O Itamaraty na política externa do governo Bolsonaro
O que antes eram ativos no universo da política externa brasileira, para o novo governo transformaram-se em passivos. Num exercício quase autofágico, capacidades estatais – ou seja, recursos de que dispunha o Estado para promover seus interesses no plano internacional – começaram a ser mobilizadas para extingui-las, em nome de uma alegada renovação
"Amar o perdido/ deixa confundido/ este coração. Nada pode o olvido/ contra o sem sentido/ apelo do Não. As coisas tangíveis/ tornam-se insensíveis/ à palma da mão. Mas as coisas findas,/ muito mais que lindas,/ essas ficarão." (“Memória”, Carlos Drummond de Andrade) No Brasil, algumas teses por muito tempo sustentaram projetos políticos e trabalhos acadêmicos. Entre elas, destacamos o alegado alto grau de autonomia do Ministério das Relações Exteriores (MRE) – o Itamaraty – e o forte padrão de continuidade da política externa brasileira. Ainda que eventualmente ambas as assertivas tenham sido objeto de debates, com a posse de Jair Bolsonaro elas foram decididamente colocadas em xeque. Nas linhas que se seguem, exploramos algumas origens e implicações desse cenário. Considerada uma das mais eficientes agências diplomáticas do mundo, sendo o elevado nível de profissionalismo de seus membros uma de suas principais razões, o Itamaraty conseguiu, ao longo da…