As ruínas da intolerância
O que embasa o desejo de queda do atual governo federal é, pura e simplesmente, um neofascismo de péssimo odor e calcado no mais genuíno ódio. A aceitação de um dos pedidos de impeachment protocolados na Câmara Federal pelo nefasto presidente da Casa, o deputado Eduardo Cunha (PMDB), é a prova inconteste dissoHelcio Kovaleski
“Tempo que não se toma, não se detém pra ninguém”
James Joyce1
Desde pelo menos o século XVII, com as obras do dramaturgo inglês William Shakespeare, e, depois, o final do século XIX, com as do escritor russo Fiodor Dostoievski e do pensador alemão Sigmund Freud, já se sabe que a natureza humana é mais insondável do que se imagina. A maioria das obras desses três autores é cabal quanto ao estudo da complexidade do ser humano. A partir e depois deles, a psicologia, a psicanálise e a psiquiatria ocupam-se, há pouco mais de um século, dos recônditos da alma.
Ocorre que talvez ainda careça de uma investigação mais aprofundada o porquê de determinadas manifestações de sentimentos declaradamente mal-intencionados e até de ódio puro e simples. Em linhas gerais, o que é o ser humano enquanto indivíduo senão uma espécie de portador de heranças socioculturais atávicas, ancestrais, dimensionadas em medos, crendices, modos de pensar e de agir e conceitos e preconceitos mais arraigados que heras sobre muros – para o bem e para o mal? Isso é mais evidente quando se leva em conta a dimensão cotidiana da vida. Independentemente de – e, ao mesmo tempo, devido ao fato de – pertencerem a uma mesma família, grupo, religião, segmento cultural ou classe socioeconômica, o que se percebe é que cada vez mais o ser humano é, mesmo, imprevisível. De repente, “do nada”, como se diz, pipocam aqui e acolá manifestações de sentimentos expressados em ações e palavras que denotam que, afinal, as coisas não vinham tão bem assim. Epifanias perturbadoras despontam e, na maioria das vezes, surpreendem incautos e até mesmo quem se achava preparado para ouvir, ver e presenciar certas situações, como se o acaso operasse diuturna e incansavelmente pregando peças nos desavisados. Todavia, uma análise mais acurada demonstra que nada vem “do nada”, que o deus-acaso não é tão poderoso assim e que, para surpresa de muitos – e decepção de outros tantos –, no final das contas, tudo tem, sim, uma explicação.
Essa percepção é mais nítida quando se analisam as transformações profundas pelas quais o mundo vem passando, hoje, nos campos social, político, econômico e cultural. Ao mesmo tempo, acompanha-se pari passu o crescimento cada vez maior do espectro midiático proporcionado pelo avassalador avanço da comunicação em tempo real, protagonizada pelas redes digitais sociais. Se, por um lado, isso está sendo indiscutivelmente benéfico para o progresso humano, uma vez que denota uma amplitude crescente das liberdades democráticas em âmbito mundial, por outro, percebe-se que também pode ser potencialmente perigoso, já que possibilita a formação de contextos nos quais se misturam o arrefecimento de valores e de direitos humanos e o recrudescimento de uma cultura da intolerância. O axioma “dar voz a todos indistintamente” é um dos paradoxos da rede mundial de computadores porque pode conter em si todas as possibilidades de inserção e de exclusão.
No Brasil, esse estado de coisas começou no segundo semestre de 2014 na política e, aos poucos, foi migrando para as searas socioeconômica e cultural. E ficou patente naquele período entre o primeiro e o segundo turno das eleições gerais, em outubro, quando se enfrentaram os então candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). A polarização entre ambos revelou um contexto até então surdo e mesmo invisível. De lá para cá, com a vitória de Dilma nas urnas, a coisa acirrou-se a ponto de transcender a dicotomia “petralhas versus coxinhas”. As principais redes sociais tornaram-se os meios por excelência do embate, potencializado “mcluhaniamente” (no melhor estilo “o meio é a mensagem”) pela tomada descarada de posicionamento da maior parte da chamada grande mídia.
