Nada detém as iranianas
O respeito do Irã ao Tratado sobre a não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) traz consigo a suspensão progressiva das sanções internacionais. A abertura comercial e suas repercussões políticas influenciarão as eleições legislativas de fevereiro.Florence Beaugé
Um grupo de garotas adolescentes entra rindo no vagão e se acomoda alegremente no chão, já que não há lugares livres. Com os solavancos do trem, seus véus deslizam sobre os ombros, descobrindo o cabelo. Mas não importa: aqui só há passageiras. No metrô de Teerã, que começou a funcionar no final dos anos 1990, os vagões do início e do fim das composições são reservados às mulheres. Elas viajam neles “para ficar sossegadas”, dizem. O ambiente é descontraído. Os outros vagões são mistos. Jovens casais entram de mãos dadas, sem problemas.
Moderno e limpo, o metrô de Teerã permite ao mesmo tempo escapar da poluição e dos congestionamentos. Hoje há cinco linhas em serviço. As estações desfilam à nossa frente, batizadas com os nomes dos “mártires” da guerra contra o Iraque (1980-1988). O conflito, que fez quase meio milhão de mortos, acabou há 27 anos, mas o poder nunca para de cultivar sua memória.
O metrô ilustra as contradições da República Islâmica. Nele se encontram lado a lado roupas elegantes, de cores vivas, e trajes comuns surrados. Em média, cinco xadores pretos e severos – a vestimenta obrigatória para os funcionários da administração – para cada dois véus coloridos. Nenhuma pessoa hermeticamente coberta. E algumas cenas inesperadas: vendedoras ambulantes oferecem sutiãs, calcinhas, bolsas…
Trinta e seis anos após a Revolução Islâmica, apesar da legislação que lhes confere menos direitos do que aos homens, as mulheres desempenham um papel importante no Irã. Elas estão presentes em todos os setores, embora a maioria dos altos cargos da administração ainda lhes seja vedada. Em virtude de uma leitura estrita do Corão, elas não podem ser juízas em pé de igualdade com os homens nem interpretar os textos sagrados, mesmo se chegarem ao nível de aiatolá (o mais alto escalão do clero xiita). Mas podem ser arquitetas, empresárias, ministras… O Parlamento do país tem nove deputadas (todas conservadoras), e uma primeira embaixadora acaba de ser nomeada: em novembro de 2015, Marzieh Afkham assumiu seu posto em Kuala Lumpur. Nada é fácil: as mulheres precisam lutar para se impor e para ter seus direitos reconhecidos, principalmente em um país onde sofrem discriminações em todos os níveis.
Para se casar, trabalhar, viajar, abrir uma conta bancária ou receber uma herança, elas estão sujeitas a leis iníquas e dependem da boa vontade do chefe de família. Para se divorciar, por exemplo, a esposa, ao contrário do marido, precisa explicar sua decisão perante o juiz e aguardar a autorização. As crianças ficam sob sua guarda até os 2 anos de idade, no caso dos meninos, e até os 7, no caso das meninas. Depois a guarda passa para o pai, a menos que este a recuse. Quanto à autoridade parental, ela retorna ao pai, mesmo que as crianças vivam com a mãe. “Na lei, o homem é rei”, resume Azadeh Kian, professora de Sociologia Política.
Escolarização, a maior conquista da revolução
Os dados oficiais subestimam o trabalho das mulheres: apenas 14% teriam emprego. Na realidade, considerando-se o trabalho clandestino e a agricultura, entre 20% e 30% das mulheres exercem uma atividade regular. E isso é apenas o começo. A demanda feminina para integrar o mercado de trabalho aumenta rapidamente. Nas universidades, 60% dos estudantes são mulheres. “Elas venceram a batalha pela licenciatura e o mestrado. Em breve ganharão a do doutorado”, prevê o antropólogo Amir Nikpey. Para ele, as iranianas estão quase na situação das francesas da década de 1940 e 1950: presentes em toda parte no espaço público, mas sem poder real, com poucas exceções, e normalmente no nível mais baixo do ponto de vista econômico.
Ano após ano, elas conquistam novos bastiões. “É o país que forma o maior número de engenheiras”, destaca Kian, antes de lembrar que Maryam Mirzakhani, a primeira mulher a ganhar a Medalha Fields (equivalente ao Prêmio Nobel de Matemática), em 2014, era iraniana. “Nas províncias do Sul, particularmente no Baluquistão, predominantemente sunita [ao passo que o Irã é 90% xiita], a cultura árabe, mais machista, prevalece. Há inclusive muitos casos de poligamia, enquanto os iranianos são geralmente monogâmicos. Mas, também lá, o papel das mulheres está crescendo. É uma evolução global da sociedade”, indica Thierry Coville, economista. “A mudança mais notável no Irã é a tomada de consciência da importância da educação como meio de conquistar a independência”, confirma Kian.
