Ucrânia, o dilema da África
Fórum universal de 193 países, a Assembleia Geral da ONU revela as rachaduras de uma nova geopolítica. A votação das resoluções relativas à Ucrânia mostra uma África dividida e relutante em seguir as escolhas ocidentais. Hesitações sem precedentes, que não podem ser explicadas apenas pela renovação das relações do continente com a Rússia
Com estupefação e incompreensão, as chancelarias ocidentais acolheram, em 2 de março de 2022, os resultados da votação de uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas deplorando a agressão perpetrada pela Rússia e exigindo a saída imediata de suas tropas da Ucrânia. Ainda que o texto tenha sido adotado por uma ampla maioria (141 vozes contra 193), metade dos países que não apoiaram eram africanos (17 abstenções em 35, 1 contra). Além disso, oito Estados do continente não tomaram partido na votação, inaugurando uma prática hoje bem instalada de abstenção calculada. A África é, ao mesmo tempo, a região mais reticente em seguir o movimento de condenação e a mais dividida na reação ao conflito; somente cerca de 50% de suas capitais aprovam os textos submetidos à apreciação. Na ponta de lança para isolar politicamente Moscou na ONU, os ocidentais se apropriaram de toda sua influência para convencer os…