Milei é um desejo de choque
Diante da “impotência de Estado” da coalizão governista, o candidato da extrema direita Javier Milei promete, usando a expressão canônica, um exercício de vontade. Sua ascensão também é resultado do fracasso do gradualismo
A irrupção de Javier Milei [pré-candidato de extrema direita nas eleições presidenciais argentinas de outubro] e sua rápida transformação de debatedor de televisão em candidato competitivo são consequências do mal-estar profundo de uma sociedade colocada contra as cordas por uma década de recessão, pelo desespero de não saber de onde virá o próximo golpe e pela angústia causada pela inflação. Novos fenômenos sociais, como o trabalhador pobre que tem emprego estável mas não consegue fechar as contas no final do mês, ou a expansão do trabalho autônomo nos campos da economia digital, do comércio eletrônico e do delivery, completam o quadro que a pandemia agravou: se as origens do macrismo podem ser rastreadas até as mobilizações rurais de 2008, o surgimento do mileísmo se encontra nas marchas anti-quarentena e em sua demanda por liberdade. A sociedade está sofrendo uma mutação acelerada. São correntes submarinas que mal conseguimos vislumbrar na superfície. …