Muita gente não sabe, mas a escolarização das meninas foi certamente a principal conquista da Revolução Islâmica, em 1979. “Paradoxalmente, as famílias tradicionais aceitaram isso, afinal se tratava da República Islâmica! Quando vou às aldeias remotas, os homens me dizem: ‘O aiatolá Khomeini mandou as mulheres para o front e as meninas para a escola. Eu faço o mesmo!’”, explica a socióloga da religião Sara Shariati, professora da Universidade de Teerã.
Primeira consequência: as mulheres se casam mais tarde e, principalmente, têm em média apenas dois filhos, contra sete nos primeiros anos da Revolução Islâmica, marcada por uma política natalista. As autoridades vêm frequentemente a público lembrar que seria melhor haver 100 milhões de iranianos do que os atuais 78 milhões, mas as mulheres fingem não ouvir.
“Mesmo durante os anos Ahmadinejad,1 não voltamos atrás. Continuamos avançando, como um carro que anda com os faróis apagados à noite”, brinca Shahla Sherkat, diretora da revista feminina Zanan Emrouz. Sua publicação sofreu uma suspensão de seis meses por ter dedicado um número a um tema “quente”: a união livre. Seriam várias dezenas de milhares de pessoas em Teerã vivendo em concubinato. A união livre difere do “casamento temporário”, permitido pelos xiitas, embora malvisto e pouco praticado no Irã. “Evitamos fazer julgamentos em nossa reportagem; de maneira alguma encorajamos a união livre e até alertamos sobre seus riscos”, argumenta Sherkat. Mas os conservadores protestaram, e a sanção foi aplicada.
Quando a diretora da Zanan Emrouz foi convocada pela justiça, foi primeiro acusada de ser “feminista” – um insulto no Irã. Para se defender, afirmou estar apenas “refletindo a realidade” da sociedade iraniana. Em vão. “O problema no Irã é que as instituições e os homens pensam que, se reivindicarmos nossos direitos, acabaremos negligenciando nossos papéis de mãe e esposa”, suspira.
Art Up Man é um café badalado no centro de Teerã. A capital tem muitos lugares da moda, aonde os jovens vão para “descontrair”, como diz uma estudante de Direito, mostrando o cigarro. Moças e rapazes conversam em pequenas mesas, enquanto teclam em seus smartphones. De fundo, canções de Elvis Presley. Yeganeh K., estudante de Microbiologia, com os lábios cor de framboesa e as unhas pintadas de preto, diz alto e claro que o regime não é “digno de confiança” e que é preciso “mudar tudo, a começar pelo nome ‘República Islâmica’”. As eleições legislativas do dia 26 de fevereiro só lhe inspiram desdém. “Em outros lugares, é possível escolher seus representantes. Aqui não. Há sempre alguém que tem direito de observar tudo e que nos ‘guia’! Para mim, parece a Coreia do Norte!”, reclama.
Seus amigos se assustam. Rahil H., com penteado punk, protesta: “Absolutamente não! Aqui as pessoas são livres, apesar do aspecto policial do regime. Não temos muita liberdade de expressão ou de vestimenta, mas, no resto, fazemos o que queremos!”. Sorrosh T., com os óculos de sol colocados sobre o véu para mantê-lo no lugar, intervém: “Não são estranhas todas essas proibições. Toda vez que eu saio, meus pais me dizem: ‘Cuidado!’. Não é que aprovem, mas para eles é preciso levar em consideração a sociedade, o sistema”. Uma coisa irrita essa garota mais que tudo: “Aqui, as pessoas têm sempre o direito de observar o que você faz”.
O véu está longe de ser a principal preocupação das iranianas. “É assim”, dizem, convencidas de que não vale a pena se aborrecer por tão pouco. O desemprego, a inflação e o exame de admissão para a universidade preocupam muito mais.
