Mais 590 mil mortes, consciência ética e lutas contra o bolsonarismo em São Paulo
Nova série do Le Monde Diplomatique Brasil traz análises produzidas por militantes de movimentos sociais inspiradas nas mais de duzentas manifestações pela democracia e contra Bolsonaro realizadas em todo país no dia 7 de setembro
O impossível para mim é a falta de coerência,
mesmo reconhecendo em mim a impossibilidade de uma coerência absoluta.
(Paulo Freire, Pedagogia da Esperança, 2011, p.59)
No Brasil, temos mais de 590 mil mortes e de 21 milhões de pessoas infectadas pelo coronavírus. Somos o segundo país em número de mortes,[1] mas o (des)governo federal segue em sua negligência e descaso pela vida no país, surpreendentemente sob os aplausos de alguns.
No dia 7 de setembro, fomos para as ruas no Grito dos Excluídos em centenas de atos, como ocorre desde 1995, para denunciar as muitas exclusões e violências em nosso país e em duzentos atos unificados por Fora Bolsonaro. Foi a continuação da sequência de ações de pressão e manifestações que ocorrem desde maio organizadas por movimentos sociais e partidos políticos pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão e pelo impeachment, em especial diante das atrocidades na pandemia e da cumplicidade da presidência do Congresso Nacional em 2020 e 2021.
Segue quase incompreensível Bolsonaro conseguir mobilizar manifestações de rua com mais de 100 mil apoiadores em 2021 e ter entre 31% a 35% de intenção de votos para 2022.[2] Há muitos estudos, pesquisas e reflexões fundamentais sobre o bolsonarismo em especial nas Ciências Sociais, mas queria destacar aqui, como mulher, militante e sujeito político,[3] alguns aspectos que temos observado e certamente serão aprofundados nos estudos e pesquisas de Filosofia, Psicologia Social, Psicologia Política e Psicanálise.
Uma primeira característica dos “defensores” de Bolsonaro é esta noção ingênua de que ele precisaria ser “defendido” das “grandes injustiças” que estaria sofrendo por parte das instituições democráticas: o TSE, o STF, o Senado Federal através da CPI da Pandemia e, sobretudo, a imprensa. Esta é seu alvo preferencial e constante de ameaças e ofensas, direcionadas a determinados canais de comunicação, mas também difusamente à toda a “imprensa comunista”, além dos xingamentos diretos principalmente a jornalistas mulheres, não por acaso.
Outra noção que a esta se combina é a de que ele seria um “mito” a ser seguido em suas atitudes e declarações bombásticas, autoritárias e violentas, sobretudo nas redes sociais, mas não só; seria um “herói” que enfrenta “com bravura” junto a seus filhos todas as “instituições corruptas” (STE, STF, Senado, imprensa), assim qualificadas porque não acatam suas decisões e interesses, mas também seria uma “vítima” dessas mesmas instituições.
Ele seria então um “líder” da “luta contra o comunismo” e da “nova direita”, que retoma alguns dos elementos centrais do fascismo de outros períodos históricos, em especial da ditadura militar brasileira: o autoritarismo e o poder centralizado, a intrínseca ligação com as Forças Armadas, a virilidade das armas e da violência, a atuação com grupos ligados ao crime, o suposto enfrentamento da corrupção mesmo sendo seus líderes notoriamente corruptos, a redução de políticas sociais e a ampliação das desigualdades sociais, a definição de inimigos a serem desqualificados e perseguidos e de preferência também presos, torturados e mortos, o ataque a todos os atores sociais e instituições que caracterizam a democracia (os movimentos sociais, a imprensa, o Judiciário, o Legislativo), a restrição da liberdade de expressão, das liberdades individuais e da liberdade de imprensa, a perseguição às expressões artísticas, filosóficas e científicas, o populismo e a propaganda ideológica de massas, a intolerância religiosa. Evidentemente esses elementos também estavam presentes de maneira mais virulenta nos regimes autoritários de extermínio massivo como o nazismo e, com exceção da redução de políticas sociais e da ampliação das desigualdades sociais, também no stalinismo, no maoísmo e na ditadura de Pol Pot no Camboja, entre outros. Temos que seguir dizendo o óbvio porque os defensores de Bolsonaro, não por coincidência, questionam o comunismo, mas não questionam o nazismo nem o fascismo; muitos fingem não conhecer nada de História e de Geopolítica, mesmo os pesquisadores adeptos do bolsonarismo – e há, embora não sejam muitos.
