A onda rosa
Desde a virada do século, as vitórias eleitorais da esquerda na América Latina suscitaram dúvidas pertinentes sobre a possibilidade de mudança efetiva a partir da tomada do poder. Quando a teoria se torna prática, é necessário retomar e aprofundar esse debate
Em janeiro de 2010, a Universidade de Nottingham, na Inglaterra, reuniu cerca de cem pesquisadores para tentar fornecer uma explicação política para a “onda rosa”, a série de vitórias eleitorais da esquerda (ou da centro-esquerda) na maior parte dos países latino-americanos, entre 1998 e 20061. Esse fenômeno – novo – de acesso “maciço” ao poder levou a maioria dos interventores a reabrir um velho debate, pelo prisma da experiência política de uma região na qual seu interesse já não se limita mais à teoria: para mudar o mundo é preciso tomar o poder? A primeira constatação foi que a direita não desiste de fazer isso. “Nos anos 1980”, observou William Robinson, professor da Universidade de Santa Barbara (Califórnia), “uma parte das classes dominantes desalojou a elite tradicional e tomou o poder de Estado para facilitar o processo de globalização liberal, que permite a ela auferir um lucro maior.” Assim, a…