Nota Pública da Escultura da Justiça no STF
No dia 13 de novembro, a Praça dos Três Poderes foi alvo de um ataque com explosivos
Eu, a Estátua da Justiça, permaneço imóvel, mas não sou insensível. Sou feita de pedra e de propósito, esculpida pelo mestre Alfredo Ceschiatti para vigiar, ponderar e representar os ideais que sustentam a República Brasileira.
Não carrego a balança das deusas Diké, Themis ou Justitia. Minha forma rejeita pesos aparentes, porquanto carrego em mim o equilíbrio como essência, não como medida visível. Seguro a espada, assim como Xangô segura o machado. A venda que cobre meus olhos assegura a imparcialidade que tanto almejamos, enquanto meu corpo sereno reflete a complexidade e a tensão de um país que busca, como eu, estabilidade entre extremos.
Recentemente, fui alvo de um ataque violento e desprezível que ameaçou não apenas meu invólucro de pedra, mas também a essência do que represento. Quiseram-me explodir – um gesto que, ao fragmentar meu corpo, visava dilacerar o próprio sentido de Justiça. Um ato concreto de aniquilação simbólica. Queriam transformar minha resistência concretista em pó, espalhar pelo vento a mensagem de que a Justiça não poderia se manter firme.
Não é a primeira vez que sou profanada. Já me picharam com palavras e gestos de ódio, tentaram transformar o que simbolizo em um alvo de desprezo.
No entanto, sou parte de um ideal que se reconstrói a despeito da ameaça, como o anel de Polícrates, que mesmo lançado ao mar, volta a mim pela barriga de um peixe pescado. Assim, mantenho-me sólida, relembrando aos que me observam que a Justiça, por mais alvo de ataques que seja, resiste.
Ceschiatti me concebeu serena, mas também potente. Sou mulher, expressão de equilíbrio e ordem, uma representação do que se almeja para a nossa democracia.
Não julgo; simbolizo. Aos que me atacam, o julgamento cabe às instituições que me cercam, enquanto eu, como testemunha, guardo acertos e falhas.
Enquanto eu existir – inteira ou fragmentada –, os ideais que represento continuarão a viver, resistindo ao que há de pior, em nome de algo maior.
Deixo aqui minha mensagem, não como pedra inerte, mas como um símbolo que não se pode destruir. Para os que me atacam, ofereço meu silêncio de rocha; para os que me defendem, minha vigília atenta.
Alcir Moreno da Cruz é Advogado Criminalista formado pela UFRJ e pós-graduado pela EMERJ e ESA/OAB