Resenha de “A duração entre um fósforo e outro”, de Zulmira Correia
Terceiro livro de poemas da escritora, artista, designer e pesquisadora cearense Zulmira Correia, A duração entre um fósforo e outro (2024) venceu a 1a Edição do Prêmio Tato Literário na categoria poesia, tendo sido publicado pelo selo homônimo.
A obra conta com texto de apresentação da escritora capixaba Carla Guerson, autora dos livros O som do tapa (Editora Patuá), Fogo de Palha (Editora Pedregulho) e Todo mundo tem mãe, Catarina (Editora Reformatório).
O livro é dividido em três partes: porta, cicatriz e chave, e apresenta ilustrações, ou, melhor, anotações de caderno da autora. Os poemas, como sinalizado pelo título, buscam captar essencialmente transições, além de trazer elementos memorialísticos, como o resgate de fotografias antigas. Outra característica marcante de A duração entre um fósforo e outro são os títulos dos poemas, que muitas vezes fazem referência a horários, como “07:00” e “08:46”.
Ao longo da obra, observa-se um caminho traçado pelo eu-lírico durante os capítulos, que passa por um processo de progressão da adolescência para a fase adulta. Isto é acentuado pelo fato de que Zulmira une a emoção atrelada às anotações ao texto impresso, circulando, sublinhando e, por vezes, rasurando o texto com os recursos analógicos advindos dessas anotações.
Outro ponto interessante em relação à poesia de Zulmira se dá pela experimentação tanto da linguagem quanto do desenho do texto, como se vê, por exemplo, no poema”19:41” (p. 89): “eai? cd vc? pq n responde?/e vc? qnd volta? e a casa? já vendeu?/pq n responde?”. Alguns dos textos trazem forte influência da poesia visual, particularmente, o início da parte chave, que faz uma brincadeira com “(o)” ao longo de quatro páginas (96-100).
Desta forma, podemos dizer que A duração entre um fósforo e outro é um experimento formal radical, mas bem-sucedido, onde se entrelaçam, de forma criativa e envolvente, o impresso e o analógico, o texto e o desenho, a escrita e a rasura.
Laura Redfern Navarro (2000) é poeta e jornalista, graduada pela Faculdade Cásper Líbero (FCL) pesquisa corpo, linguagem e liminaridade, foi vencedora do ProAC em 2022 com o projeto “O Corpo de Laura”, que consiste em um livro e uma plaquete.