma ONG sem fins lucrativos, fundada em 2019 pela terapeuta especialista em fitoterapia com cannabis, Thabata Neder. É uma associação fitoterápica no país autorizada judicialmente, não apenas para o cultivo, mas para a manipulação de produtos derivados da planta.
A responsável pelos workshops foi Alice Reis, hash maker, especialista brasileira radicada na Califórnia, responsável pela ação, apresentou possibilidades diferentes de extrações ao público como o Dry Sift, criado a partir do ato de peneirar o material vegetal por meio de uma série de telas. Essa peneiração a seco é um dos métodos mais antigos de criação de concentrados de cannabis, e é bem comum em países como o Marrocos e o Afeganistão. O evento contou com a presença da holandesa Mila Jansen, de 80 anos, considerada a rainha do haxixe, que esteve no país participando da abertura da oficina realizada por Reis.
“O uso das extrações e concentrados da planta da cannabis possuem diversas aplicações e benefícios para fins medicinais, assim como possíveis efeitos adversos. Embora sejam produtos com um enorme potencial terapêutico, percebemos que a mercantilização dos concentrados com alto índice de canabinoides (em especial o THC) não vem acompanhada da Redução de Danos”, destaca Alice.
Como as extrações passaram de subproduto a objeto de desejo?
As extrações e os concentrados se tornaram um dos principais produtos do mercado canábico legal, se há uma década boa parte do material conhecido como trimming, considerado um subproduto com partes retiradas das folhas e de flores menores virava compostagem, hoje em dia na Califórnia, plantações gigantes são destinadas para essa finalidade. E por quê? Por causa das extrações e concentrados de cannabis.
“Há oito anos, se você chegasse em uma fazenda falando em congelar a maconha de qualquer produtor, o mínimo que aconteceria seria alguém rir de você. Contendo canabinoides, terpenos e outras substâncias com potencial terapêutico, os haxixes isolam e capturam os tricomas da planta. Além disso, podem ser usados para as mais inúmeras linhas de produtos na indústria – cosméticos, comestíveis, e vários outros”, destacou Reis, que pesquisou técnicas para a produção de extrações e produziu em países como Marrocos, Espanha, Holanda, além dos Estados Unidos, onde vive e trabalha atualmente.
Um produto com potencial agroeconômico não explorado no Brasil
Na Califórnia, assim como em outros lugares dos Estados Unidos, o desenvolvimento da tecnologia para a produção de extrações, sejam feitas com ou sem solventes, foi uma das grandes viradas deste mercado.
Com a recente decisão do STJ, que obriga a Anvisa a regulamentar em até seis meses o cultivo de cânhamo com até 0,3% de THC para empresas, ampliou-se o debate sobre o autocultivo, com uma pressão para a aprovação do PL 399/2015, que incluiria associações que já cultivam a planta no país.
“Existe uma pressão para a regulamentação do cultivo da maconha no Brasil, que vem dos movimentos associativos, e o judiciário tem sido levado a se movimentar seriamente. A recente iniciativa da reinclusão das flores de maconha na farmacopeia brasileira (pela Anvisa) é mais um sinal do caminho brasileiro pelo cultivo nacional. Não podemos cometer os mesmos erros da Califórnia neste sentido”, conclui Alice.