Um jornalismo de Guerra Fria
Nas sombras, eles influenciam mentes, infiltram-se nos serviços secretos, inspiram os tomadores de decisão europeus. Manipulam as redes sociais, espalham mentiras, impulsionam desconhecidos à Corte Suprema. Semeiam a discórdia, envenenam inocentes, sabotam instalações. E estão por toda parte: no comando da mídia, nos corredores do Palácio de Buckingham, no Salão Oval da Casa Branca. Quem sabe até nestas páginas? Os Illuminati? Não, ainda mais poderosos: os espiões russos!
Desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, centenas de artigos, documentários, programas de rádio e de televisão e já quase uma dezena de livros alertam, na França, sobre o poder dos agentes de inteligência do Kremlin – tão infalíveis que não conseguiram prever a derrota do Exército Vermelho no Afeganistão, o fim da União Soviética e a resistência ucraniana à invasão russa. O inverno começou com alarde. Em 19 de dezembro de 2024, um dossiê de 24 páginas na revista L’Express estampava: “Espiões russos no coração do Eliseu [o palácio presidencial francês]. Do general De Gaulle a Emmanuel Macron, nossas revelações”. Poucos dias depois, o jornal Le Monde publicou uma série de cinco reportagens de duas páginas cada uma, intitulada “Guerra Fria: na época das ‘toupeiras’ da KGB”.[1] Ambos trazem listas de suspeitos de colaboração ativa ou passiva com Moscou: os socialistas Charles Hernu e Claude Estier, André…