Por um cinema de todos e para todos
Democratizar o cinema não é apenas abrir salas: é abrir escuta, abrir olhares e reconhecer que o povo de São Paulo – especialmente o povo preto, periférico, indígena, LGBTQIA+, com deficiência – tem direito de se ver, se ouvir e se narrar
Neste 19 de junho, quando celebramos o Dia do Cinema Brasileiro, não homenageamos apenas uma arte ou uma indústria. Celebramos uma linguagem que pulsa nas periferias, que se reinventa nos coletivos, que resiste nas telas alternativas, e que encontra novos caminhos mesmo quando nos tentam silenciar.
O cinema brasileiro nunca foi apenas entretenimento. Sempre foi território de disputa simbólica, de memória, de denúncia e de sonho. Do sertão ao asfalto, da favela ao centro, da quebrada ao mundo. Nossa tela é plural — e precisa ser cada vez mais acessível, inclusiva e representativa.

Crédito: Divulgação
Na Spcine, temos trabalhado para que a justiça audiovisual deixe de ser apenas um ideal e se torne política pública. Inovamos não só em tecnologia, mas em linguagem, escuta e afeto. Porque democratizar o cinema não é apenas abrir salas: é abrir escuta, abrir olhares e reconhecer que o povo de São Paulo – especialmente o povo preto, periférico, indígena, LGBTQIA+, com deficiência – tem direito de se ver, se ouvir e se narrar.
É por isso que investimos em circuitos populares, como o Circuito Spcine, que leva o cinema gratuito a todas as regiões da cidade. Criamos sessões pensadas para públicos diversos: a Sessão Azul, voltada a crianças autistas; o Circuito Amicão, que acolhe tutores com seus pets; e programações especiais para idosos, mães com bebês e comunidades indígenas. Inovação, aqui, é sinônimo de cuidado e inclusão.
Ao celebrarmos o cinema brasileiro, também reafirmamos o nosso compromisso com quem faz cinema na raça, na parceria e na urgência. Com quem escreve, atua, edita, costura som e imagem como forma de existir e resistir. Com quem transforma a precariedade em potência criativa. Com quem faz do cinema um espaço de reencantamento coletivo.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de políticas que fortaleçam o audiovisual como direito. E isso exige investimento, escuta ativa, descentralização, formação, distribuição justa e espaços permanentes de exibição.
O futuro do cinema brasileiro não está apenas nos streamings ou nos festivais internacionais — ele está no nosso presente, quando colocamos uma criança pela primeira vez diante de uma tela e ela se reconhece. Está em cada coletivo que ocupa a rua com um projetor e transforma a praça em cinema. Está em cada política pública que entende que cultura não é gasto: é investimento em dignidade.
Viva o cinema brasileiro. Que ele seja cada vez mais nosso, cada vez mais de todos.
Emiliano Zapata é natural de São Miguel, Zona Leste de São Paulo. Diretor de inovação e políticas audiovisuais na Spcine, o comunicólogo e cineasta é apaixonado por semiótica e busca inovação com justiça audiovisual.