Raças e classes: o caldeirão latino-americano
Com as independências do século XIX, a América Latina abandonou oficialmente as hierarquias raciais que prevaleceram durante a colonização: não se devia mais distinguir os descendentes de indígenas, escravos e colonos europeus. Mas a divisão étnica do período imperial foi substituída por uma “pigmentocracia”, que faz da cor da pele um marcador social
Na América Latina, como em qualquer outra parte, o capitalismo alicerçou suas hierarquias de classes apoiando-as nas distinções étnicas e raciais preexistentes. Às duas categorias surgidas na conquista (século XVI) – de um lado, os autóctones; do outro, os colonizadores espanhóis e portugueses –, o desenvolvimento da escravidão acrescentou uma terceira, com estatuto jurídico, étnico e social diferente. Contudo, a integridade desses três grupos não resistiu ao lento processo de mestiçagem pelo qual a região passou. O século XVII assistiu, assim, ao surgimento de um sistema de castas que subdividiu os não totalmente brancos em diversas categorias jurídicas baseadas em seu grau de mestiçagem ou na proporção de cada um de seus componentes raciais. Reivindicando os valores iluministas, as independências aboliram oficialmente toda e qualquer forma de discriminação da sociedade. O espaço latino-americano viu, no entanto, perdurar uma “pigmentocracia” que atribui à cor da pele, à textura dos cabelos e…