Quando a democracia dos Estados Unidos organizava o terrorismo racial
Como manter um regime racista em um país onde a igualdade entre brancos e negros foi formalmente consagrada pela abolição da escravidão? O novo livro de Loïc Wacquant, do qual publicamos alguns trechos escolhidos, ajuda a entender como o direito e a política podem garantir uma dominação feroz… mesmo em um país que já se considerava um paraíso democrático
A expressão “Jim Crow” deriva do título de uma canção acompanhada de uma dança que data de 1832, “Jump Jim Crow”, interpretada por Thomas Dartmouth “Daddy” Rice, o artista de palco mais aclamado de sua época, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. Jim Crow se tornou um personagem central nos espetáculos de menestréis que ridicularizavam os supostos traços de caráter dos negros das plantações. Vestido com roupas remendadas, gesticulando de chapéu na mão, ele se contorcia para provocar o riso e cantava, supostamente em “etíope”, a lenda de um escravo contente com sua condição. Historiadores usaram o termo “Jim Crow” para nomear uma época, a “era da segregação”, delimitada por duas decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos, que em 1896 aprovou e em 1954 invalidou a separação legal das “raças” no sul do país. Assim, a expressão designa o regime de dominação racial mais violento da era moderna…