Todos os dias, Yeganeh K. diverte-se com suas amigas contornando as regras impostas pelo poder, como se brincasse de gato e rato. No verão, usa sandálias que permitem ver seus pés e tornozelos, e pinta as unhas com cores vibrantes, tudo estritamente proibido. No inverno, veste sapport, uma calça justa e grossa sobre a qual coloca uma saia curta. Se adicionar à composição um par de botas de cano alto, ela corre sérios riscos de ser repreendida pela polícia de costumes, que patrulha as esquinas e os centros comerciais do norte da capital, onde a juventude descolada gosta de passear. “Um dia, fui levada para a delegacia. Fui fotografada, pegaram minha identidade e me disseram: ‘Se fizer isso de novo nos próximos dois meses, você será fichada!’”, conta morrendo de rir. Ela sonha sair desse ambiente sufocante. Se tivesse oportunidade, iria embora para a Europa ou os Estados Unidos sem pestanejar.
Já Behnaz Shafie escolheu “ficar e agir”. Pequena, franzina, muito feminina e muito maquiada sob o véu, ela é, aos 26 anos, a primeira mulher a obter autorização para pilotar motocicleta profissionalmente. Enquanto as mulheres não são autorizadas nem a entrar nos estádios para assistir a competições de futebol disputadas por homens, ela ganhou o direito de entrar no Estádio Azadi, em Teerã, em sua moto de mil cilindradas. “Behnaz deslumbra o mundo!” – essa era a manchete de um jornal conservador no outono passado, quando ela voltou de Milão, onde foi convidada de honra em um encontro de motociclistas. Mas ela sabe: nada é garantido. Amanhã, um religioso conservador pode exigir que ela pare de se comportar como homem em um ambiente de homens. Enquanto isso, “abre caminho para as mulheres”, sem pressa, mantendo-se dentro da lei. “E tenho orgulho de ser iraniana”, acrescenta. Em Karaj, subúrbio de Teerã onde vive, ela chega a circular de moto. Quando os homens percebem que é uma mulher, às vezes buzinam para cumprimentar, às vezes gritam: “Volte para sua máquina de lavar roupa!”.
Às vésperas das eleições, o clima é particularmente pesado em Teerã. Toda noite, ou quase, o Guia Supremo aparece na televisão para dar seus conselhos. Advertências para que a população “não se deixe contaminar” pelo Ocidente. “Evite contato com estrangeiros”, aconselha o aiatolá Ali Khamenei. Desde o TNP, só aumentam as advertências do Guia e seus radicais, sinal de sua preocupação com a ideia de que, com a suspensão das sanções e a abertura por vir, a situação saia de seu controle. Há alguns meses, o aiatolá Ahmad Jannati, presidente do Conselho de Guardiães, um linha-dura de 88 anos, advertiu que o TNP não deveria abrir caminho para outras reivindicações: “Cuidado para que amanhã isso não traga à mesa a questão das mulheres e da igualdade de gênero!”.
Fariba Hachtroudi é daquelas que não se deixam intimidar. “Não faço provocações, mas digo em voz alta o que penso”, resume a conhecida escritora,2 que admite, rindo, “carregar no DNA a loucura desta terra”. Dividindo-se entre seu país natal e a França, para onde se expatriou na adolescência, ela desistiu de fazer política e optou por resistir por meio da escrita. Toda vez que volta ao Irã, constata que as mulheres ganharam terreno. “Em uma aldeia do Baluquistão, o conselho da cidade, inteiramente masculino, acaba de eleger uma prefeita. Exemplos como esse estão em todos os lugares!”, exclama.
Preocupação com as aparências
Teria a repressão brutal do “movimento verde”, nascido da reeleição contestada do presidente Ahmadinejad em 2009, aniquilado toda a militância, como muitos pensam? Hachtroudi discorda. “As mulheres ainda estão lá, na linha de frente, e continuam lutando, apesar da resistência. Elas não desistem!”, diz a escritora, destacando que as ONGs criadas pelas mulheres florescem em toda parte. Nos subúrbios de Teerã, surgiram lugares de acolhida para crianças de rua e portadores de HIV, além de centros de desintoxicação para alcoólicos, com a aprovação do governo. Um ponto de inflexão, pois até então as autoridades negavam problemas como o HIV e o alcoolismo.
Embora a luta das mulheres continue, ela é desorganizada e, muitas vezes, individual. Muito ocupadas em sobreviver a seu cotidiano, a maioria das iranianas esquece as figuras na vanguarda de sua luta: a advogada dissidente Nasrin Sotoudeh, a diretora Rakhshan Bani-Etemad, ambas sob alta vigilância, ou ainda a militante dos direitos humanos Narges Mohammadi, condenada a oito anos de prisão por “propaganda contra o regime”.
