A importância das cidades resilientes para se lidar com as tragédias climáticas
Não podemos ficar reféns de um problema que já sabemos que irá acontecer. Nas próximas chuvas de verão, sonho que nenhuma pessoa mais será vítima dessas catástrofes
As águas de março fecharam o verão. Porém, o outono iniciou-se com chuvas em diversas regiões do país, sendo que algumas já com problemas bastante significativos. É importante lembrar que, como de costume, no ano que vem, o período de chuvas abundantes retornará. Pensar em obras estruturantes neste momento de estiagem é fundamental para minimizar e, quiçá, evitar futuras tragédias climáticas. Nesse sentido, vem ganhando cada vez mais espaço o debate sobre cidades inteligentes e resilientes. A discussão soma muito, porém, o problema vai muito além de focar no tema somente quando as tragédias estão acontecendo.

Somente em 2023, por exemplo, foram mais de mil desastres causados pelas chuvas no país, somando 132 mortes, 9.263 pessoas feridas ou enfermas e 74 mil desabrigadas. Os dados foram levantados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Além disso, devido a esses desastres, foram gastos cerca de R$25 bilhões em recuperação de áreas públicas e privadas.
Os dados estão por todas as partes, e os relatos também. O problema das chuvas, infelizmente, já entrou no calendário brasileiro. Sabendo que, de dezembro a março, pessoas vão sofrer e morrer com esse tipo de impasse, muito pouco no sentido de engenharia de infraestrutura tem sido feito para erradicar o problema. Não adianta colocar a culpa nas pessoas que moram em áreas de risco, pois o imbróglio é muito maior e respinga nos planos diretores de cada município.
Então, o que fazer? Implementar políticas públicas efetivas é o primeiro passo. Mas, do ponto de vista de engenharia, é preciso inovar os aparatos técnicos para que se possa ter resultados mais efetivos na implementação dessas tecnologias. Apenas dessa forma será possível analisar qualitativa e quantitativamente os riscos geológicos, geotécnicos e hidrológicos de cada região do país e, para além disso, tomar medidas definitivas de redução de riscos.
Nesse sentido, a engenharia tem papel fundamental ao implementar projetos e obras de drenagem e de redução de risco (contenções), além de adotar sistemas de monitoramento remoto e automatizado com alerta automático nos casos de risco iminente de deslizamento de terra ou enchentes. Também é sua tarefa traçar planos de evacuação definidos com a população treinada, aumentando, assim, a segurança das pessoas, bem como a qualidade de vida de quem sofre ano após ano com as chuvas. Quando pensamos em cidades resilientes, estamos falando exatamente dessas mudanças estruturais e estruturantes, aplicando o conhecimento e as tecnologias para proteger as pessoas antes que os eventos climáticos e as tragédias sejam irreversíveis.
O caminho é longo, mas, quando já sabemos o que fazer, o próximo passo é implementar, fazer os projetos e as obras, botar a mão na massa. Não podemos ficar reféns de um problema que já sabemos que irá acontecer. Nas próximas chuvas de verão, sonho que nenhuma pessoa mais será vítima dessas catástrofes.
Luciano Machado é engenheiro civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, especialista pós graduado em geotecnia pelo Instituto Brasileiro de Educação Continuada (INBEC), filósofo pela Universidade Cruzeiro do Sul e sócio fundador da MMF Projetos.