Mas há um elemento novo, ao qual se tem dado menos atenção e que explica muito do que temos visto entre os bolsonaristas e a nova direita também nos Estados Unidos, Turquia e Índia: os jogos de manipulação, em que o “líder” também se faz de vítima, é emotivo e mostra suposta “vulnerabilidade”, esbraveja, mas também é capaz de chorar, simula atentados, cobra “lealdade”, “chama” seus apoiadores para o “defender”, como Bolsonaro faz constantemente nas redes sociais e fez descaradamente com grupos de caminhoneiros para o 7 de setembro. Por sua vez, os “líderes” entre os seus seguidores repetem os mesmos comportamentos em seus próprios grupos, conseguindo manter “lealdade” dos seus e organizar ações coletivas “em defesa da Pátria”.
O mito-herói-vítima Bolsonaro precisaria então ser defendido.
A pergunta mais óbvia que fazemos aos bolsonaristas é: os(as) quase 600 mil mortos(as) não precisam de ação alguma em defesa da vida por parte desses “defensores da pátria”? A memória de nossos(as) mortos(as) e doentes não é digna e não merece lealdade? Em uma inacreditável inversão ética, milhares de pessoas seguem defendendo Bolsonaro e preferem se esquecer das muitas centenas de milhares de vidas que se perderam na pandemia, o que é irreparável.
Denunciamos o clã Bolsonaro, todo o (des)governo federal, mas também aqueles que seguem com ele. Quem segue em ações de apoio a Bolsonaro é co-responsável pelas centenas de milhares de mortes pela pandemia no Brasil.
É evidente que Bolsonaro representa interesses econômicos e políticos e grupos bastante claros e nada novos: milícias e policiais violentos, indústria de armamentos, militares e seus muitos privilégios, ultraliberais, latifundiários, setor financeiro, megaempresários sonegadores, extrema-direita organizando-se e nova direita oscilante, parlamentares apadrinhados etc. Com sua máxima recente em 27 de agosto de 2021 e seu deboche característico: “Tem um idiota: ‘ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, escancarou mais uma vez seu mau-caratismo, egopatia e a mensagem óbvia de que veio para legitimar a cultura da morte no Brasil.
Quando saímos do ato no Vale do Anhangabaú em São Paulo e soubemos que haviam estado 150 mil pessoas no ato em apoio a Bolsonaro na Avenida Paulista em 7 de setembro de 2021 fomos tomadas(os) pela indignação. São Paulo também é chão de muitas lutas sociais há décadas pela moradia, pela saúde, pela terra e por reforma agrária, pelo conjunto dos direitos sociais. Há muitas décadas os movimentos sociais lutam aqui, há muitos séculos os povos indígenas e africanos lutam aqui. Mas a imagem massiva na TV era também de 150 mil pessoas, de verde e amarelo, sem máscaras, em sua maioria brancos e de classe média e alta, vestindo personagens de todo tipo. As formas de se manifestar, as pautas, os rostos e os trejeitos eram praticamente os mesmos das abusivas manifestações de 2015 e 2016, que também na Avenida Paulista deram o tom para o golpe contra Dilma, a partir da traição de Temer e de alguns juristas desajuizados.
Foram também muitos que estiveram na Praça dos Três Poderes em Brasília, lotando hotéis no feriadão. Grandes atos em São Paulo e Brasília, financiados oferecendo não só transporte de diversos lugares do país, mas também estadia e, em meio à miséria e ao desemprego em São Paulo, três refeições e/ou um valor em dinheiro, atraíram não apenas a classe média. E por fim, conseguiram organizar também atos em outras capitais do país.
