Saúde mental e consciência coletiva em foco
Janeiro Branco surge como um convite para repensarmos a saúde mental, especialmente no ambiente de trabalho
A saúde é um dos pilares mais importantes para o sucesso no trabalho e na vida. No mês de Janeiro Branco, uma campanha dedicada à conscientização sobre saúde mental, é fundamental refletir sobre como o bem-estar físico e emocional impacta diretamente a produtividade e o desempenho profissional. Não é possível alcançar saúde mental sem considerar a saúde integral. Em 2023, 52% dos brasileiros consideraram a saúde mental como o principal problema de bem-estar no país, um aumento significativo em relação aos 18% registrados em 2018.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram como a saúde e o trabalho estão profundamente interligados. Fatores como sedentarismo e o consumo de substâncias prejudiciais, como álcool e tabaco, agravam doenças crônicas como obesidade e diabetes. Além disso, a globalização e o aumento das viagens internacionais ampliaram a disseminação de doenças infecciosas, criando novos desafios para sistemas de saúde e ambientes de trabalho.
A saúde mental é uma prioridade urgente, impactando milhões de pessoas em todo o mundo. Em 2019, cerca de 1 bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental, incluindo 14% dos adolescentes. Durante e após a pandemia de Covid-19, os casos de depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% globalmente, reforçando a gravidade da situação. Em 2019, 301 milhões de pessoas conviviam com ansiedade, enquanto 208 milhões viviam com depressão. Esses transtornos resultam na perda de 12 bilhões de dias de trabalho anualmente, custando à economia mundial quase US$ 1 trilhão (OMS e OIT).

O suicídio também é uma questão crítica de saúde pública, responsável por mais de 1% das mortes globais, com 58% dos casos ocorrendo antes dos 50 anos. Além de provocar perdas irreparáveis para famílias e comunidades, essa tragédia também ocorre em uma fase de plena maturidade intelectual, o que representa uma perda significativa de conhecimento e contribuições sociais. O suicídio é, em grande parte, um reflexo do impacto devastador dos transtornos mentais quando não tratados adequadamente.
No Brasil, o cenário não é diferente e apresenta desafios preocupantes. O país lidera globalmente em prevalência de ansiedade, com 9,3% da população afetada, o que equivale a cerca de 18,6 milhões de pessoas (G1). Além disso, 26,8% dos brasileiros relataram diagnóstico médico de ansiedade em 2023, com maior prevalência entre jovens de 18 a 24 anos (CNN Brasil). Em 2024, uma pesquisa revelou que 68% dos brasileiros se sentiram nervosos, ansiosos ou tensos, embora menos da metade tenha buscado ajuda profissional (CNN Brasil).
No ambiente de trabalho, os impactos são notáveis: mais de 209 mil afastamentos por transtornos mentais foram registrados em 2022 (Ministério da Saúde). Paralelamente, o SUS realizou 27,9 milhões de atendimentos psicológicos em 2023, um aumento de 23% em relação ao ano anterior. Nos primeiros seis meses de 2024, já foram registrados 13,9 milhões de atendimentos, evidenciando a crescente demanda por suporte.
Essas estatísticas apontam para a necessidade de ações concretas. Quando fatores como estresse, ansiedade e sedentarismo não são gerenciados, o impacto negativo na produtividade é imediato. O estresse crônico reduz a concentração e prejudica a tomada de decisões. A falta de sono e uma alimentação inadequada afetam os níveis de energia e a capacidade de foco, enquanto o sedentarismo aumenta os riscos de doenças crônicas e a fadiga. Em contrapartida, um ambiente que promove a saúde e o bem-estar pode gerar benefícios significativos: trabalhadores saudáveis são mais produtivos, criativos, ausentam-se menos e mantêm relações interpessoais mais fortes, além de experimentarem maior satisfação profissional.
O Janeiro Branco surge como um convite para repensarmos a saúde mental, especialmente no ambiente de trabalho. Empresas e profissionais podem adotar práticas simples, como o incentivo à atividade física, a promoção de uma alimentação saudável, treinamentos para gerenciamento de estresse, pausas regulares e a oferta de suporte psicológico acessível. Criar uma cultura de bem-estar e paz, promovendo a tolerância e a empatia, também se torna essencial. O Brasil merece atenção: precisamos de mais autocuidado e consciência coletiva. Que o Janeiro Branco seja um ponto de partida para um ano inteiro de atenção ativa à saúde mental. Que atitude simples você pode adotar hoje para cuidar de si mesmo e apoiar os outros ao seu redor?
Rubens Bollos é médico e mentor. Mestre e doutor (Ph.D) em Ciências da Saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pós-doutorado em Biologia do Desenvolvimento (USP/ICB). Presidente da Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão.