Lula no (novo) mundo
Os presidentes que retornam ao poder em geral repetem suas políticas, especialmente se foram bem-sucedidas. Entretanto, Lula não precisa apenas reconstruir a imagem internacional do Brasil, destruída por Jair Bolsonaro, mas deve fazê-lo em um mundo mais conflituoso e com menos oportunidades para a autonomia e a diversificação
A vitória de Lula levanta mais uma vez a questão sobre a mudança da política externa brasileira. Os anos de Bolsonaro mostraram um Brasil diplomaticamente isolado, politicamente ideológico e estrategicamente distante do diálogo global. O Brasil tem atualmente uma face distante do perfil internacional desenvolvido nos anos de Fernando Henrique Cardoso ou de Lula: com suas diferenças, essas gestões sempre buscaram o diálogo regional e a participação no sistema multilateral. Já Bolsonaro fez da política externa a extensão de seus vínculos pessoais a partir de alinhamentos ideológicos ou culturais. Tipicamente, sua política externa consistia em um palco a mais para fazer política interna, mobilizar suas bases de apoio e construir uma identidade ideológica que o distanciasse de outras expressões políticas. O mundo de Bolsonaro não era um mundo “westfaliano”, dividido em Estados organizados em torno de interesses com os quais barganhar. Era um mundo transnacional, dividido em coletivos organizados com…