Na periferia, um prefeito contra os moradores
Em um distrito popular como Sarcelles, 68% dos eleitores abstiveram-se nas eleições legislativas francesas de junho. Há tempos, a política, e a disputa de projetos, foi substituída por um clientelismo municipal cheio de hostilidade em relação aos habitantes. As palavras vazias sobre convivência não conseguem mais dissimular o peso político das convicções religiosas
Bloqueio policial fecha rua de Sarcelles após manifestação contra violência na Faixa de Gaza Vocês estão cansados desse bando de malandros? Bem, vamos nos livrar deles!” A sala inteira explode de rir e aplaude: nesse 29 de maio de 2015, em Saint-Denis, assiste-se à projeção do filme Ils l’ont fait.1 O entusiasmo do público da periferia norte de Paris não assinala, no entanto, uma nostalgia desmesurada de Nicolas Sarkozy e suas projeções, como aquela, pronunciada dez anos antes em Argenteuil (Val-d’Oise), quando ele era ministro do Interior: nessa comédia revigorante, o excesso é devolvido ao remetente, na grande tradição das reviravoltas salvadoras. Ao pé de uma cidade HLM [habitation à loyer modéré – habitação de aluguel módico], é um candidato às eleições municipais criado à sombra de suas torres, Khalifa Kamara, que se exprime em direção a um homem debruçado sobre sua varanda, apontando com o dedo para Jacques Adie,…