Que democracia reconstruir?
Embora a derrota de Bolsonaro seja obviamente uma prioridade absoluta, a fim de frear a destruição do país hoje em curso, ela não basta para garantir a efetiva redemocratização do país
O golpe de 2016 é o marco do declínio da democracia brasileira. A ampla coalizão de interesses que derrubou Dilma Rousseff mostrou, naquele momento, seu descompromisso com o princípio mínimo da democracia liberal – aquele que determina que o voto popular é o único mecanismo legítimo de acesso ao poder. Na Presidência, Michel Temer trabalhou por um rápido desmonte dos pactos incorporados na Constituição de 1988, iniciando uma fase de governo antipopular. Em 2018, o veto militar, midiático e judicial à candidatura de Lula (um “impeachment preventivo”, na expressão do cientista político Renato Lessa) confirmou que a democracia eleitoral não vigorava mais no Brasil. Resultado algo inesperado, a presidência de Jair Bolsonaro coroou o processo de desdemocratização, cerceando o exercício de direitos, reprimindo a oposição popular, investindo contra a separação de poderes e desprezando o conjunto de garantias fundamentais que ainda vigoram na letra da lei. É importante lembrar do…