Washington, o mestre do jogo
Um espectro assombra a Europa: o da pane seca. Desde a invasão da Ucrânia, as sanções ocidentais contra a Rússia provocaram uma alta brutal nos preços do gás e do petróleo, e lançaram uma batalha mundial pelo acesso às energias. Os europeus são os idiotas desse conflito. Incapazes de planificar uma transição para os recursos renováveis, eles trocam com urgência sua dependência em relação a Moscou por uma submissão a Washington (pág. 20). Isso porque a energia é uma questão de soberania. Ela compromete fornecedores e consumidores, oferece aos cartéis produtores uma arma geopolítica, como a que foi empregada durante o choque do petróleo de 1973 (pág. 18), e deixa as potências autossuficientes em uma posição de força.
Desde a Segunda Guerra Mundial, a energia desempenha papel crucial nos interesses diplomáticos e militares dos Estados Unidos. A política energética do país foi por muito tempo dominada pelo receio de sua vulnerabilidade: com o declínio, considerado irreversível, de sua produção de petróleo e uma dependência cada vez maior das importações provenientes do Oriente Médio, Washington se considerava à mercê da escassez. Essa obsessão atingiu seu ponto culminante em 1973 e 1974, quando os produtores árabes impuseram um embargo a suas exportações de petróleo para os Estados Unidos em represália pelo apoio a Israel durante a Guerra do Kippur (ler artigo na pág. 18), e de novo em 1979, logo após a Revolução Islâmica no Irã. Para superar esse sentimento de fragilidade, o país estabeleceu uma presença militar permanente no Golfo Pérsico, da qual fez uso em diversas ocasiões para assegurar um abastecimento ininterrupto.1 Hoje em dia, ainda que mantenham…