Federico Fellini e a magia perdida do cinema
Em outros tempos, multidões febris apressavam-se nas salas de cinema para ver o último filme de Jean-Luc Godard, Agnès Varda ou John Cassavetes. Transformado em divertimento visual, o cinema perdeu sua magia, analisa Martin Scorsese. Com esta homenagem a Federico Fellini, o cineasta procura recuperá-la
A câmera em movimento está pesada no ombro de um jovem, ou de um adolescente fora de moda, que anda em direção a oeste em uma rua movimentada do Greenwich Village. Debaixo do braço, ele carrega livros, na outra mão segura um exemplar do semanário Village Voice. Ele avança apressado, ultrapassando homens de casaco e chapéu, mulheres com xales empurrando carrinhos dobráveis de compras, casais de mãos dadas, poetas, músicos e bêbados, passando em frente de farmácias, lojas de bebidas, restaurantes e imóveis particulares. O jovem parece com o pensamento fixo em uma única coisa: a marquise do cinema Art Theatre, onde estão em cartaz Shadows [no Brasil, Sombras], de John Cassavetes, e Les cousins [no Brasil, Os primos], de Claude Chabrol. Ele dá uma parada, em seguida atravessa a 5ª Avenida e continua sua rota em direção a oeste, passa por livrarias, lojas de discos, estúdios de gravações e…