Hitchcock em foco
Os críticos celebram Alfred Hitchcock como um mestre da encenação; o grande público o festeja como o “rei do suspense”. Conjugados, esses entusiasmos deram ao cineasta a imagem de um artista “puro”, preocupado apenas com a arte. Porém, Hitchcock envolveu-se diretamente nos grandes debates sociais de sua época, utilizando a TV norte-americana
Desde que foi “panteonizado”, colocado no topo dessas absurdas listas de melhores filmes da história – Um corpo que cai suplantou Cidadão Kane, de Orson Welles, que, por sua vez, tinha destronado O Encouraçado Potemkin, de Serge Eisenstein –, Alfred Hitchcock tornou-se um ídolo fora do tempo e do espaço. Seja assunto de complicadas exegeses – acima de tudo alimentadas pela psicanálise – ou consagrada a um fetichismo cinéfilo, sua obra rompeu as amarras com as circunstâncias que a viram nascer, os contextos que suscitaram seu surgimento, os conflitos que estavam em sua origem etc. Os museus fizeram exposições a seu respeito, a indústria hollywoodiana produziu remakes de seus sucessos (exemplos disso são a inspiração exercida em Brian de Palma e a reprodução obcecada por Gus van Sant). Sua vida foi vasculhada em biografias reverentes ou “escandalosas”. Seu domínio dos mecanismos de suspense o consagrou mestre do gênero e, para…