Pesadelos na cozinha
Dos pequenos bistrôs aos grandes restaurantes, as humilhações fazem parte do cotidiano de quem trabalha na cozinha. Enraizada em uma concepção militar de hierarquia, a violência é justificada como uma etapa de passagem obrigatória. Porém, enquanto os novos recrutas estão mais dispostos a denunciar abusos, alguns chefs começam a combater o sistema
Em uma tarde de quinta-feira, na escola técnica de hotelaria de Metz, cerca de cinquenta alunos falam sobre suas primeiras experiências no setor de bares, restaurantes e bufês. “Meu supervisor me encostou contra a parede e me bateu”, “levei uma ovada na cabeça porque esqueci de colocar os merengues no forno”, “jogaram um pano molhado no meu rosto dizendo: ‘Você é o escravo’”, indicam os depoimentos escritos em caligrafia infantil em folhas avulsas. Seus autores têm no máximo 20 anos, mas muitos já experimentaram a tradição de violência – física e verbal – enraizada em um setor com 1,2 milhão de trabalhadores.1 Diante dos alunos naquele dia, a banalidade do fenômeno não surpreende Marion Goettlé. Durante muito tempo, essa jovem mulher, chef do Café Mirabelle em Paris, manteve silêncio sobre o menosprezo diário e o assédio sexual que sofreu de um antigo patrão. “Vivia essas violências como inerentes à profissão,…