Preparando uma nova geração de jovens para o mercado de trabalho
A precariedade educacional, a ausência de referências familiares no mercado e a falta de oportunidades criam diversas inseguranças em relação ao futuro profissional
Historicamente, a taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos é mais elevada do que a média no Brasil. Dados da última PNAD-IBGE mostram que 14,3% dos jovens estão desempregados, mais do que o dobro da taxa nacional, que é de 6,9%. Este fenômeno, em boa parte, está associado ao tempo que os jovens investem para se qualificar e adquirir experiência profissional. Em especial, avaliações de impacto demonstraram que os programas de qualificação de maior êxito são aqueles que combinam formação técnica e parcerias com empresas para estágios práticos e intermediação de vagas de trabalho, como uma experiência bem-sucedida em Bangladesh, que obteve um aumento de 25% na empregabilidade dos alunos e foi destaque na publicação da JOI Brasil sobre Qualificação Profissional.
Entretanto, há um grande debate na literatura sobre o papel das habilidades socioemocionais na formação dos jovens e como adaptar os programas de qualificação profissional tradicionais com esses componentes. Posto de outra forma, num cenário de profundas transformações tecnológicas e surgimento de novas opções de carreira, como adaptar as políticas públicas e os programas de inclusão produtiva destinados aos jovens brasileiros?
Em primeiro lugar, é importante destacar o cenário de grande desigualdade socioeconômica do país, em que a maior parte dos beneficiários de programas de qualificação profissional convive com um cotidiano de grande vulnerabilidade. Sabemos que, no Brasil, jovens de regiões periféricas enfrentam barreiras estruturais que limitam suas perspectivas profissionais e dificultam sua inserção no mercado formal. Fatores como precariedade educacional, ausência de referências familiares no mercado de trabalho e a falta de oportunidades concretas criam diversas inseguranças sobre o futuro profissional.
Nesse contexto, é importante discutir a necessidade de um agente facilitador, que ofereça suporte técnico e emocional para apoiar esses jovens a se posicionarem no competitivo mercado de trabalho. Pensar numa abordagem integrada, que vá além da capacitação técnica e foque também no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e práticas, preparando-os não só para entrar no mercado, mas para construir trajetórias profissionais mais sólidas. Essas intervenções são urgentes, especialmente diante das desigualdades estruturais e das transformações tecnológicas que estão redefinindo o mundo do trabalho.
A Geração Z, hiperconectada e dinâmica, busca carreiras que combinam propósito e flexibilidade, segundo o Relatório de Tendência de Gestão de Pessoas 2024. Exatamente devido a essa característica, 68% dos entrevistados acreditam que a GenZ é a que proporciona maiores desafios para a área de gestão de pessoas das empresas. Para os jovens das classes C, D e E, porém, os desafios são agravados pela falta de redes de contato e a insegurança sobre suas capacidades. Esses fatores os afastam do mercado formal, demandando soluções adaptadas à sua realidade.
Existem diversas estratégias para lidar com esses desafios, como simulações de entrevistas, mentorias e visitas a empresas, que são capazes de proporcionar não só a preparação técnica, mas também a confiança necessária para uma inserção bem-sucedida. Além disso, rodas de conversa e networking permitem conectar os jovens a profissionais e ampliar sua visão sobre o ambiente corporativo.
Desde 2021, mais de 55 mil jovens passaram pela Plataforma PROA. Desde então, o programa cresceu, passando de dois para 11 estados em 2024, atingindo quase metade dos municípios brasileiros. Com uma taxa de empregabilidade de até 80% entre os capacitados em tecnologia, o PROA tem desempenhado um papel crucial no fortalecimento da empregabilidade no Brasil, preparando e empoderando os jovens para o mercado de trabalho, principalmente aqueles de baixa renda, grupo formado por 70% de mulheres e 65% autodeclarados negros.
Em síntese, é urgente compreender que a inclusão produtiva dos jovens no Brasil requer mais do que formação técnica. É fundamental o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como resiliência e adaptabilidade, para que eles prosperem em um mercado de trabalho em constante transformação. Ademais, a inclusão produtiva do jovem é um dos pilares da agenda de pesquisa da JOI Brasil, com destaque para avaliações de cursos de programação, do novo ensino médio e de componentes socioemocionais no ensino técnico. Acreditamos que o uso de evidências é fundamental para o aperfeiçoamento das políticas públicas e para a construção de um mercado de trabalho com mais oportunidades e equidade.
Alini Dal’Magro é CEO do Instituto PROA.
Michelle Claro é especialista em Dados do Instituto PROA.
André Mancha é gerente da JOI Brasil (Jobs and Opportunities Initiative).