O que teria acontecido se…?
No contexto do debate sobre o passado e sua falsificação, intensificado pela proximidade dos cinquenta anos do golpe de Estado no Chile, vale a pena lembrar que ainda existem perguntas a serem feitas àquele tempo, a fim de evitar o determinismo que tenta nos convencer de que o desfecho daquela história sempre esteve escrito. Hoje, ao contrário, parece mais necessário do que nunca descobrir outros passados possíveis
Na literatura e no cinema, reconhece-se a natureza fictícia de uma narrativa, uma invenção que não afirma como verdadeiro o que é produto do trabalho da imaginação. Diferente é a elaboração de histórias como estratégia para justificar a ação política. Esse é o caso do pseudo argumento utilizado pela direita no Chile para explicar o golpe de 1973: se ele não tivesse ocorrido, uma ditadura comunista seria imposta, a qual teria exterminado a oposição. O que não aconteceu poderia ter acontecido. Assim, o que é afirmado como mera possibilidade tornou-se uma causa, ou o que chamam de “contexto” que explicaria e justificaria o golpe e a ditadura. A fragilidade desse argumento não reside apenas na relação causal fraca, mas também no fato de que a ameaça que supostamente pairava sobre a democracia era apenas uma intenção atribuída e nunca demonstrada. É o velho argumento das guerras preventivas e da justificativa…