“Não podemos explicar por que não estamos felizes”, suspira a dona de casa de 40 anos que chamaremos de Farah. “É o ambiente. Amamos nosso país, mas o que nos falta é simplesmente ar!” Na Universidade de Ciência e Tecnologia Elm-o-Sanat, onde estuda seu filho, alto-falantes despejam todos os dias versos do Corão e instruções moralizantes. Os estudantes têm direito a várias semanas de celebrações: há a semana da guerra, a semana da Basij, a semana dos “mártires”… “É lavagem cerebral! Estamos fartos disso!”, pragueja Farah.
Já Mahboubeh Djavid Pour nem imagina reclamar dessa atmosfera de luto perpétuo. Ela é basij – literalmente, “membro da força de mobilização da resistência”, criada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. Esses voluntários são uma espécie de auxiliares da Guarda Revolucionária. Atualmente são estimados em 10 milhões. Seu estatuto confere-lhes muitos benefícios, como bolsas de estudos, emprego, entrada na universidade. Eles são temidos e até odiados pela população. As classes superiores os desprezam.
Membro da administração da mesquita de Imã Reza, em Teerã, Djavid Pour move-se segurando firmemente seu xador preto em torno de si, o que a faz lembrar uma madre superiora. Essa mulher de 54 anos, mãe de três filhos, orgulha-se de ser basij. Ela vê nessa função “uma forma de aplicação do islã”. O TNP não lhe desagrada, mas ela continua desconfiada dos Estados Unidos. Segundo ela, eles prosseguirão em sua campanha de difamação da República Islâmica, porém de forma mais insidiosa. “Felizmente, nós estamos agora muito esclarecidos e mais capazes de resistir às manobras norte-americanas”, diz, antes de acrescentar com gratidão: “Além disso, o Guia está aqui, ele nos ilumina e nos mostra o caminho”.
Farah, dona de casa que se diz ateia, preocupa-se com o que chama de “religiosidade de aparência”. A marca na testa que os homens adquirem de tanto se prostrar no chão – ou fabricam para parecerem pios –, a masbaha ostensivamente entre as mãos, tudo isso a exaspera. “Somos uma sociedade doente, dominada pela preocupação com as aparências e a hipocrisia. Não sei aonde isso vai nos levar”, diz.
A confirmação paradoxal de seu pessimismo: o número impressionante de operações estéticas solicitadas por mulheres iranianas. O nariz, a boca, as bochechas, os ossos da testa… Como presente de 18 anos, uma moça pode ganhar de seus pais uma rinoplastia. Em Teerã, narizes arrebitados e maquiadíssimas bochechas de Barbie surgem sob véus. Às vezes, um desastre. De onde vem esse fenômeno, que explodiu há cinco ou seis anos e afeta todas as camadas da sociedade? Ninguém consegue realmente explicar. Obsessão das mulheres pelo rosto, já que não podem mostrar o corpo e o cabelo…?
“Que a imagem do Irã seja reabilitada”
Em Qom, cidade sagrada do Irã, respira-se melhor que em Teerã. Estamos em pleno deserto. Aqui não há poluição, mas um clima seco que estufa o verão. Localizada 150 quilômetros a sudoeste da capital, a cidade de 1 milhão de habitantes é o principal centro de educação teológica do país – 5 mil mulheres estudam religião aqui –, além de ser um importante local de peregrinação. Ali está sepultada Fatemah Masumeh, irmã do oitavo imã xiita Reza, em um belo e imenso mausoléu. Na fachada dos imóveis, afrescos gigantes representando o aiatolá Khomeini relembram que o iniciador da Revolução Islâmica viveu muito tempo em Qom. Aqui não há roupas coloridas: todas as mulheres, sem exceção, usam o xador. Elas andam muito de mobilete, na garupa do marido, sem véu.
Hoje, 80 mil mulheres formadas em teologia difundem a boa palavra no Irã. Fariba Alasvand é “Eshtehot”, o mais alto grau de estudos teológicos. Ela ensina no Centro de Pesquisa sobre a Família e as Mulheres. Seus alunos são tanto homens como mulheres. “As mulheres do Irã são muito diferentes das do mundo árabe. Nós damos grande importância à nossa liberdade. Isso reflete a cultura iraniana e o xiismo”, diz ela desde o princípio. Sobre o uso obrigatório do hijab, ela hesita por um instante, sem dúvida, nas questões falsamente inocentes. “Um verso do Corão diz: ‘Use o hijab’. Ele protege as mulheres. Se abandonarmos essa regra do islã, abandonaremos outras”, finalmente lança.
Essa dona de casa de 60 anos, conservadora, chegou a viajar pela Europa e Estados Unidos para participar de conferências religiosas. Todas as vezes ela sentiu “o olhar negativo do Ocidente”, e sofreu com isso, como todas as iranianas. Para ela, os meios de comunicação são responsáveis por essa incompreensão. Seu medo: que a suspensão das sanções, “desejada por toda a população e pelo Guia”, acabe por escravizar o Irã. “O Ocidente quer entrar no Irã, mas recusa a recíproca”, lamenta. Seu desejo é que o país mantenha suas especificidades. “Nossa religião nos dá uma cultura e uma estrutura. Nossa liberdade deve ser exercida nos limites do Corão.”
Mais jovem, porém igualmente firme em seus princípios, Zahra Aminmajd também é formada em Direito Islâmico e professora em Qom. Sorridente, natural, ela acha que o cristianismo e o islã “têm muitos pontos em comum”, e lamenta que o Ocidente tenha “uma percepção tão ruim do islã, particularmente no que concerne às mulheres”. O que mais a preocupa? O consumismo ocidental, com o qual, segundo ela, sonham os iranianos. “Melhor que ficar esperando a suspensão das sanções seria trabalhar mais”, afirma.
Animada com o retorno do Irã à cena internacional, Sanaz Minai espera uma coisa acima de tudo: “Que a imagem do Irã seja reabilitada. Que seu valor perdido seja finalmente restaurado”. De calça jeans, salto alto e um lenço macio, ela é um modelo de sucesso. Já escreveu mais de vinte livros sobre culinária e cultura iraniana, abriu uma escola dedicada à arte de receber, o Culinary Club, e fundou a Sanazsania, que desponta orgulhosamente em primeiro lugar na venda de revistas culinárias. A suspensão das sanções abre-lhe perspectivas infinitas. Ela quer fazer do Irã “um polo culinário”, ao mesmo tempo “na moda e chique!”.
Nada parece poder deter outra empresária de sucesso: Faranak Askari. Em junho de 2013, a jovem estava em Londres, onde cresceu, quando ouviu o chamado do novo presidente Hassan Rohani: “Venha para o Irã!”. Dois meses depois, ela voltou para Teerã e lançou a Toiran (“To Iran”), uma empresa de serviços para turistas VIP e empresários. Paralelamente, montou um site com todas as informações possíveis sobre cinquenta cidades iranianas – uma espécie de guia de viagem on-line. Sucesso imediato.
“A maior ameaça ao regime”
Desde o acordo de 14 de julho de 2015, a Toiran vê suas reservas duplicarem a cada mês. Sua clientela é majoritariamente europeia. Uma urgência para Askari: que as transações bancárias entre o Irã e os países estrangeiros, proibidas nos últimos anos por causa das sanções ocidentais, sejam restabelecidas. A Toiran, como muitas empresas iranianas, tem suas receitas bloqueadas em Dubai. “Falta-nos liquidez. Para sobreviver, ficamos limitados à troca! Mas isso não pode durar: temos de levantar fundos, investir…”
Conhecida por sua franqueza, Shahindokht Molaverdi não hesita em se encontrar com jornalistas ocidentais, mas em nosso encontro manteve-se nos limites de um discurso pronto. Deve-se admitir que o contexto é difícil para ela. Nomeada há dois anos vice-presidenta da República encarregada das mulheres e da família pelo presidente Rohani, a jurista de 40 anos fica na defensiva. “É preciso haver mais mulheres nas assembleias”, diz. Ou: “Precisamos trazer mulheres para todas as esferas de poder”. Nem uma palavra mais alta do que a outra. É compreensível: entre a proximidade das eleições de 26 de fevereiro, a suspensão das sanções e a crise aberta com a Arábia Saudita, ela não pode permitir-se o menor desvio. Como é considerada próxima dos reformistas e feminista, os ultraconservadores a odeiam.
Mulheres, um grande problema no Irã? Sem dúvida. “O regime tem medo delas. Elas representam a maior ameaça contra ele”, garante um universitário que pede o anonimato. “Ele não sabe como lidar com elas, como combatê-las, como impedi-las de abrir novas brechas…” E a questão do véu, sem grande importância no fundo, é um símbolo. Como dizem as teólogas de Qom: “Se o abandonarmos, abandonaremos o resto”…
Florence Beaugé é jornalista.