Entenda o banquetaço
A inciativa, prevista para o dia 16 de novembro em São Paulo, conta com o apoio de chefs de cozinha renomados, além de críticos de gastronomia, como Alex Atala, Bel Coelho, Helena Rizzo, Mara Salles, Ivan Ralston, Nina Horta, Josimar Melo e dezenas de outros que assinaram manifesto de apoio à causa.
Banquetaço é o nome dado para um ato público a se realizar no dia 16 de novembro, diante do Teatro Municipal de São Paulo, a partir do meio dia, com o objetivo de sensibilizar a opinião pública e entidades da sociedade civil para o problema da alimentação popular na capital.
Esta questão se tornou sensível especialmente após a prefeitura de São Paulo anunciar, um mês atrás, um convênio com uma entidade privada que fazia lobby para adoção, pelo poder público, de um alimento ultraprocessado a ser servido à população de rua e incluído na alimentação escolar. Esse alimento, produzido a partir dos descartes de alimentos vencidos ou inservíveis de mercados, restaurantes e indústrias, teve sua justificativa apoiada também na necessidade de dar destino a parte do lixo urbano, desonerando dos custos correspondentes as empresas que aderissem ao programa.
Título: Gravura 7103
Autor: Fayga Ostrower
A reação a essa proposta, considerada mirabolante, degradante e humilhante, foi a rápida mobilização de centenas de pessoas de várias entidades (ONGs) e pequenos produtores de agricultura urbana no município de São Paulo e arredores, com o objetivo de evidenciar que existem alternativas saudáveis, orgânicas e de baixo custo para a alimentação popular.
O que unificou essas pessoas em torno do propósito de realizar um ato público de repúdio à intenção do prefeito foi a convicção de que existem alternativas técnicas, fruto de discussão ampla entre especialistas em saúde, nutrição e tantas outras áreas garantidoras da segurança alimentar. Apesar dessas soluções estarem consolidadas no 1º Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional: 2016-2020, que conta com leis avançadas como a Lei de Orgânicos na Alimentação Escolar (Lei 16.140/2015) e o Programa de Agricultura Urbana e Periurbana de São Paulo (PROAURP – Lei 13.727/2004), que são indutoras da abundância e da dignidade na cidade, a prefeitura, na atual gestão, tem descuidado da implementação das medidas ali preconizadas a ponto de cortar 92% do orçamento previsto para projetos de abastecimento e segurança alimentar e nutricional na cidade para o ano que vem.
Para chamar a atenção para essa situação crítica e deixar claro o repúdio ao tratamento meramente “nutricionista” das questões alimentares, os organizadores do Banquetaço pretendem mostrar, em espaço público, como se pode produzir boa alimentação a partir de produtos da agricultura orgânica, sustentável e justa.
A inciativa conta inclusive com o apoio de chefs de cozinha renomados, além de críticos de gastronomia, como Alex Atala, Bel Coelho, Helena Rizzo, Mara Salles, Ivan Ralston, Nina Horta, Josimar Melo e dezenas de outros que assinaram manifesto de apoio à causa.
No dia do Banquetaço será montada uma mesa e servidas comidas feitas com produtos da agricultura orgânica, preparadas por cozinheiros profissionais, com o objetivo de congraçamento com o público-alvo das políticas em questão. Seus organizadores defendem que a alimentação é um conduto de integração social, vivificação cultural e solidariedade humana – que vai da agricultura ao prato – e, portanto, bem diverso do que propõe a mera nutrição, como se o homem fosse um animal como outro qualquer. A alimentação de qualidade é, ao contrário, um direito humano básico.
Banquetaço é um ato de solidariedade com aqueles que necessitam do fornecimento de alimentação pública, um congraçamento em torno da mesa com vistas à inclusão social.
*Carlos Alberto Dória é sociólogo.