O que se tem visto, desde então, é um festival profundamente reacionário – logo, pavoroso – de ignorância, arrogância, prepotência, preconceito e do mais reles racismo. A situação chegou ao ponto de aparecerem bonecos simulando Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sendo “enforcados” em um viaduto de Jundiaí (SP) – como se o “antipetismo” tivesse se tornado a narrativa por excelência do país, como uma panaceia ao contrário, ou uma espécie de antípoda do proverbial “toque de Midas”.
Essa discussão torna-se mais clara quando se avaliam algumas das frases infames escritas em cartazes e faixas durante as manifestações que ocorreram em várias cidades do país ao longo de 2015 e que dão a exata medida de como o Brasil se deu conta de que abrigava uma brasa viva encoberta chamada “fascismo”: “Porquê (sic) não mataram todos em 1964?”; “País sem corrupção é país onde rico manda, pois quem é rico não precisa roubar”; “Dilma, pena q (sic) não te enforcaram no DOI-Codi. Fora Dilma e PT”; “O povo é soberano! Intervenção militar não é crime”; “Dilma, você só tem três opões: renúncia, suicídio ou impeachment. A escolha é sua”; “Odeia o Brasil? Vá prá (sic) Miami lavar privada!”; “Prefiro lavar privada em Miami a passar fome em Cuba”; “Lula cachaceiro, devolve o meu dinheiro”, “Lula… Achamos seu dedo!!! Tá no cú (sic) do povo brasileiro”; “Presidente, queremos nossa bolsa” (frase estampada sobre foto de uma bolsa chique em camisetas vestidas por duas mulheres, aparentemente de alto poder aquisitivo); “Chega de doutrinação marxista. Basta de Paulo Freire”; “Comunista é bom morto. Dilma, Maduro, Hugo, Fidel, Cristina, Lula, lixo do mundo”; “Feminicídio sim! FOMEnicídio não!! #foraPT!!!”. E por aí vai.
Como se isso não bastasse, uma escola pública de Taboão da Serra (SP) fez estudantes do ensino fundamental e médio desfilarem, em 7 de setembro de 2015, segurando cartazes mostrando as várias formas de identificar a suástica. Como parte da comemoração, alunos portando símbolos nazistas em suas indumentárias participaram de uma “exposição” da escola. “[…] a incultura se revela no fato dos professores não perceberem como que é a representação visual disso, em um Sete de Setembro. Um desfile é imagem, nada além de imagem. Há aí um desconhecimento histórico que faz com que não se tenha noção do que é percepção em cultura visual. É isso que é o sinal da desinformação, nenhum professor do passado faria algo assim, pois saberia que tipo de mensagem principal iria calar nos olhos”, resumiu o filósofo Paulo Ghiraldelli.2
Para completar o bestiário, em 19 de setembro de 2015, a Praça Juscelino Kubitschek, no centro de Niterói (RJ), amanheceu com cartazes que pregavam discursos de ódio. “As mensagens – acompanhadas de ilustração que fazia referência ao grupo racista norte-americano Ku Klux Klan – ameaçavam: ‘comunista, gay, judeu, muçulmano, negro, antifa [antifascista], traficante, pedófilo, anarquista. Estamos de olho em você’”, informou matéria da Revista Fórum.3
Eis parte de um mosaico horripilante de manifestações xenofóbicas, racistas, sectárias, preconceituosas, sexistas, machistas, homofóbicas, chauvinistas e fascistas. Esse último verbete, aliás, meio que engloba todos os outros, como uma “palavra-valise” – para tomar por empréstimo o sentido proposto pelo escritor irlandês James Joyce. É frequente encontrar nos veículos de comunicação, mas principalmente nas redes sociais, a palavra “fascismo” utilizada de forma ostensiva e gratuita. A impressão que dá é que não há uma coesão de sentido – ou, por outro lado: o que existe na maioria dos comentários é uma profusão de sentidos para denotar, ou conotar, o fascismo.
