Um trabalho de formiga
Isolamento das assalariadas, ausência de tradição sindical, enfraquecimento das relações de força tradicionais: são inúmeros os obstáculos para a mobilização das pessoas que trabalham no setor do apoio domiciliar. Exemplos em Ardèche, Berry e SommePierre Souchon
“A senhora já se vestiu, senhora Dumas? Vou arrumar seu quarto. Tome seu café da manhã enquanto isso.” Pauline Dumas1 dirige-se lentamente para sua cozinha, nessa manhã de março. Essa senhora tem dificuldade para se locomover: com mais de 80 anos, ela precisa da ajuda regular de uma acompanhante. Limpeza, passeios, tomar medicamentos – e leitura do Dauphiné Libéré, o jornal do departamento de Ardèche: Pauline Dumas enxerga mal. Ela escolhe alguns títulos e a senhora Galou passa a mão em volta de seus ombros e em seguida lê sua seleção de artigos. Há nove anos essa antiga executiva do setor comercial da empresa Air Liquide trabalha para a Associação Prestadora de Serviço de Apoio e Acompanhamento a Domicílio da Ardèche Meridional (Saadam). Como os cerca de trinta assalariados da estrutura, ela fez uma requalificação profissional, recebendo um terço de seu antigo salário. “Éramos cabeleireiras, secretárias da direção, mecânicos, cozinheiros: todos foram obrigados a abandonar seu ofício de origem. Com exceção do turismo e cuidar de pessoas idosas, não há emprego em nossa região”, explica Ginete Landelle, presidente da Saadam.
Membro da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) quando estava na Air Liquide, a senhora Galou trouxe sua experiência sindical para o apoio domiciliar: ela é representante da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e também dos funcionários. A tarefa é imensa em um setor pouco habituado à militância. Primeira dificuldade: o montante da cotização. “Quando explico às minhas colegas que é 1% do salário mensal, elas me respondem: “Você viu o salário que recebemos?” A maioria trabalha em tempo parcial e não tem mais nada no final do mês. Elas preferem investir 8 euros para alimentar suas famílias do que gastar para se filiar a um sindicato…”. Graças à determinação da senhora Galou, e à discreta colaboração da senhora Landelle, que atuou no setor da saúde CGT, a Saadam conta com uma dezena de apoios domiciliares sindicalizados. “É um trabalho de formiga que fazemos há quinze anos”, diz Louise Leyvastre. À noite, essa funcionária dos correios aposentada, principal agente do sindicalismo no campo do apoio domiciliar, dirige uma reunião na Union Locale CGT de Aubenas.
Durante a refeição, as trabalhadoras presentes contam seus problemas. Baixos salários, falta de reconhecimento, precariedade, jornada de trabalho reduzida, convenções coletivas desrespeitadas, presidentes benevolentes de associações que desconhecem os direitos trabalhistas: se as reivindicações são muitas, faltam forças. “Uma trabalhadora de Vallon-Pont-d’Arc havia nos alertado”, conta Christine Martin, técnica em intervenção social e familiar (Tisf) de formação. “Levamos meses para reunir as mulheres, para organizar a reunião de informação… Resultado, ninguém apareceu: ficamos sozinhas com a mulher.” Os obstáculos são vários: muito isolado, trabalhando individualmente em setores extensos e se encontrando raramente, é difícil reunir os trabalhadores de apoio domiciliar. Além disso, “é um mundo sem cultura sindical, mergulhado na ideia do trabalho informal”, lamenta-se Louise Leyvastre. “Sabemos que é preciso ter ‘fé’, ‘instinto maternal’ para fazer esses trabalhos – enfim, uma vocação. Isso invalida completamente as relações de forças”.
Convencer as trabalhadoras a fazer uma greve é quase impossível: “Eu ouvi dizerem: ‘O que acontecerá com as pessoas de quem eu estou cuidando?’ É o outro lado dessa extraordinária consciência profissional”, observa Sylvie Francheteau, Tisf. Acompanhante, Isabelle Giron cita o “medo de represálias” no caso de sindicalização: “a maioria das companheiras tem uma jornada de trabalho reduzida. Como querem trabalhar período integral, elas não têm interesse em se associar à CGT” – um nome que muitas trabalhadoras temem, pois está “associado ao comunismo, à revolução”. Louise Leyvastre é otimista: os apoios domiciliares CGT foram recebidos recentemente pelo Conselho Geral, e o número de sindicalistas passou de 24 em 2008 para cerca de 60 este ano.
