Sade e o espírito do capitalismo
Em Os 120 dias de Sodoma, o Marquês de Sade (1740-1814) constrói um mundo que anuncia o pesadelo do advento da sociedade produtivista, com sua racionalização do espaço, do tempo e dos corpos, capaz de eliminar, no ser humano qualquer traço de espontaneidade. E a própria humanidade
A principal obra de Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814) é Os 120 dias de Sodoma (1785). Trata-se de uma sociedade totalitária, a qual o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, em seu filme Salò (1976), transpôs para a Itália fascista, já em ruínas, de 1944. Imaginando um rapto maciço de indivíduos jovens e velhos dos dois sexos, com todos os vícios e todas as virtudes, por um grupo de libertinos, o marquês de Sade constrói o “mundo perfeito” da produção sexual com a finalidade do “gozo absoluto” (a dos libertinos). Esse gozo seria a representação de uma produtividade recorde, ela própria absoluta. (Reprodução) Contemporâneo do início da industrialização, Sade propõe uma visão mais radical que a dos economistas fisiocratas1, seus contemporâneos, que viam na racionalização da agricultura o único futuro da economia. Para ele, a relação com o corpo torna-se taylorista antes de Taylor2. Isto porque responde…