Mas, afinal, o que significa “fascismo”? E por que esse termo voltou à tona com toda a força? Qual é a razão de encontrar inúmeros sentidos para falar da mesma palavra? Isso é sintoma de falta de conhecimento acerca do verbete ou é porque ele carrega em si vários sentidos?
Conforme o Dicionário Oxford de filosofia,4 “fascismo” (do latim fasces, “o feixe de varas e o machado conduzido diante dos cônsules romanos como insígnia de autoridade”) não é um termo com uma só significação. Ipsis litteris, a definição do dicionário é esta: “O amálgama um tanto desconexo de aspirações e influências cristalizadas nos governos de Mussolini na Itália, de Hitler na Alemanha e de Franco na Espanha, na primeira metade do século XX. Alguns de seus elementos são: o nacionalismo; a hostilidade aos ideais de igualdade; o ódio às minorias, aos degenerados e aos dissidentes; o elitismo; a oposição aos ideais do liberalismo e, em particular, à liberdade de expressão; o culto a um líder carismático ou Übermensch; a crença no destino da raça e o amor ao simbolismo político, de que são exemplo os uniformes e outros símbolos militaristas. Essa ‘mistura’, no seu conjunto, é movida pela crença na regeneração por meio da atividade física e da luta”.5
No entanto, é o escritor, ensaísta e teórico da comunicação italiano Umberto Eco quem disseca o fascismo no livro Cinco escritos morais.6 No capítulo “Fascismo eterno”, ele mostra como compreendeu integralmente o significado desse regime totalitário relatando, com fina ironia, sua própria experiência de vida durante a Segunda Guerra Mundial: “Em 1942, com a idade de dez anos, ganhei o primeiro prêmio nos Ludi Juveniles (um concurso com livre participação obrigatória para jovens fascistas italianos – o que equivale dizer para todos os jovens italianos). Tinha trabalhado com virtuosismo retórico sobre o tema: ‘Devemos morrer pela glória de Mussolini e pelo destino imortal da Itália?’ Minha resposta foi afirmativa. Eu era um garoto esperto”.7
De acordo com Eco, o termo “fascismo” adapta-se a tudo porque é possível eliminar de um regime fascista um ou mais aspectos, “e ele continuará sempre a ser reconhecido como fascista”. Assim, ele propõe uma lista de treze características típicas daquilo que chama de “Ur-Fascismo”, ou “fascismo eterno”, não sem antes alertar que “tais características não podem ser reunidas em um sistema; muitas se contradizem entre si e são típicas de outras formas de despotismo ou fanatismo. Mas é suficiente que uma delas se apresente para fazer com que se forme uma nebulosa fascista”: o culto da tradição; a recusa da modernidade; o irracionalismo e, por consequência, o culto da ação pela ação; a não aceitação de críticas; a busca do consenso “desfrutando e exacerbando o natural medo da diferença”; o apelo às classes médias frustradas; o nacionalismo; os adeptos do fascismo devem sentir-se humilhados pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo, pois “os fascismos estão condenados a perder suas guerras”, já que são “constitucionalmente incapazes de avaliar com objetividade a força do inimigo”; para o Ur-Fascismo, não há luta para a vida, mas, antes, “vida para a luta. Logo, o pacifismo é conluio com o inimigo; o pacifismo é mau porque a vida é uma guerra permanente”; o elitismo, que, segundo o autor, “é um aspecto típico de qualquer ideologia reacionária, enquanto fundamentalmente aristocrática”, uma vez que, “no curso da história, todos os elitismos aristocráticos e militaristas implicaram o desprezo pelos fracos”; o heroísmo como norma; como tanto a guerra permanente quanto o heroísmo são jogos difíceis de jogar, o Ur-Fascista transfere sua vontade de poder para questões sexuais – o que, para Eco, é a origem do machismo; e, por fim, os indivíduos enquanto tais não têm direitos, e “o povo” é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime “a vontade comum”.8 Qualquer semelhança entre essas características e o “conteúdo” e o “sentido” das frases das manifestações não é mera coincidência; é constatação mesmo.