Retomamos que não somente aqueles grupos de interesse legitimam Bolsonaro. Milhares e milhares de pessoas que seguem em seu apoio, organizaram atos e foram para as ruas não apenas negam as ciências ao recusar as máscaras, as vacinas e o distanciamento e ao defender a cloroquina e o “tratamento precoce” – o que por si só já é bastante grave – mas negam a vida do outro. Sim, do outro porque eles “estão imunes”, são “fortes”, não “pegam esse vírus”, essa “gripezinha”. Este é o outro lado do discurso heróico: seriam heróis sobreumanos, defendendo outro herói. Esquecem-se de que, no meio do caminho, são responsáveis diretos pelo aumento do contágio e das mortes de centenas de milhares de pessoas e, indiretamente, por uma nova cultura de morte instaurada por Bolsonaro durante a pandemia. A característica mais óbvia desses “heróis”, verdadeiros egopatas, é justamente a fraqueza moral, a ausência do valor atribuído à vida humana – e à vida em geral.
Não consideram os(as) 590 mil mortos(as), naturalizam suas mortes, não estabelecem relações entre essas mortes e a ausência de vacinas, a ausência ou a demora nas ações do poder público, a inversão de prioridades nas políticas públicas. São diversas dissociações e, no limite, trata-se de uma completa dissociação: “a vida do outro não me diz respeito”.
O descaso com a vida do outro apareceu nos atos pró-Bolsonaro em 7 de setembro também pelo explícito silenciamento sobre a pandemia. Não usavam máscaras e simplesmente não falavam da pandemia, apenas traziam slogans e símbolos da nova direita e suas velhas pautas: volta da ditadura militar, impeachment de ministros do STF, além da defesa incondicional e cega de “Papai Bolsonaro” (sim, há grupos nas redes sociais que assim se referem a ele).
Dois personagens foram entrevistados no ato da Paulista e seus depoimentos divulgados pelas redes sociais foram uma síntese assustadora das pautas da nova direita brasileira e do silenciamento em relação à pandemia: um homem vestido de xerife norte-americano e um casal idoso de verde e amarelo; ele, morador da capital, dizia “é preciso ser como os norte-americanos, que têm mais liberdade e assim enfrentam os comunistas”; eles, que tinham viajado cinco horas de carro de uma cidade do interior do estado, diziam “viemos para defender a família. Estão querendo separar a família”. Obviamente, apesar dos personagens, não usavam máscaras, mas o mais assustador estava no que foi completamente silenciado em suas falas: a pandemia. Podiam estar nas manifestações contra Dilma na Paulista em 2015/2016 ou defendendo Bolsonaro em 7 de setembro de 2021, as imagens eram as mesmas, nem as quase 600 mil mortes separam esses eventos históricos e provocam alguma inflexão nas consciências de seus atores sociais, numa continuidade assustadora.
O entrevistador, de máscara e visivelmente perplexo, tentava continuar os diálogos com perguntas: “Então você acha que temos que ser como os norte-americanos? Como é isso?” ou “Como estão separando nossas famílias? Expliquem”, sem conseguir respostas. Subitamente os interlocutores percebiam não ser mais interessante aparecer nas mídias sociais, motivação de muitos para estar ali, sem importar a pauta, sem importar o contexto e menos ainda a pandemia, que para eles simplesmente não existe, desde que alguém veja e dê um like, porque Bolsonaro é pop. Explicitava-se também outra característica de nossos tempos, muito comum nas redes sociais e, em especial, nas práticas dos bolsonaristas e da nova direita em geral: a fragmentação do pensamento.
Pensamentos fragmentados, junções de frases-slogans que não se sustentam diante de um diálogo. “Deus acima de tudo”, mas que Deus? “Defesa da família”, mas que família? “Contra a volta do comunismo”, mas no Brasil já houve comunismo? “Pela volta dos militares”, mas você conhece a ditadura militar? Sabe quantos foram torturados e mortos? Sabe que os militares estão no governo do Bolsonaro? “Por que você está perguntando isso? Você é comunista?” e por aí vai.
