O torniquete presidencial peruano
Desesperançados, os peruanos elegem seu próximo chefe de Estado em abril de 2021. Após uma sequência de renúncias e destituições, quatro presidentes sucederam-se no comando do país desde a última eleição, em 2016. Dos quatro precedentes, eleitos desde 2001, três foram indiciados por corrupção e um preferiu o suicídio. Como explicar tamanha instabilidade?
“Voto cerrado.” Passava um pouco da meia-noite de 16 de novembro de 2020 quando a Assembleia Nacional do Peru encerrou a votação dos parlamentares sob uma torrente de aplausos. O deputado Francisco Sagasti – de direita – acabava de ser escolhido por seus pares para assumir a Presidência da República. Ele substituía Manuel Merino – também de direita –, que havia assumido a chefia do Executivo uma semana antes, quando seu antecessor, Martín Vizcarra – igualmente de direita –, fora destituído em uma operação orquestrada por parlamentares tão conservadores quanto ele. Dois anos antes, Vizcarra havia herdado o cargo supremo após o último presidente eleito (em 2016), Pedro Pablo Kuczynski, envolvido em um caso de suborno, ter sido forçado a renunciar. Banqueiro, Kuczynski não era mais de esquerda que seus predecessores, Ollanta Humala (2011-2016), Alan García (2006-2011) ou Alejandro Toledo (2001-2006). Há um ano, Chile, Colômbia e Equador foram varridos por enormes protestos populares que denunciavam as políticas econômicas neoliberais.1 Na época, o Le Monde celebrava a “exceção peruana”: “Enquanto os países da região experimentaram intensas mobilizações nos últimos meses…