Muito antes de Umberto Eco, a filósofa alemã Hannah Arendt já havia tratado com propriedade do fascismo em As origens do totalitarismo, cuja primeira publicação data de 1949. A obra reúne reflexões sobre a história e a filosofia política, e é dividida em três partes: “Antissemitismo”, “Imperialismo” e “Totalitarismo”. O escritor José João Neves Barbosa Vicente, no ensaio “Hannah Arendt: antissemitismo, imperialismo e totalitarismo”, ao falar desse livro, conclui que “não se trata, portanto, apenas de uma história dos fatos, mas, fundamentalmente, de uma genealogia de formas de pensar”.9
Particularmente, o capítulo “O imperialismo continental: os movimentos de unificação – Partido e movimento”, do segundo volume (“Imperialismo e a expansão do poder”), em que Arendt fala sobre os primórdios do fascismo como partido, mostra uma atualidade aterradora à luz do que pode estar em curso, hoje, no Brasil: “O fato de que a tomada do poder pelos nazistas foi tida geralmente como uma dessas ditaduras unipartidárias demonstrou simplesmente até que ponto o pensamento político ainda estava arraigado nos velhos padrões estabelecidos, e quão pouco estava o povo preparado para o que realmente estava por vir. É verdade que também o partido fascista insistiu que era um movimento. Mas não o era; havia meramente usurpado a expressão ‘movimento’ para atrair as massas, como se evidenciou logo que se apossou da máquina do Estado sem mudar drasticamente a estrutura de poder do país, contentando-se em preencher todas as posições governamentais com os membros do partido. Exatamente por identificar-se com o Estado, o que tanto os nazistas como os bolchevistas sempre cuidadosamente evitaram, o partido fascista deixou de ser ‘movimento’, já que os movimentos caracterizavam-se pela luta contra a estrutura do Estado, enquanto o fascismo o aceitou na sua imobilidade estrutural”.10
No tocante ao racismo, Hannah Arendt mostra que a coisa pode ser ainda pior. Se hoje ele pode ser tomado como atitude individual ou por parte de determinados grupos, no capítulo “A ideologia racista antes do racismo”, a pensadora alemã lembra que sua origem foi como ideologia de poder. E arremata: “Afirmou-se várias vezes que a ideologia racial foi uma invenção alemã. Se assim realmente fosse, então o ‘modo de pensar alemão’ teria influenciado uma grande parte do mundo intelectual muito antes que os nazistas se engajassem na malograda tentativa de conquistar o mundo. Porque, se o hitlerismo exerceu tão forte atração internacional e intereuropeia durante os anos 1930, é que o racismo, embora promovido a doutrina estatal só na Alemanha, refletia a opinião pública de todos os países […] A verdade histórica de tudo isso é que a ideologia racista, com raízes profundas no século XVIII, emergiu simultaneamente em todos os países ocidentais durante o século XIX. Desde o início do século XX, o racismo reforçou a ideologia da política imperialista. O racismo absorveu e reviveu todos os antigos pensamentos racistas que, no entanto, por si mesmos, dificilmente teriam sido capazes de transformar o racismo em ideologia”.11
Conforme aponta Arendt, até o período da chamada “corrida para a África” – entre meados do século XIX e início do século XX –, o pensamento racista competia com muitas ideias livremente expressas que, dentro do ambiente geral de liberalismo, disputavam entre si a aceitação da opinião pública. “Somente algumas ideias chegaram a tornar-se ideologias plenamente desenvolvidas, isto é, sistemas baseados numa única opinião suficientemente forte para atrair e persuadir um grupo de pessoas e bastante ampla para orientá-las nas experiências e situações da vida moderna. Pois a ideologia se difere da opinião na medida em que se pretende detentora da chave da história, e em que julga poder apresentar os ‘enigmas do universo’ e dominar o conhecimento íntimo das leis universais ‘ocultas’, que supostamente regem a natureza e o homem.”12