“Mais liberdade”, que liberdade? Para quem? Para nossos(as) próprios(as) amigos(as), familiares e conhecidos(as) que morreram por Covid 19 certamente não. Eles também perderam amigos(as), conhecidos(as) e familiares, mas, em sua dissociação e fragmentação, não há luto nem memória.
Aos bolsonaristas, teremos que responder daqui para a frente com um único refrão: “Mais vida”.
Em sua dissociação, fragmentação, superficialidade, gritos em defesa de Bolsonaro, silenciamento sobre a pandemia e em sua ausência de consciência ética nos níveis mais elementares, estão sendo base de sustentação de um genocídio.
A luta é uma categoria histórica e social.
(Paulo Freire, Pedagogia da Esperança, 2011, p.59)
Os movimentos sociais, alguns dos quais representados aqui nesta série por artigos de mulheres e de homens de longa trajetória de ação e reflexão social e política, há muitas décadas lutamos por políticas públicas e por ampliação dos direitos sociais em todo o Brasil, também em São Paulo: MST; povos indígenas; movimentos de moradia; MNU, Coalizão Negra por Direitos e o conjunto dos movimentos negros; movimentos de mulheres; movimentos de defesa dos direitos das crianças e adolescentes; movimentos de juventude; movimentos LGBT; movimentos de saúde; movimentos das pessoas com deficiências; movimentos ambientalistas; sindicatos; movimentos de educação; movimentos de artistas, militantes da cultura e coletivos culturais; movimentos da população em situação de rua; organizações de defesa dos direitos humanos; associações e ONGs de diversas áreas; grupos das diversas religiões; todas(os) articulando-se também em fóruns, frentes e redes em âmbito local e nacional.[4] A lista é tão longa e diversa quanto são as lutas sociais e a vida de quem luta no Brasil.
Desde março de 2020 e durante toda a pandemia também atuamos muito, como não poderia deixar de ser, porque, antes de tudo, temos consciência ética: nas lutas políticas em diversas denúncias, manifestos, moções, audiências públicas, ações de pressão nas redes sociais e, mais recentemente, novamente em manifestações de rua, por vacinação, pelo fortalecimento do SUS e pelas diversas demandas no campo da saúde, a prioridade absoluta em tempos de pandemia, mas também por políticas e programas de geração de emprego, trabalho e renda e contra os despejos nas ocupações urbanas e rurais, pauta central do MST e dos movimentos de moradia. Também, desde março de 2020, nas redes de solidariedade para a garantia de sobrevivência de pessoas e famílias e apoio a instituições, sobretudo nas periferias dos grandes centros urbanos do país com o agravamento da miséria e da fome, através da distribuição de alimentos, cestas básicas, materiais de higiene e máscaras, mesmo quando o poder público nem tinha começado a assumir essas ações, o que em geral passou a fazer também por pressão. Lembraremos sempre as toneladas de alimentos distribuídos pelo MST em todo o país.
Nunca será demais lembrar que o “auxílio emergencial” é fruto da ação da rede de organizações que se reuniu pela Renda Básica Emergencial no primeiro mês da pandemia, pauta que foi rapidamente abraçada pelos(as) parlamentares de oposição e por fim obteve o apoio de todo o Congresso Nacional. Jair Bolsonaro foi contra em diversos momentos e só cedeu por pressão das organizações e movimentos, abaixo-assinados massivos e atuação do Congresso, mas depois, com a astúcia habitual, o (des)Governo Federal passou a agir como se fosse sua a proposta e parte da população parece ter caído nesse discurso.
Em junho de 2020, Academia Brasileira de Ciências, Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Comissão Arns, Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) uniram-se no Pacto pela Vida e pelo Brasil[5] apontando um conjunto de prioridades para o poder público no enfrentamento da pandemia e denunciando o descaso do (des)governo federal. Antes disso, mas depois também, muitos que se posicionaram em coerência com a consciência ética das instituições que representam estão sendo perseguidos por bolsonaristas fanáticos: CNBB, bispos e padres que se posicionam com clareza são atacados por católicos bolsonaristas; o presidente da OAB é atacado por advogados bolsonaristas. Por não se dissociarem nem se fragmentarem e porque suas consciências individuais caminham junto com as escolhas éticas das instituições em que atuam, são atacados. Os mesmos que calmamente silenciam sobre a pandemia e as quase 600 mil mortes são violentos em seus ataques, sobretudo nas redes sociais.
