Brasil é destino atrativo para investimentos estrangeiros em tempos de incerteza global
Diversificação da matriz econômica, ambiente macroeconômico estável e crescimento em setores estratégicos contribuem para a atratividade do país
Em 2023, o Brasil se consolidou como o segundo principal destino de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no mundo, segundo relatório da OCDE, atraindo US$ 64 bilhões em capital externo. Esse resultado positivo, mesmo diante da queda global no fluxo de IED, demonstra a confiança dos investidores internacionais no potencial do país. A diversificação da matriz econômica, o ambiente macroeconômico estável e o crescimento em setores estratégicos, como energia, infraestrutura e agronegócio, contribuem para a atratividade do Brasil.
Vale destacar que, em março de 2024, o país atingiu o melhor resultado dos últimos doze anos em termos de IED, com US$ 9,6 bilhões recebidos. Esse recorde reforça a tendência de melhora na captação de investimentos estrangeiros, evidenciando o otimismo do mercado internacional em relação às perspectivas de crescimento do Brasil. O presente texto desenvolverá três pontos que contribuem para a análise das expectativas dos investidores estrangeiros: Economia Interna, Quadro Geopolítico e estabilidade institucional.
Nos últimos meses, tem sido observado um relacionamento mais harmonioso entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário no Brasil. Essa mudança rumo a uma relação mais estável e cooperativa entre esses poderes contribui significativamente para a criação de um ambiente político previsível e favorável aos negócios. Quando os diferentes poderes do Estado trabalham de forma equilibrada, cria-se uma atmosfera de estabilidade que reduz a incerteza e proporciona maior segurança aos investidores. A estabilidade política é fundamental para fomentar a confiança dos agentes econômicos, permitindo que eles planejem suas atividades e façam investimentos de longo prazo com mais tranquilidade e confiança. Essa relação harmônica entre os poderes também pode facilitar a adoção de políticas públicas que promovam o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável, contribuindo para fortalecer ainda mais o cenário político e econômico do país.
As projeções para o crescimento do PIB brasileiro em 2024 se mantêm positivas, em torno de 3%, o que indica um mercado em expansão e com potencial para gerar retornos atrativos para os investidores. Esse crescimento demonstra a solidez da economia brasileira e a confiança na retomada do desenvolvimento do país. Quanto à estabilidade dos preços, a taxa de inflação está em trajetória de queda, o que reduz a incerteza e torna o ambiente mais previsível para os negócios. O IPCA acumulado nos últimos doze meses fechou março de 2024 em 3,93%, segundo IBGE. Esse número representa uma ligeira queda em relação ao mês anterior. A estabilidade nos preços permite que as empresas planejem seus investimentos com maior segurança e contribui para a melhora do poder de compra da população.
A taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2024 atingiu 7,9%, o mais baixo desde 2014, quando foi de 7,2%. Representando um aumento de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, que foi de 7,4%. Isso significa que mais pessoas estão empregadas e com renda disponível para consumo, impulsionando a demanda por bens e serviços e criando um ambiente propício para o crescimento dos negócios. Quanto aos rendimentos, a média salarial do trabalhador no primeiro trimestre de 2024 foi de R$ 3.123, registrando um aumento de 1,5% em relação ao trimestre anterior e de 4% em comparação com o primeiro trimestre de 2023. Essa alta na renda das famílias também contribui para a elevação do consumo e dos investimentos, impulsionando a economia como um todo.
A cotação do dólar frente ao real se manteve relativamente estável ao longo de 2024. Essa estabilidade cambial reduz incertezas para empresas que operam no mercado internacional e facilita o planejamento de investimentos. Variações bruscas na taxa de câmbio podem prejudicar os resultados financeiros das empresas e dificultar o planejamento a longo prazo. A política de preços da Petrobras tem procurado reduzir a volatilidade dos preços dos combustíveis no país. Essa estabilidade reduz os custos de produção e transporte para as empresas, contribuindo para manter a inflação sob controle e a retomada do crescimento econômico. A estabilidade dos preços dos combustíveis é importante para diversos setores da economia, pois impacta diretamente os custos de logística e produção.
