Face às ameaças externas, Embraer decola entre membros europeus da Otan
Inquietos com a continuação da invasão russa à Ucrânia e pensando em missões humanitárias, países europeus têm aumentado os efetivos de defesa e renovado a compra de equipamentos militares
Milhares de pessoas saíram às ruas de Bruxelas, em 21 de julho, para celebrar o Dia Nacional da Bélgica. Entre as atividades, um desfile civil e militar serviu para apresentar a renovação dos veículos e das aeronaves da Defesa belga e recordar que a Aliança do Tratado do Atlântico Norte (Otan) cumpre 75 anos este ano, com 29 membros europeus, além dos Estados Unidos, Canadá e Turquia.
Inquietos com a continuação da invasão russa à Ucrânia, que já dura mais de dois anos, e pensando nas missões humanitárias e de paz ao redor do globo, diversos países europeus têm aumentado os efetivos de defesa com o recrutamento de jovens e renovado a compra de equipamentos militares. Nesse contexto, a decisão de novas aquisições tem representado um aumento de pedidos para a multinacional Empresa Brasileira de Aeronaves (Embraer).
Um EMB-121 Xingu da Embraer, conhecido por ser o avião de treinamento no qual todos os pilotos de transporte franceses e belgas são treinados desde 1983, foi um dos destaques do desfile aéreo em Bruxelas. O “Xingu” apresentado pertence à França e integrou o cortejo de 13 modelos de aeronaves, incluindo um avião radar Awacs da Otan.
“Avião radar que se enquadra nos 75 anos da Otan que celebramos este ano,” completou a ministra da Defesa belga Ludivine Dedonder ao canal televisivo de Bruxelas BX1, destacando que o desfile também serviu como “uma demonstração da renovação da defesa belga”.
Feira militar no Reino Unido
Um dia depois do voo do bom e velho “Xingu” na capital europeia, o ministério da Defesa dos Países Baixos assinava, em 22 de julho, a compra de nove aeronaves C-390 Millennium da Embraer durante uma cerimônia no Farnborough Airshow, no Reino Unido. Como parte do projeto “Substituição da Capacidade de Transporte Aéreo Tático’”, o contrato representa uma compra conjunta com a Áustria: cinco aeronaves seguem para a Força Aérea Real Holandesa e quatro para a Força Aérea Austríaca.
“Este é um bom exemplo de colaboração na Europa entre países. O apoio construtivo da Embraer desempenhou um papel crucial na concretização positiva deste acordo”, disse o Vice-Almirante Jan Willem Hartman, Diretor Nacional de Armamentos dos Países Baixos. Em 2022, o C-390 foi o único candidato aprovado pelo Ministério da Defesa holandês.
Com esse pedido, ambos os países pretendem aumentar a capacidade de mobilizar ou evacuar rapidamente equipamentos e pessoal em todo o mundo, mesmo sob condições operacionais difíceis. A aquisição também permite que as nações cooperem “na formação, na logística e no crescimento futuro da plataforma, juntamente com outros operadores de C-390 nos países da Otan,” afirma a multinacional brasileira em comunicado.
O modelo da Embraer passa a integrar sete forças aéreas: Brasil, Coreia do Sul, Portugal, Hungria, Países Baixos, Áustria e República Tcheca –sendo os cinco últimos países europeus membros da Otan.
Manutenção da Paz e novos pedidos
Em entrevista à reportagem por telefone, o vice-presidente comercial da Embraer, Federico Lemos, recordou que a Embraer tem um longo histórico de participação na defesa da Europa. “Estamos vivendo um grande emprego das soluções da Embraer na Defesa das nações europeias,” declarou. Para o executivo, os principais fatores que levam a essa escolha têm a ver com a tecnologia, a eficiência e o custo dos equipamentos.
O C-390 Millennium pode transportar mais carga útil (26 toneladas) em comparação com outras aeronaves de transporte militar de médio porte, além de voar mais rápido (470 nós) e mais longe, considerado ideal para realizar transporte e lançamento de cargas e tropas; evacuação aeromédica (busca e salvamento); combate a incêndios e missões humanitárias de emergência, pois opera em pistas não pavimentadas, em superfícies como terra compactada e cascalho. Assim, o desejado avião da Embraer fornece suporte logístico tanto em operações de defesa, quanto em missões de paz.
A atual frota de aeronaves C-390 em operação acumula mais de 13.000 horas de voo, com disponibilidade operacional de 93% e taxas de conclusão de missão acima de 99%, considerada “excepcional” pelo mercado.
Além desse modelo, Federico revela que a Embraer tem percebido um aumento no interesse pelos A-29 Super Tucanos, que servem para o treinamento avançado de pilotos; o ataque leve ou contra-insurgência; e a vigilância e reconhecimento armado. No Reino Unido, a aposta para o treinamento de pilotos das Forças Armadas é o Embraer Phenon-100.
“Nós sempre vemos a Defesa como um instrumento de manutenção de paz,” ressaltou Federico. “Forças armadas capazes, bem equipadas com a tecnologia certa, garantem a manutenção da paz. Vemos que as soluções de defesa da Embraer apoia missões humanitárias, de interesse civil e apoia as Forças Armadas,” ponderou.
Viviane Vaz é jornalista e escreve de Bruxelas para o Le Monde Diplomatique Brasil.