Durante a pandemia, além das quase 600 mil mortes e milhões de adoecimentos, temos vivido ainda diversos ataques ao conjunto dos direitos sociais no Brasil, sendo os exemplos mais emblemáticos: a proposta de um marco temporal para a demarcação de terras indígenas, tanto em discussão no STF quanto em projetos de lei em discussão na Câmara dos Deputados; o veto presidencial ao projeto de lei que impediria despejos e desocupações urbanas e rurais durante a pandemia[6] e têm sido muitas as desocupações e despejos violentos em todo o Brasil e em especial em diversos municípios do estado de São Paulo; a MP 1045, mais uma tentativa dos ultraliberais em sua sanha de retirar direitos elementares, que foi aprovada na Câmara dos Deputados, mas foi barrada no Senado Federal – para alguns, as grandes perdas de direitos nas Reformas Trabalhista e da Previdência em 2017 ainda não tinham sido o suficiente. Também houve durante a pandemia diversos ataques às políticas ambientais, parte dos quais também contidos pelas lutas e articulações das(os) ambientalistas.
Mas, sobretudo, estamos vivendo na pandemia um recrudescimento da violência, com assassinatos de lideranças do campo,[7] indígenas[8] e a ampliação da violência policial contra adolescentes e jovens negros nas periferias urbanas.[9]
Fora Bolsonaro! é um grito de milhões de pessoas no Brasil: as lutas dos povos indígenas também no Acampamento Luta pela Vida que reuniu 6 mil indígenas de 176 povos de todo o país entre 22 de agosto e 1º de setembro de 2021 e na 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas que reuniu 5 mil mulheres de todos os biomas brasileiros entre 7 e 11 de setembro de 2021 tiveram esta como uma das pautas centrais; as manifestações de rua massivas do Ele Não!, promovidas pelos movimentos de mulheres em muitas capitais no país em setembro de 2018; as ações dos partidos políticos no TSE pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão nas eleições de 2018; as manifestações massivas organizadas pelas centrais sindicais e pelas frentes populares contra o golpe do impeachment de Dilma em 2016 e contra as Reformas Trabalhista e Previdenciária, nas greves gerais e nas grandes manifestações de rua novamente em 2017 e 2018 e que, em 2019, com a participação fundamental dos movimentos de educação, sindicatos de trabalhadoras(es) de educação e movimentos estudantis, foram decisivas nas lutas contra os cortes de orçamento da educação pelo MEC e por Fora Bolsonaro – havia inclusive outra grande manifestação programada para 17 de março de 2020 e que vínhamos construindo com força, quando nossos focos passaram a ser lutar contra a pandemia; as centenas de pedidos coletivos de impeachment de Bolsonaro entregues ao Congresso Nacional em 2020, um dos quais com quatrocentos movimentos sociais, organizações e partidos políticos; os atos virtuais massivos das(os) Artistas pelo Impeachment em abril de 2021; os atos virtuais massivos do Primeiro de Maio das centrais sindicais em maio de 2021; as muitas manifestações de jornalistas, como o editorial conjunto do Le Monde Diplomatique Brasil, Brasil de Fato, ABI e Inesc, entre outros veículos, em maio de 2021 e as novas e grandes manifestações de rua por Fora Bolsonaro que tivemos que retomar mesmo sob risco em centenas de cidades em todo o Brasil em maio, junho, julho, agosto e setembro de 2021.
E continuaremos em muitas ações nos próximos meses, com máscaras e todos os cuidados necessários, com vergonha na cara e em defesa da vida.