Acompanhante em Berry, Laurence Bonneterre trabalha desde 2004 “como representante” de uma associação que conta com cerca de 180 trabalhadores. As pessoas atendidas são suas empregadoras. “Tenho inveja das colegas do departamento de Ardèche: elas têm um dia de folga por semana, trabalham um fim de semana por mês e têm férias remuneradas…” Essas pessoas que oferecem serviços terceirizados são privilegiadas. O combustível de Laurence Bonneterre não é reembolsado; chega a trabalhar quinze dias seguidos; já foi contratada para tratar de uma pessoa que sofre de Mal de Alzheimer… “Neste momento, estou esperando para receber um pagamento considerável que está bloqueado na Justiça: a pessoa de quem eu cuidava faleceu, e os filhos não estão de acordo com o testamento.” Profundamente apegada a esse trabalho que “dá um sentido à [sua] vida”, ela procura fazer valer algumas reivindicações. Apoiada pela CGT, à qual ela se filiou, essa mãe de família criou um grupo: “Falamos dos maus-tratos a idosos, mas eu falaria mais sobre os maus-tratos a acompanhantes”.
Rádios e jornais locais apoiaram a iniciativa, lançada com grande distribuição de panfletos nos para-brisas dos carros e nas caixas de correio das casas. Quando da primeira reunião pública de informação que ela organizou, Laurence Bonneterre se viu sozinha, enquanto o setor de apoio domiciliar contava com milhares de trabalhadores no departamento de Indre. “Nunca vejo meus colegas, trabalhamos dispersos. A precariedade na qual nos encontramos exacerba as rivalidades. Estou desencorajada… E é terrível, quando distribuímos os panfletos, somos chamadas de ‘torcheuses de culs’”.2 Desgastada porque “trabalha duro”, porque a chamam para trabalhar “quinze minutos ou meia hora” ou para “cuidar do jardim”, Laurence Bonneterre “quase desistiu”. Ela se encontra regularmente com Michel Sapin, presidente da Câmara Socialista de Argenton-sur-Creuse: “Ele é gentil, me ouve, mas não liga: eu não represento ninguém além de mim mesma”.
Quando das últimas seleções profissionais para assistentes maternais em Somme, Catherine Matos também organizou uma reunião de informação. Filiada à CFDT, ela recebeu a visita de apenas duas pessoas que “se enganaram: pensavam que iam votar”… Nessa região atingida em cheio pela desindustrialização, as requalificações no setor de apoio domiciliar são numerosas. Mas as assistentes maternais comparam seus salários – entre 2,18 e 5 euros por hora – com os da indústria: “Para elas, não é um trabalho de verdade. É um pequeno complemento”. Difícil, nessas condições, informar sobre as convenções coletivas ou sobre os direitos: os trabalhadores não pensam nisso. A própria Catherine Matos assinou seu primeiro contrato, em 2002, fora de qualquer quadro legal: ela também ignorava a existência da lei. “Na indústria é simples: há o local dos sindicatos”, observa essa ex-operária de Parisot-Sièges de France. “Lá, não há ninguém a quem recorrer – quando se tem a ideia de procurar alguém.” Se a formação das assistentes maternais é repleta de recomendações sobre primeiros socorros e segurança da criança, ela não inclui nada sobre direitos trabalhistas, lamenta Catherine.
Pauline Dumas termina a refeição que a senhora Galou lhe preparou. “Se eu for para o hospital, você vai me visitar, Patrícia? – Não fale assim!” Pauline trabalhou muito tempo como operária em uma fábrica têxtil que fechou após a guerra. Depois foi trabalhar como acompanhante: “Fiz isso por doze anos, até me aposentar em 1984. Na época, éramos três na região e não trabalhávamos em período integral. Hoje, são trinta acompanhantes! Para aumentar nossa renda, vendíamos calendários e bilhetes de loteria. Vivíamos modestamente. Outros tempos, outros costumes…” De verdade?
Pierre Souchon é colaborador do Le Monde Diplomatique (França).