Evento total, crise editorial
Já esgotados pela pressão do cronômetro e da audiência, os procedimentos de seleção e de verificação afrouxaram. Imagens e testemunhos próprios para provocar emoção (refugiados, crianças chorando) formam o grosso de uma produção jornalística à qual os envolvidos são chamados a “reagir”
“Jornalistas, apresentadores, cronistas, repórteres, estejam no cenário da guerra ou em Paris, no coração da atualidade, todos unidos e solidários pela Ucrânia.” Esse anúncio da France Télévisions de 4 de março de 2022 resume a midiatização na França das duas primeiras semanas da guerra conduzida pela Rússia na Ucrânia. Não se trata mais de informar, mas de mobilizar. Diante de um conflito internacional, as mídias devem muitas vezes fazer uma escolha: desviar os olhos, como no Iêmen, na Palestina, em Donbass, no Tigré (Etiópia), ou colocar em cena os exércitos ocidentais voando em socorro de um povo oprimido, como no Kosovo e no Iraque. Desta vez os atores são diferentes, e o espetáculo impressionou toda a sociedade. Do velódromo de Marselha ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, os monumentos arvoram as cores da bandeira ucraniana, como também o aplicativo TodosAntiCovid (25 fev.) e as roupas dos tenistas franceses que enfrentaram…