“Novas máscaras de João do Rio” reúne contos raros de importante escritor carioca
Dono de muitos pseudônimos e de produções consideradas referência, João do Rio ainda tem textos raros. Catorze deles estão reunidos em “Novas máscaras de João do Rio”, livro recém-publicado pela editora O Sexo da Palavra
Com uma vida breve, mas de profícua atividade intelectual, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, mais conhecido como João do Rio, foi um dos mais inovadores escritores brasileiros de seu tempo. Entre o final do século XIX e começo do século XX, escreveu reportagens, contos e crônicas em diversos veículos de comunicação e publicou obras de grande importância para a literatura brasileira, como “A alma encantadora das ruas” (1908), que reúne crônicas e reportagens focadas nas ruas do Rio de Janeiro, e “Dentro da noite” (1910), uma antologia de contos de terror com elementos brasileiríssimos e, por vezes, doses de humor.

Dono de muitos pseudônimos e de produções consideradas referência para leitores, escritores, professores, pesquisadores e jornalistas, João do Rio ainda tem textos raros, especialmente os descobertos há pouco tempo. Catorze deles estão reunidos em “Novas máscaras de João do Rio”, livro recém-publicado pela editora O Sexo da Palavra, dedicada exclusivamente a autores e autoras LGBTQIAP+.
A obra – que reúne contos publicados em jornais como Cidade do Rio e Gazeta de Notícias, entre 1900 e 1920 – foi organizada pelos professores universitários Fábio Figueiredo Camargo e Luiz Morando, após uma extensa pesquisa em jornais e arquivos da Biblioteca Nacional. Dos catorze textos ficcionais, nove aparecem pela primeira vez em um livro.
Ao longo das histórias, algumas das principais características do trabalho de João do Rio aparecem, uma a uma. Há, por exemplo, o humor satírico, o sadismo, os simbolismos do carnaval e, principalmente, uma investigação perspicaz sobre a natureza humana.
Para esse último fim, o escritor recorre a personagens complexos, em meio a dilemas, anseios e desejos. Há assassinos, prostitutas, repórteres e até mesmo um homem horrendo chamado de “Papa defuntos”, protagonista de uma narrativa capaz de arrepiar qualquer um.
Embora os contos contemplem o espaço temporal de 20 anos, ou seja, mais da metade da vida de João do Rio (que faleceu aos 39), todos eles demonstram uma maturidade impressionante do autor. Desde o mais antigo, “Ódio (Páginas de um diário)”, publicado em maio de 1900, o escritor já apresenta uma linguagem bem definida e uma trama bastante inventiva, marcada pela obsessão e por um sentimento intenso de origem confusa.
Assim, “Novas máscaras de João do Rio” não é importante apenas por reunir textos raros de um grande autor, mas, sobretudo, pela qualidade literária de cada um dos contos aqui reunidos.
O livro evidencia a natureza instigante e a criatividade pulsante de João do Rio e oferece a leitores e leitoras a oportunidade de descobrir e redescobrir a obra de um autor tão à frente de seu tempo que ainda hoje, mais de cem anos depois, seus textos parecem mais atuais (e necessários) do que nunca.
Bruno Inácio é jornalista, mestre em Comunicação e autor de “Desprazeres existenciais em colapso” (Patuá) e “Desemprego e outras heresias” (Sabiá Livros). Escreve sobre literatura no Jornal Rascunho e na São Paulo Review.
Com certeza um trabalho em que a dedicação e determinação, resultaram em trazer a público este relevante trabalho.