Outro aspecto crucial nas projeções de crescimento econômico reside nos investimentos direcionados à reindustrialização do país. A iniciativa da Nova Indústria Brasil (NIB), lançada em janeiro de 2024 com um aporte de R$ 300 bilhões em financiamentos até 2026, marca um importante passo para impulsionar a indústria nacional. A NIB oferece uma série de incentivos, incluindo a redução de impostos, tais como isenção de IPI, PIS/Cofins e Imposto de Importação para bens de capital e insumos estratégicos, resultando em uma significativa diminuição dos custos de produção e tornando as empresas brasileiras mais competitivas no mercado internacional. Além disso, a NIB disponibiliza linhas de crédito com juros subsidiados, possibilitando financiamentos a taxas inferiores às praticadas no mercado para empresas que investem em modernização tecnológica, pesquisa e desenvolvimento, e expansão da capacidade produtiva. Isso não apenas impulsiona a inovação e a produtividade da indústria nacional, mas também fortalece sua competitividade global.
O plano de recuperação econômica apresenta perspectivas favoráveis para investimentos estrangeiros em setores estratégicos, como infraestrutura, agronegócio e energia renovável. No setor de infraestrutura, projetos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos despontam como atrativos, impulsionados pela necessidade de uma logística eficiente e retornos estáveis. O extenso território brasileiro oferece um ambiente propício para investimentos de longo prazo nessa área. Ademais, a produção agrícola do Brasil, reconhecida por sua competitividade e potencial de crescimento, continua a atrair investimentos em produção, beneficiamento e logística, especialmente diante da crescente demanda global por alimentos. Esse cenário se fortalece em períodos de conflitos ou bloqueios econômicos de grandes exportadores de grãos. Há, ainda, uma vasta oportunidade para o Brasil expandir sua oferta de alimentos orgânicos, atendendo à crescente preocupação global com a sustentabilidade e a qualidade dos alimentos. Por último, o país destaca-se como um dos principais produtores de energia renovável, oferecendo oportunidades significativas para investimentos em energia solar, eólica e hidrelétrica, apoiado por recursos naturais abundantes e políticas governamentais favoráveis ao desenvolvimento de energia limpa. Esses setores representam pilares fundamentais para o crescimento econômico sustentável do país.
Quanto ao cenário internacional, é necessário observar que a neutralidade do Brasil em conflitos internacionais é um componente fundamental de sua política externa e desempenha um papel crucial na atração de investimentos estrangeiros. Ao contrário de muitos países que enfrentam envolvimentos militares em disputas regionais ou globais, o Brasil mantém uma postura neutra e com boa relação diplomática com praticamente todos os países do mundo. A neutralidade do Brasil o posiciona como um potencial parceiro comercial para países envolvidos em conflitos militares. Em meio a disputas regionais ou globais, muitos países buscam diversificar suas fontes de suprimento e encontrar novos mercados para suas exportações. Nesse contexto, o Brasil se destaca como uma opção atraente, oferecendo estabilidade política e econômica, bem como acesso a uma ampla base de consumidores e recursos naturais.
A continuidade do crescimento econômico do Brasil depende da superação de desafios tanto no cenário interno quanto externo, com a necessidade de priorizar questões domésticas. A manutenção da estabilidade institucional, política e econômica, juntamente com a redução das taxas de juros, são elementos cruciais para sustentar expectativas positivas. No entanto, acentuada polarização política nos últimos anos tem minado a confiança nas instituições democráticas, dificultando a formulação de políticas públicas de longo prazo essenciais para um desenvolvimento sustentável. Esse cenário alimenta um discurso antidemocrático, comprometendo a confiança dos investidores e prejudicando o ambiente de negócios e o consumo, fundamentais para a retomada do crescimento. A adoção de medidas de austeridade fiscal em momentos delicados, como na recuperação econômica, pode gerar impactos adversos, como a redução de investimentos públicos, resultando em queda na atividade econômica e aumento do desemprego, afetando negativamente o crescimento a longo prazo.
Apesar desses desafios, o aumento dos investimentos diretos no Brasil reflete um ambiente propício aos negócios, impulsionado por melhorias em vários setores. A melhoria do ambiente de negócios, o cenário econômico favorável, a atração de investimentos estrangeiros, o foco em setores estratégicos e a estabilidade macroeconômica demonstram o potencial do país como destino atrativo para investimentos. Continuar com reformas estruturais e a consolidação desses avanços oferece ao Brasil a oportunidade de se tornar um polo de crescimento econômico sustentável e com projeção global.
Euzébio Jorge Silveira de Sousa é professor de Economia na FESPSP e Strong Business School. Pós-doutorando na UFRGS e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp.