Na Índia, a maior greve do mundo
Em plena crise sanitária, o governo indiano promulgou três decretos para uma brutal desregulamentação do sistema público alimentar e agrícola. Desde sua aprovação pelo Parlamento, em meados de setembro de 2020, essas leis suscitaram um movimento de protesto inédito em todo o país, marcando o fim de um pacto moral entre governo e campesinato
No final de novembro de 2020, centenas de milhares de camponeses instalaram-se às portas da capital indiana, Nova Déli, determinados a dobrar o governo. Não é a primeira vez que os agricultores ganham os holofotes da mídia e da política na Índia, seja por causa de tragédias como inúmeros suicídios, seja em razão do combate aos organismos geneticamente modificados (OGM) ou da luta contra a expropriação.1 Dessa vez, porém, sua quantidade, sua determinação, seus modos de ação e a mobilização de grande parte da sociedade contra as políticas do primeiro-ministro Narendra Modi conferiram um novo caráter a essas manifestações. A aprovação de três leis, propostas pelo governo no início de junho e aprovadas pelo Parlamento em meados de setembro, atiçou a fúria de um setor já muito afetado: de 1951 até 2011, sua participação na população ativa passou de 70% para 48%. Enquanto Ashok Gulati, reconhecido especialista indiano e defensor…