O nadador que não queria flutuar
Mikhail Gorbatchov morreu em 30 de agosto, aos 91 anos, em um ano em que o medo da guerra global retorna. Os obituários viajam pelo mundo. Palavras como estadista, democrata e traidor são intercaladas. Nenhuma das três é inteiramente verdadeira, embora ele tivesse algo de cada uma delas
“Foi, como todos nós, um sonhador.” Este não é o testemunho de nenhum de seus companheiros do Komsomol (a juventude comunista soviética) no qual ele entrou aos 15 anos em 1946, quando os escombros da Segunda Guerra Mundial ainda ardiam, aquele conflito que ele aprendeu na escola a chamar como Grande Guerra Patriótica. Nem de seus colegas da Faculdade de Direito da Universidade de Moscou, nem de nenhum daqueles que compartilharam seu caminho em uma longa série de pequenos e médios cargos políticos até chegar ao Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em 1971. Naquele ano, seu país havia colocado em órbita a primeira estação espacial, mas quase ninguém olhava para as estrelas: todos comentavam baixinho as conversas entre o secretário-geral, o cinza Leonid Brezhnev, e o rebelde Josip Broz, o Tito, um iugoslavo dono de diversas heresias e de uma maravilhosa coleção de gravatas. Tudo isso…