Brasil 2023: margens de golpes e lutas
Leia o artigo inédito de Alysson Leandro Mascaro, publicado no livro “Brasil sob escombros: desafios do governo Lula para reconstruir o país”, lançamento da editora Boitempo
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Toda tentativa de apagar a história recente, de implementar dispositivos de amnésia, carrega em seu próprio coração o rastro daquilo que deseja apagar, a sombra de uma memória eclipsada
Apesar de aparentemente ultrapassado o terror vivenciado na capital federal, não podemos esquecer que a conclusão do bolsonarismo, ainda alimentado por seus financiadores intelectuais e econômicos, é de que não há resposta satisfatória à República
A invasão representou o ápice do devaneio salvador, narrativa que corrobora com toda a criação mitológica em torno de uma personalidade. Nesse caso específico o devaneio vem sendo alimentado gradativamente através das redes sociais e dos grupos em aplicativos de mensagens
Não por acaso, diz Milan Kundera que “para liquidar os povos, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, sua cultura, sua história”. Para os que cultuam o inculto, restam os estilhaços da história sem culpa embalados por atordoantes cantigas que sequestram nosso hino nacional em amostras covardes de um falso patriotismo piegas
O Brasil necessita mudar (urgentemente) sua cultura de deixar em segundo plano o planejamento estratégico de segurança para ameaças internas e externas. A segurança e defesa é um tema sensível e que trabalha nas sombras; uma possível falha ou mau planejamento pode ocasionar em um desastre e foi o que aconteceu, e poderia ser ainda pior
Há semanas temos visto a movimentação dos “patriotas” nas portas dos quartéis. O que não tem sido evidenciado com devida ênfase pelos analistas é a forte tônica religiosa dos seus manifestantes, em geral composta por evangélicos e, em menor grupo, também por católicos. Muitos vídeos e relatos comprovam o forte vínculo religioso das manifestações, frequentemente regadas a momentos de oração, louvores gospel e “atos proféticos”
Durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, atitudes do ex-presidente e de seus apoiadores não foram levadas a sério, seguidas de ridicularização e deboche generalizado. Além disso, quantas vezes não chamamos Bolsonaro de “louco”?
Eleito em 2021, o presidente peruano Pedro Castillo cometeu erros. Muitos erros. Porém, os equívocos dos líderes de esquerda pesam mais que os outros, já que a mídia perdoa tudo dos conservadores. Se as falhas de Castillo contaram tanto, foi porque ofereceram a seus adversários uma justificativa para o projeto que haviam imaginado desde que ele chegou ao poder: derrubá-lo
A conquista da posição tão almejada – leia-se, a presidência da República – fez de Bolsonaro o protagonista de uma sucessão interminável de atos inconscientes que o conduziam à sua própria destruição política
Bolsonaro tem como grande alvo a mobilização da sua base social mais coesa e, em especial, um foco nos policiais militares, pois o teste sobre a força e o tamanho do apoio deste setor armado é de suma importância
Mesmo a opção menos pessimista traz o quadro de um Exército fortemente politizado. Cabe então perguntar: qual é o plano do presidente?