Tudo o que nos separa
L’Histoire de Souleymane, de Boris Lojkine, aborda a condição do entregador clandestino. Au boulot! [Ao trabalho!], de Gilles Perret e François Ruffin, coloca uma grande burguesa cheia de certezas frente a frente com as mulheres que mantêm a economia de pé por um salário mínimo (pág. 27). O sucesso desses longas-metragens nas salas de cinema francesas sugere uma nova atenção às realidades do trabalho, sua precariedade e seus perigos (pág. 24). Porém, quando o governo da França exige mais esforços para cobrir os déficits – dificuldades para acessar o seguro-desemprego, sete horas a mais na jornada – e o setor automobilístico europeu fraqueja (pág. 25), o abismo se aprofunda entre duas relações que se estabelecem com o trabalho assalariado: entre aqueles que o evitam (pág. 28) ou questionam sua vocação (pág. 22) e muitos outros, que só podem viver o trabalho como uma injustiça (a seguir)
Ficar sem ele é uma maldição; ter um é muitas vezes um suplício, especialmente quando o trabalho dá a sensação de um afogamento em um oceano de tarefas entorpecentes, excessivas, extenuantes, desprovidas de sentido. Desde os anos 1980, os governantes franceses contribuem para fazer do trabalho assalariado uma experiência de injustiça. E consolidam uma alternativa: é isso ou nada. Neste outono de 2024, nos setores automotivo, químico e de supermercados, sucederam-se anúncios de redução de pessoal. O ministro da Indústria francês, Marc Ferracci, receia pela eliminação de dezenas de milhares de postos. A secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Sophie Binet, projeta 150 mil cortes. No entanto, apesar da conjuntura europeia desfavorável e do fracasso evidente de sua política, o governo acelera: a jornada de trabalho deverá aumentar; o número de servidores, diminuir em vários serviços públicos – incluindo o de geração de emprego. No Parlamento, uma maioria muito…