O dia em que o peronismo perdeu a juventude
A juventude kirchnerista tornou-se protagonista permanente da vida pública e hoje senta-se à mesa das grandes decisões. O paradoxo é que esse crescimento institucional e territorial não conseguiu impedir que os jovens se afastassem progressivamente do peronismo. Da política em geral, mas sobretudo do peronismo. Como explicar isso?
Em um movimento inicialmente espontâneo e depois planejado, que começou no primeiro mandato de Cristina Kirchner [2007-2011] e acabou se tornando visível no segundo [2011-2015], o kirchnerismo conquistou o eleitorado jovem e construiu, em torno de seu encontro com as novas gerações, uma militância, um oficialismo e uma epopeia. Em livro publicado em 2012,[1] situei esse fenômeno no quadro mais amplo da tendência de repolitização juvenil registrada em diversas partes do planeta, dos Indignados espanhóis à Primavera Árabe, o segundo “momento juvenil” da história da humanidade após a explosão inicial dos anos 1960 e a recomposição neoliberal da década de 1980. No caso específico da Argentina, a ativação juvenil surgiu de baixo, na etapa que se abriu após a derrota governista no conflito rural, marcando uma diferença fundamental com o ocorrido em outras latitudes: se no Egito, na Espanha ou nos Estados Unidos os jovens se levantavam contra o poder…