No Egito, a modernização passa pelos faraós
Por onde passa, o regime do presidente Abdel Fattah al-Sisi explora o prestigioso passado antigo de seu país, símbolo milenar de poder. Fonte importante de divisas, a valorização desse patrimônio permite também atenuar as críticas formuladas no exterior a respeito das violações de direitos humanos ocorridas recentemente no Egito
Na rodovia El-Orouba, que liga o aeroporto do Cairo ao centro da cidade, enormes anúncios apresentam, um após o outro, não apenas as maravilhas da Coca-Cola e das agências imobiliárias, mas também as da Esfinge, das múmias milenares, da imponente figura de Tutancâmon e do marechal-presidente Abdel Fattah al-Sisi, em uma montagem com as pirâmides ao fundo. O presidente é o maior promotor do patrimônio do antigo Egito, orgulho do país. Em 3 de abril de 2021, durante o espetacular “Desfile Dourado dos Faraós”,1 ele abriu a cerimônia que marcou a transferência de 22 múmias para o novo Museu Nacional da Civilização Egípcia, evento acompanhando por mais de quatrocentos canais de televisão estrangeiros, como um convite ao retorno dos turistas internacionais. Na ocasião, os outdoors ajudaram a esconder das câmeras a miséria do cotidiano, ocultando as fachadas decrépitas das moradias informais que se amontoam ao longo do trajeto do desfile.…