O impacto da crise nas classes sociais
Os trabalhadores franceses estão desiludidos e entendem que são explorados, mas não sabem como se revoltar contra esse “sistema que está louco, sem sentido”. As classes populares, majoritárias no país, são excluídas da vida urbana e vêem-se obrigadas a se afastarem da cidade – o que dificulta sua articulação política
Com a crise poderíamos imaginar um esperançoso efeito revelador: a perversidade do sistema econômico em vigor apareceria em plena luz. Afinal, é difícil acreditar que o imigrante ou o delinquente estão na origem da recessão e dos consequentes dramas sociais vividos por eles quando, na verdade, os principais responsáveis não são denunciados. “No alto está a esfera financeira, a dos empresários e a das grandes multinacionais, mas tudo isso é muito abstrato, é complicado manifestar-se contra essas instâncias”, explica o sociólogo francês Alain Mergier1. Uma segunda esfera seria constituída por “trabalhadores do dia a dia”, em sua diversidade, enquanto uma terceira agruparia os condenados ao inferno da exclusão e da pobreza. Essa última instância inclui categorias populares que aparecem como uma imagem muito mais concreta do que a abstração dos poderosos do mundo: daí a persistência das reações de temor – para não dizer de hostilidade – em relação aos desfavorecidos2.…