Milei, a coisa e as causas
A vitória de Javier Milei nas eleições primárias argentinas de 13 de agosto é explicada tanto pelos fracassos do neoliberalismo de Macri e como pelo estatismo suave da atual coalizão governista. No entanto, o candidato da extrema-direita não escapa da maldição da encruzilhada argentina, aquela que sentencia que uma vitória eleitoral não é sinônimo de capacidade de impor um projeto político
“Milei pode não estar com a razão, mas aqueles que votam nele estão”, escreveu Martín Rodríguez. O jornalista argentino tocou num ponto sensível que se transformou em gangrena neste dia 13. É disso que se trata: encontrar as razões por trás da loucura do homem que ama cachorros, fala com o além e se acredita o rei de um mundo perdido. Pensá-lo não do ponto de vista de sua indecifrável biografia pessoal, mas sim como um fenômeno político brutal. Há muito tempo a Argentina se tornou um cemitério de ambições hegemônicas, onde os diferentes blocos sociais (e suas expressões políticas) têm a capacidade de vetar os projetos uns dos outros, mas carecem dos recursos para impor os próprios de forma duradoura. Javier Milei e o libertarianismo triunfante nas primárias argentinas emergiram desse labirinto e são consequência de dois fracassos e um triunfo. Javier Milei comemorando o…