São todas ações que mostram que não vamos nos calar diante da cultura de morte e dos descalabros de Bolsonaro, da co-responsabilidade dos bolsonaristas oportunistas, fanáticos e/ou cegos e do apoio velado ou silêncio cúmplice de muitos da nova direita e do velho centrão. Vamos seguir lutando contra a pandemia e em defesa da vida, não esqueceremos as mortes e os adoecimentos da pandemia, as mortes pela violência no Brasil, as torturas e mortes da ditadura militar, sobretudo para que cessem e nunca mais se repitam. Não somos personagens das redes sociais, não estamos preocupadas(os) em aparecer em lives, likes e deslikes, somos sujeitos políticos com consciência ética e não vamos esperar as eleições de 2022, porque a vida segue tendo pressa.
É preciso ter esperança, mas tem de ser esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera.
Já esperançar é ir atrás, se juntar, é não desistir. É ser capaz de recusar aquilo que apodrece a nossa capacidade de integridade e a nossa fé ativa nas obras. Esperança é a capacidade de olhar e reagir àquilo que parece não ter saída. Por isso, é muito diferente de esperar; temos mesmo é de esperançar!”
(Paulo Freire, Pedagogia da Esperança)
Samantha Freitas, feminista, pedagoga e mestre em Educação pela Feusp, professora (sindicalizada) de Educação de Jovens e Adultos em São Paulo, católica praticante, militante de esquerda e de direitos humanos, coordenadora de pastoral social na Grande São Paulo.
Confira os demais artigos da série inspirada no Grito dos Excluídos 2021
– Bolsonaro e o golpe, por Frei Betto
– A moradia é a porta de entrada para todos os outros direitos, por Graça Xavier
[1] Estados Unidos têm 42 milhões de infectados e 673 mil mortes; Índia tem 33 milhões de infectados e 445 mil mortes. Temos hoje 4,55 milhões de mortos e 219 milhões de infectados no mundo, na maior pandemia da história. Os dados são dos Ministérios de Saúde de todos os países que os fornecem, sistematizados em 18 de setembro de 2021, e estão disponíveis na Wikipédia, onde as fontes e as formas de sistematização dos dados também estão disponíveis.
[2] Datafolha em 17 de setembro; PoderData em 3 de setembro. Nunca é demais lembrar que as pesquisas de opinião são amostrais.
[3] Nossa língua segue machista e dizer “sujeita política” ou “atriz política” seria muito estranho.
[4] Destacamos aqui a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, com um conjunto de ações fundamentais desde 2015. Fizeram também documentos importantíssimos para o país e para o estado com propostas de políticas públicas para o enfrentamento da pandemia, mais informações: www.frentebrasilpopular.com.br. As frentes e um conjunto de organizações, sindicatos e movimentos estão articulados também desde 2020 na Campanha Nacional Fora Bolsonaro, responsável pela organização das manifestações de rua de 2021. Veja em: www.campanhaforabolsonaro.com.br.
[5] O Pacto pela Vida e pelo Brasil está disponível nos sites de todas as instituições signatárias, por exemplo, em www.cnbb.org.br.
[6] A Campanha Despejo Zero reúne movimentos de moradia, MST e organizações diversas e articulou PLs em diversos municípios e estados, muitos aprovados, além do PL federal. Veja em: www.campanhadespejozero.org.
[7] A Comissão Pastoral da Terra (CPT) segue há décadas fazendo as denúncias da violência no campo, sistematizadas mais recentemente em relatórios anuais, assim como está em diversas ações para enfrentar essas violências, com as associações de trabalhadoras(es) rurais e o MST. Veja o site: www.cptnacional.org.br.
[8] São muito os casos de assassinatos de lideranças indígenas e as várias formas de violência contra mulheres e crianças e adolescentes indígenas em todo o Brasil no último período. São constantes as denúncias e ações pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Nos sites, também estão as muitas manifestações e acampamentos contra o marco temporal; povos indígenas seguem em luta e vão vencer: www.apiboficial.org, www.anmiga.org, www.cimi.org.br.
[9] A Coalizão Negra por Direitos reúne 400 organizações do movimento negro de todo o Brasil desde 2020. Mais informações em: www.coalizaonegrapordireitos.org.br.