Com o perdão da justaposição de ideias antagônicas já de origem, tais reflexões tornam-se ainda mais reveladoras com a infeliz lembrança dos onze princípios estabelecidos pelo ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels: o princípio da simplificação e do inimigo único; do contágio que esse inimigo pode causar; da transposição dos males sociais a esse inimigo; de sua exageração e desfiguração; de sua vulgarização; da orquestração de boatos acerca desse inimigo até ele transformar-se em notícias que serão replicadas pela “imprensa oficial”; da renovação, com o bombardeio de novas notícias sobre o inimigo; do verossímil; do silêncio; da transferência – potencializando um fato presente com um fato passado –; e da unanimidade.13
No atual momento sociopolítico do Brasil, pode-se denominar esse “inimigo” de “Partido dos Trabalhadores” – ou o crescente acesso de pessoas das classes D e E aos bens de consumo; a criação de uma lei federal que regulamenta a profissão de empregado doméstico no país; o empoderamento de mulheres chefes de família, notadamente nos estados do Nordeste, por meio do programa Bolsa Família; o avanço do reconhecimento de direitos sociais de mulheres, negros, homossexuais e indígenas; o fortalecimento da Lei Maria da Penha; a aprovação da Lei do Feminicídio; ou quem é contra a redução da maioridade penal – e as demonstrações de ódio fascista continuarão as mesmas. Esse é, provavelmente, um dos retratos hegemônicos do país hoje, uma de suas temáticas principais. O fato de tudo isso culminar nos insistentes e intermitentes pedidos de impeachment de Dilma é a retórica, o discurso. Ou seja, o que embasa o desejo de queda do atual governo federal é, pura e simplesmente, um neofascismo de péssimo odor e calcado no mais genuíno ódio. A aceitação de um dos pedidos de impeachment protocolados na Câmara Federal pelo nefasto presidente da Casa, o deputado Eduardo Cunha (PMDB), é a prova inconteste disso. Para livrar-se do próprio enforcamento, ele partiu para o ataque.
Nesse contexto, é oportuno lembrar-se do filme O ovo da serpente,14 do diretor sueco Ingmar Bergman, “a melhor reprodução cinematográfica da República de Weimar e do surgimento do nazismo na Alemanha”.15 Obviamente é aterrorizante ao menos vislumbrar que a história possa repetir-se – muito provavelmente como farsa, como vaticinou Karl Marx.16 Mas é de uma urgência ululante refletir sobre isso.
Pode ser paradoxal sugerir que todo esse estado de coisas possa ensejar uma relação qualquer com uma frase célebre do pensador alemão Walter Benjamin: “Podemos dizer que os provérbios são ruínas de antigas narrativas, nas quais a moral da história abraça um acontecimento, como a hera abraça um muro”.17 Todavia, não há como não caracterizar essas manifestações fascistas que vêm ocorrendo no país como “ruínas da intolerância”. Uma intolerância amalgamada e sedimentada ao longo de séculos e que vem irrompendo com força vulcânica. Entretanto, se Benjamin pode apontar a palavra “ruína” para um sentimento nostálgico e até mesmo positivo em relação aos provérbios, que ele chama de “ideogramas da narrativa”, o mesmo não se pode dizer sobre todas as formas de intolerância. “Ruína”, nesse caso, denota “estado de destruição, de degradação; modificação para pior; aniquilamento, extermínio”18 – em suma, aquilo que foi destruído pelo tempo.
As cinzas que cobriam a brasa viva do fascismo, no Brasil, estão desaparecendo rápido demais. E o mesmo vento que as espalha faz o coração da brasa ameaçar tornar-se chama. Urge apagá-la e transformar essa brasa em cinzas de um tempo imemorial, terminantemente impedido de voltar à tona.
Helcio Kovaleski é jornalista, roteirista e crítico de teatro, autor do livro Festival crítico: dez anos escrevendo sobre o Fenata (Festival Nacional de Teatro). Atualmente é assessor parlamentar da Câmara Municipal de Ponta Grossa, Paraná.