Como será a Constituição do Chile?
Tendo por muito tempo feito o papel de vitrine do neoliberalismo, o Chile não para de decepcionar seus admiradores de outrora: em poucos anos, esse campeão das desigualdades retomou as mobilizações populares, elegeu um presidente de esquerda e embarcou em um processo de redação de uma nova Constituição, que vai substituir o texto herdado da ditadura
Na manhã de 11 de outubro de 2019, uma estudante do ensino médio pulou a catraca do metrô de Santiago. Ela foi logo seguida por dezenas, depois centenas de jovens nas estações subterrâneas da capital chilena. A onda de estudantes protestava contra o aumento do preço do transporte público decretado por um grupo de tecnocratas, que deveria entrar em vigor cinco dias antes. Era a faísca que faltava para detonar a explosão. Em 18 de outubro, o país berço do neoliberalismo viu inflamar-se uma revolta popular que se espalhou por todo o território, durante vários meses, até alcançar duas vitórias: um processo constitucional que modifica o equilíbrio de forças na sociedade chilena e a chegada ao poder de um governo de transformação social. O jovem presidente Gabriel Boric foi eleito em 19 de dezembro de 2021. E a data escolhida para o referendo sobre o projeto de nova Constituição –…