Os argentinos vão se rebelar?
A “motosserra” da austeridade do presidente Javier Milei restabeleceu os equilíbrios macroeconômicos da Argentina à custa da contração do consumo popular e do aumento da dívida pública, sobretudo junto a credores internacionais. Quais são os reflexos desse processo em termos de contestação popular?
“Vizinho, vizinha, não seja indiferente!” Enquanto a noite portenha avança, algumas vozes ecoam na esquina das avenidas Corrientes e Medrano, no centro de Buenos Aires. Um punhado de moradores do bairro se reúne nesta noite de outono para um cacerolazo. A ideia é simples: fazer barulho batendo em panelas ou outros utensílios para protestar contra o governo. Ao redor, táxis e carros buzinam em apoio; alguns transeuntes param e gritam “Que se vayan todos!” [Fora todos!], o slogan histórico do levante popular de dezembro de 2001. Na época, as revoltas contra a crise econômica e a classe política ganharam tanta amplitude que levaram à renúncia do governo e à fuga de helicóptero do presidente Fernando de la Rúa (Partido Radical, centro). As assembleias de bairro – asambleas de barrios – formavam então um elo essencial da cadeia de protestos. Desde a chegada ao poder de Javier Milei em dezembro de…