Os muitos giros de El Salvador contemporâneo
A chegada de Nayib Bukele à presidência fez as análises citarem um “giro bukelista” no país. Contudo, esse é também um giro autoritário, notadamente à luz da tentativa de autogolpe em 2020, da destituição dos cinco magistrados não alinhados da Corte Suprema do país em 2021 e da reinterpretação da Constituição que lhe permitiu concorrer à reeleição em 2024
El Salvador, localizado na América Central, tem 6,5 milhões de habitantes em 20.935 km². Na segunda metade do século XX, o país sofreu com guerras cujos efeitos foram devastadores. Um de seus legados foi um país enxuto em recursos e mão de obra. Nas cadeias globais de valor, suas exportações se concentram em manufaturas de baixo valor agregado, principalmente têxteis, voltadas ao mercado norte-americano. Ao lado dessas exportações, a principal fonte de divisas salvadorenhas são remessas de migrantes, cujo valor equivale a um quarto do PIB do país. A história recente de El Salvador se confunde com a figura do presidente Nayib Bukele. Prefeito em Nuevo Cuscatlán em 2012, Bukele passou de quadro do partido advindo da guerrilha Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN) para artífice da virada autoritária no país. Atualmente em seu segundo mandato, o presidente pode ser caracterizado como um populista sem propósitos ideológicos firmes.1…